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"A profundidade do coração cresce com o silêncio"

Na próxima 6ª feira, 11 de março, vamos iniciar uma sequência de episódios semanais de meditação no podcast Fala, Chico!, que irão até o dia 15 de abril. Serão ao todo 6 episódios em que compartilharei algumas cartas da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (World Community for Christian Meditation - WCCM), que são publicados no site para dar apoio e nutrir os meditantes.

A meditação cristã, segundo o ensinamento de John Main, fundador da WCCM, é a fiel repetição de uma frase-oração, ou “mantra”, como John Main o chamava. Ele redescobriu esse modo de oração nos escritos dos primeiros cristãos, os Padres e Madres do Deserto, que no quarto século da nossa Era Comum retiraram-se principalmente para o deserto do Egito para viver uma vida cristã autêntica, baseada no ensinamento de Jesus.

A repetição fiel e amorosa dessa oração conduz-nos a uma quietude do corpo e da alma e ajuda-nos a entrar no silêncio que habita o centro do nosso ser. O famoso místico do século XIV, Mestre Eckhart, disse: “Nada descreve Deus tão bem quanto o silêncio”. Lá no verdadeiro centro do nosso ser habita Cristo, e lá nós entramos na oração de Jesus.

Enquanto preparo os episódios de meditação, preparo também uma série de catequeses que o Papa Francisco fez sobre São José, que teve início em novembro do ano passado e que foi concluída neste ano. Minha programação é de publicá-las todas no dia 19 de março, dia de São José. Deus me capacite a cumprir este propósito, pela intercessão de São José.

Na 4ª catequese sobre o esposo de Nossa Senhora, Papa Francisco medita a virtude do silêncio em São José, que na Bíblia não teve uma palavra sequer registrada, mas que fala alto aos nossos corações através das suas atitudes. Para nos prepararmos para o nosso primeiro episódio de meditação, compartilho parte desta catequese com vocês.

Como seria bom se cada um de nós, seguindo o exemplo de São José, conseguisse recuperar esta dimensão contemplativa da vida aberta precisamente pelo silêncio. Mas todos sabemos por experiência que não é fácil: o silêncio assusta-nos um pouco, porque nos pede para entrarmos em nós mesmos e encontrarmos a parte mais verdadeira de nós. Muita gente tem receio do silêncio, deve falar, falar, falar ou ouvir rádio, televisão…, mas não pode aceitar o silêncio porque tem medo. O filósofo Pascal observou que «toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa: não saber ficar tranquilo num quarto» (Pensamentos, 139).

Queridos irmãos e irmãs, aprendamos de São José a cultivar espaços de silêncio, nos quais possa surgir outra Palavra, isto é, Jesus, a Palavra: a do Espírito Santo que habita em nós e que traz Jesus. Não é fácil reconhecer esta Voz, que muitas vezes se confunde com os milhares de vozes de preocupações, tentações, desejos e esperanças que nos habitam; mas sem este treino que provém precisamente da prática do silêncio, até a nossa fala pode adoecer. Sem a prática do silêncio o nosso falar adoece. Ele, em vez de fazer resplandecer a verdade, pode tornar-se uma arma perigosa. De facto, as nossas palavras podem tornar-se adulação, jactância, mentira, maledicência, calúnia. É um dado da experiência que, como nos lembra o Eclesiástico, «a língua mata mais do que a espada» (28, 18). Jesus disse-o claramente: quem fala mal do irmão ou da irmã, quem calunia o próximo, é homicida (cf. Mt 5, 21-22). Mata com a língua. Não acreditamos nisto, mas é a verdade. Recordemos as vezes que matamos com a língua, envergonhar-nos-íamos! Contudo, far-nos-á muito bem, tanto bem.

A sabedoria bíblica afirma que «morte e vida estão no poder da língua: quem fizer bom uso dela comerá o seu fruto» (Pr 18, 21). E o apóstolo Tiago, na sua Carta, desenvolve este antigo tema do poder, positivo e negativo, da palavra com exemplos impressionantes, diz assim: «Se alguém não peca pela palavra, esse é um homem perfeito, capaz de dominar o seu corpo [...] a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas [...] Com ela bendizemos a Deus Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição» (3, 2-10).

Por este motivo, devemos aprender de José a cultivar o silêncio: aquele espaço de interioridade nos nossos dias nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir. Não estou a dizer que devemos cair num mutismo, não, mas devemos cultivar o silêncio. Cada um olhe para dentro de si mesmo: muitas vezes estamos a fazer um trabalho e quando terminamos procuramos imediatamente o telemóvel para fazer outra coisa, somos sempre assim. E isto não ajuda, faz-nos escorregar para a superficialidade. A profundidade do coração cresce com o silêncio, um silêncio que não é mutismo, como eu disse, mas que deixa espaço à sabedoria, à reflexão e ao Espírito Santo. Por vezes temos medo dos momentos de silêncio, mas não devemos recear! O silêncio far-nos-á muito bem. E o benefício para os nossos corações curará também a nossa língua, as nossas palavras e, sobretudo, as nossas escolhas. Com efeito, José uniu o silêncio à ação. Ele não falou, mas fez, e assim mostrou-nos o que Jesus disse outrora aos seus discípulos: «Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos Céus» (Mt 7, 21). Palavras fecundas quando falamos e temos a recordação daquela canção “Parole, parole, parole…” [“Palavras, palavras, palavras…”] e nenhuma substância. Silêncio, falar o suficiente, às vezes morder a língua um pouquinho, que faz bem, em vez de dizer parvoíces.

Espero por vocês em nosso primeiro episódio de meditação, na próxima 6ª feira.

Eugênio Telles

Eugênio Telles

Eugênio Telles é catequista em constante formação, publicitário, empreendedor, podcaster e foi coordenador da Pastoral da Comunicação no Santuário da Divina Misericórdia e no Vicariato Suburbano da ArqRio.

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