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FC!#351 - Definição da Liturgia - Meu Livro de Liturgia (Con. Hilário Wijten O. Prem., 1955)

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A palavra "liturgia" tem sua origem no grego. A sua etimologia dá ideia duma obra feita em favor do povo, duma obra em favor do bem geral. Em quase todas as cidades da antiga Grécia, principalmente na culta Atenas, entendia-se por "liturgia" qualquer encargo imposto aos cidadãos, principalmente aos melhor aquinhoados pela fortuna, com o fito de, custear serviços públicos. Assim vemos que, no sentido particular, "liturgia" significa serviço público custeado por cidadãos de alta sociedade, que para si conservavam apenas a honra de para ele terem concorrido.

Tal encargo concedia ao cidadão a dignidade de ter concorrido para que um serviço público fosse realizado quer no âmbito de uma cidade, quer em todo o país. Era uma dignidade temporal que, em tempo de paz, se revestia de grande distinção e grande honra. Aos que a alcançavam competia, por exemplo: a direção de um coro ou de um corpo de dança, a organização duma festa pública, a chefia duma delegação que representasse as autoridades civis duma cidade, em festas nacionais (como os Jogos Olímpicos), a consulta do oráculo de Delfos; a apresentação, em seu nome, de uma oferta no templo.

No século IV a. C., Aristóteles usava, no seu "Politicon", a palavra "liturgia" para designar tanto o serviço do Estado como o culto dos deuses.

É, porém, preciso observar que nesta última acepção da palavra "liturgia" já não estava o interesse público nas mãos dum particular, mas passara a todos os cidadãos.

No último século a. C., observa o historiador Dionísio de Halicarnasso, é que as mulheres e as crianças das famílias sacerdotais exerciam os ofícios de segunda ordem.

Por isso, a palavra "liturgia", empregada antes para indicar uma instituição política, peculiar à Grécia, pode ser empregada no sentido religioso, porque a religião nesse país era a primeira e a mais cuidada das instituições do Estado.

A "liturgia" era um ofício temporal e honroso, dado temporariamente a um cidadão de alta classe social para realçar a magnificência das solenidades religiosas. Na decadência da Grécia, a palavra "liturgia" perdeu a significação que tinha na "era clássica".

Pela origem política, a palavra "liturgia" conserva uma relação necessária com as instituições religiosas e os ofícios sacros, sendo, na Grécia, a parte mais comum do culto dos deuses.

A Idade Média toma a palavra "liturgia" na sua verdadeira significação de: relação necessária com as instituições religiosas e os ofícios sacros, e, então, vemo-la introduzida na linguagem eclesiástica.

Dada, de forma bem resumida, a explicação etimológica, resta-nos definir a palavra "liturgia" em seu sentido religioso.

A "liturgia" é o culto exterior e público que a santa Igreja, como sociedade pública, presta a Deus, nos seus atos, sacrifícios e sacramentos, como as cerimônias, bênçãos, leituras e cânticos. Tudo isso em formas exteriores sobre as quais o Espírito Santo estende suas graças e bênçãos: "Nam quid oremus, sicut oportet, nescimus, sed ipse Spiritus postulat pro nobis gemitibus inenarrabilibus", diz São Paulo. "Porque nem sabemos como deve­mos rezar dignamente, é o mesmo Espírito Santo que reza por nós com gemidos inenarráveis".

À primeira vista, parece estranho que uma oração vocal, feita em público, em uma vasta igreja, com um grande aparato exterior e no meio duma multidão compacta, tenha um lugar tão preponderante na vida cristã. Talvez sejamos tenta­dos a dizer que a oração mental, mais libertada dos sentidos e feita no recolhimento dum quarto, é, por sua natureza, capaz de produzir melhores frutos de santificação. Todavia, o santo sacrifício, a sagrada comunhão, os sacramentos e o divino ofício são os mais legítimos atos da virtude de religião, e a Igreja pratica-os em sociedade.

Para isso é necessário que tais atos sejam ao mesmo tempo interiores, exteriores e coletivos, porque o homem é essencialmente composto de corpo e alma; é, além disso, um ente social que de modo nenhum pode ser afastado do meio em que deve viver. Como não podemos conceber sociedade sem autoridade, não podemos também imaginar o culto sem a chefia que naturalmente tem. Sob todos estes aspectos, o culto da Igreja, isto é, a "liturgia", é superior ao culto privado e é verdadeiramente fonte primária e indispensável do espírito cristão" (Liturgia, Princípios fundamentais, D. Gaspar Lefebvre. Trad. de A. C., p. 13).

Devemos, portanto, concluir que a própria razão declara que o culto, a homenagem prestada ao Criador por sua criatura, deve reunir três condições: ser interior, exterior e público.

O culto interior é a homenagem, prestada a Deus, com o espírito e o coração, e consiste em sentimentos de fé nos ensinamentos divinos, de amor para com o nosso Benfeitor, e de esperança e submissão à bondade divina.

Pelo culto exterior, externamos os sentimentos, pelas orações vocais, pelas posições suplicantes, pelas cerimônias e cânticos.

O culto público é a homenagem prestada a Deus, pela sociedade como tal. Assim, é preciso que todos os fiéis participem dessas homenagens públicas, assistindo à Santa Missa, aos divinos ofícios, às procissões. E esta oração social ou pública é a verdadeira oração da Igreja: "a liturgia".

A "liturgia", por sua definição, é de ordem verdadeiramente sensível. Como ela é oração, jorra do coração. Ela tem em nós sua fonte profunda, ela tem uma alma, que é a virtude de religião, inspirada pelas três grandes virtudes teologais que são a base da vida cristã: a fé, a esperança e a caridade (Liturgia, Encyclopédie populaire des connaissances liturgiques, de l' Abbé R. Aigran, p. 15).

S. Tomás, na sua profunda sapiência, reduz a virtude da religião à de justiça, não como uma espécie do mesmo gênero, mas como uma virtude anexa. A justiça dá a cada um o que lhe é devido. Como criaturas de Deus, temos tudo dele; devemos-lhe, portanto, a submissão e o respeito; nosso culto é necessário, ele deve ser o pagamento duma dívida – é, portanto, um ato de perfeita, de legítima justiça; é uma obrigação.

O corpo da "liturgia" é tudo que pertence à religião exterior-pública, principalmente o sacrifício da Missa, em redor do qual são organizados todos os outros elementos.

Antes de mais nada, digamos alguma coisa sobre os atos internos:

1. A adoração – Criaturas de Deus, sendo por nós mesmos nada, nossa lei, nossa vida é render tudo a Deus por um movimento livre de nosso coração. Dom total, submissão sem reserva: eis a adoração (Liturgia, o. c.).

2. A oração – A oração é a elevação da nossa alma a Deus, com o fim de afastar de nós males, ou de obter bens para nós e para nossos irmãos, e de bendizer a Deus (S. João Damasceno).

3. A vontade divina – Em tudo, nossa própria vontade deve ser subordinada à vontade divina.

Atos externos:

1. As palavras – A palavra é a expressão ordinária do pensamento. Falamos a Deus, não porque ele precisa de nossa palavra para nos escutar, mas pelo instinto que nos leva a entrar em comunicação com a pessoa que nos compreende. A palavra exprime o pensamento e dá mais energia à oração.

2. Os cânticos – O homem canta naturalmente suas alegrias, suas tristezas, os sentimentos mais elevados de sua alma, e, portanto, as suas emoções religiosas.

3. Os gestos – O homem, por instinto, recorre tanto ao gesto como à palavra, para exprimir o que sente. Reza-se melhor, de joelhos, com os braços estendidos e o olhar voltado para o céu.

A tais gestos chamamos "cerimônias", que, portanto, nada mais são senão as ações que secundam as palavras ou as coisas sobre as quais se dizem essas palavras (Conc. Trid. sess. XXII, 1. 5).

4. Os elementos materiais – Com isso designamos todas as substâncias necessárias ao culto exterior; p. ex. a hóstia,· a água, o vinho, o sal, o incenso.

Atualizado em Domingo, 14 Mai 2023 07:44
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