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FC!#352 - Culto público - O Espírito de Deus na Santa Liturgia (Dom Gaspar Lefebvre, 1962)

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Em seu colóquio com a Samaritana, Nosso Senhor, declara, relati­vamente ao culto a prestar a Deus:

"Aproxima-se — e mesmo já chegou — a hora em que os ver­dadeiros adoradores, adorarão o Pai em espírito e em verdade; c assim que quer o Pai seus adoradores. Deus é espírito, e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram” (Jo 4.23-24.).

Com o Messias soou a hora em que o culto mosaico deverá ceder lugar a um culto de caráter verdadeiramente universal. Já não terá fundamento a rivalidade entre Judeus e Samaritanos. Ao instituir a Nova Lei, Cristo estabelecerá um sacrifício novo que suplantará todos os da Lei antiga. Será celebrado no mundo inteiro e num espírito inteiramente novo que será verdadeiramente a alma de todo o culto cristão.

"A hora desse universalismo, diz o Pe. Braun, coincide com a hora da religião mais interior que Cristo nos veio ensinar, e que não nos é dada como destruição da religião antiga, mas como seu acabamento... Os Judeus contentavam-se muito facilmente com suas práticas rituais. Haviam chegado, assim, a reduzir o culto divino a um conjunto de atitudes e de gestos desprovidos de sentimento... Os verdadeiros adoradores evitam rejeitar as práticas exteriores que sempre serão postuladas pelo fato de sermos um composto de alma e de corpo. Acentuam, porém, o culto em espírito . . . Adorar e rogar a Deus em espírito é adorá-lo e rogá-lo de todo coração, de toda alma, com pureza de intenção. E adorá-lo assim, em espirito, é adorá-lo em verdade, "verdadeiramente”. O culto puramente exterior, sem devoção interior, não passa de simulacro da oração” (La Sainte Bible t. X , pp. 344-345).

Não é que Jesus rejeite a oração vocal, pois que a seus discípulos ensinou as fórmulas do Pater noster. Sta. Teresa nos fala de uma religiosa que "gozava da pura contemplação enquanto dizia o Pai Nosso” (Caminho de Perfeição, 25, 1; 30, 7.). E ela própria encontrava nessa recitação um grande meio de união a Deus.

O Pater noster cantado ou rezado em voz alta pelo sacerdote no altar tem grande força junto de Deus quando tais aspirações e pedidos emanam de uma alma que deles plenamente se apropria.

Declara Sto. Tomás na Suma Teológica:

"Mesmo a adoração corporal se faz em espírito, porquanto pro­cede da devoção espiritual e conduz a esta” (Summa Theol. 2ª 2ae Q. 84 a. 2 ad 1). Reza em espírito e em verdade aquele que se põe em oração por impulso do Espírito Santo” (Summa Theol. 2ª 2ae Q. 83 a. 13 ad 1).

"Consiste a oração principalmente no espírito, e secundariamente exprime-se por palavras; do mesmo modo a adoração consiste principalmente na reverência interior para com Deus, e secundariamente em atitudes corporais” (Summa Theol. 2ª 2ae Q. 84 a. 14 ad 2).

No "sermão da montanha”, que é o código da Nova Lei, o divino Mestre verbera o formalismo daqueles que oram por simples ostentação e vaidade.

"Quando orardes, declara ele, não façais como os hipócritas que gostam de rezar ostensivamente nas sinagogas e nos cantos das praças para serem vistos pelos homens... Quanto a ti, quando quiseres orar, vai ao aposento mais retirado, fecha a porta à chave e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te dará a recompensa” (Mt 6, 5-6).

"Como! — exclama S. João Crisóstomo — ele nos interdiz a oração pública solene, a oração pública que reúne diante de Deus todo um povo em unânime clamor? Não; não pode interdizê-la aquele que prometeu eficácia à oração feita em comum; mas quis indicar as verdadeiras condições da prece pública” (Hom. 19 in Math. n.' 2).

O que Jesus tem em vista é a intenção dos que oram; devem estes ter no pensamento a glória de Deus e não a vanglória.

Quando se trata de oração pública, que comporta simultaneamen­te ação do corpo e da alma, orar em segredo significa entrar em contato íntimo com Deus no secreto de nosso coração, por meio de atos exteriores. "Sic stemus ad psallendum, diz S. Bento, ut mens nostra coticordet voei nostrae” (Santa Regra, c. 19).

A oração pública da Igreja, que põe em atividade todas as potências do homem, inteligência, vontade, sensibilidade e atividade física, é mais total do que qualquer outra. É plenamente apropriada à natureza humana. Mas devemos realizá-la sempre sob a moção do Espírito Santo, que permanece em nossas almas pela graça. Evitaremos assim a exprobração de Jesus, já dirigida pelo profeta Isaias aos adoradores superficiais:

"Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim" (Mt 15.18; Is 29.13).

Devem todos os nossos atos cultuais exteriores ser expressão sincera e leal de nossa fé e de nosso amor por Deus.

"É sobretudo pela fé, esperança e caridade, diz Sto. Agostinho, que Deus é honrado no culto que lhe é devido” (Enchiridion, 3).

Pelas virtudes teologais que regem a virtude de religião, a qual por sua vez lhes dirige as atividades à glória de Deus, nossa alma, que é espiritual, atinge diretamente a Deus, que é espírito, e nosso culto é assim verdadeiramente prestado "em espírito e em verdade".

Quanto aos atos exteriores desse culto, seu papel é serem ao mesmo tempo tradução sensível de nossa devoção interior, homenagem que nosso corpo, em dependência da alma, faz a Deus pondo-se totalmente a seu serviço, e o estimulante que essa exteriorização do culto está em condições de trazer à nossa inteligência e à nossa vontade.

Diz Sto. Tomás (Summa Theol. 2ª 2ae Q. 84 a. 2 ad 3):

"Se bem que pelos sentidos não possamos atingir a Deus, pelos sinais sensíveis nosso espírito é estimulado a elevar-se a Ele.”

E Joubert:

"As evoluções religiosas, como procissões, genuflexões, inclinações do corpo e da cabeça, a marcha e as estações, não são de pequeno efeito nem de pouca importância. Elas tornam maleável o coração para a piedade e o espirito para a fé” (Pensées).

Quando numerosa assembleia se rende à prece pública e proclama com entusiasmo a glória do Senhor, essa coletividade exerce fortíssima influência sobre todos. Ritos, palavras, cantos, tudo concorre então poderosamente para unificar a oração e exprimi-la com dinamismo sobremodo possante.

Não é nosso corpo destinado a participar por toda a eternidade da bem-aventurança infinita de Deus e da adoração que todos os eleitos rendem à Santíssima Trindade? Não pode ele portanto ficar alheio ao exercício da oração pelo qual, desde este mundo, santifica-se-nos a alma ao entrar em contato com a Majestade divina. Deve, ao contrário, associar-se intimamente a essa oração para proveito próprio e para que, espiritual e corporalmente, rendamos a Deus o culto pleno e público que Ele espera de criaturas que não são, como os anjos, puros espíritos.

O missal contém, aliás, várias orações em que simultaneamente se faz menção da alma e do corpo.

"Concedei-nos, Senhor, que sintamos na alma e no corpo a força protetora de vosso sacramento, a fim de que, salvos em todo o nosso ser, gozemos na glória, da plenitude desse celeste remédio” (Postc. X I dom. depois de Pentecostes).

"Dai, Senhor, a vosso povo a saúde da alma e do corpo para que, aplicando-se às boas obras, mereça o constante apoio de vossa poderosa proteção” (Postc, sobre o povo. Sexta-feira da 2ª semana da Quaresma).

Atualizado em Domingo, 14 Mai 2023 07:44
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