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FC!#355 - O desenvolvimento da liturgia - Pe. João Batista Reus, S. J.

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A Liturgia divina

No antigo testamento, todo o cul­to do povo de Israel foi ordenado por lei divina. Os deveres múltiplos dos sacerdotes israelitas, bem como o modo de oferecer os vários sacrifícios, foram minuciosamente reve­lados por Deus a Moisés, que os fixou no livro Levítico.

A Igreja do novo testamento devia abranger todos os povos do mundo, tão distantes, tão diferentes em costumes. Um novo culto público tornou-se indispensável. O Legisla­dor divino criou-o e estatuiu para a nova Liturgia, que con­siste mormente na missa, umas poucas leis, encarregando a sua Igreja de alargá-las com cerimônias convenientes, sob a direção do Espírito Santo. As partes essenciais da missa, a forma essencial dos sacramentos, o Pai Nosso formam os elementos da Liturgia divina.

A Liturgia apostólica

Os apóstolos contentaram-se, a princípio, com os poucos ritos divinos e acompanham-­nos com as orações e algumas cerimônias, que conheciam do templo. O próprio Salvador tinha empregado antigos e novos ritos, pois tinha preparado a primeira consagração eucarística com o rito da páscoa antiga. Esta ordem con­servou-se nas duas partes da missa: a missa dos catecúme­nos e a missa dos fiéis. Na primeira havia orações e leitura da sagrada Escritura, na segunda a consagração; divisão esta que se encontra desde o princípio do cristianismo.

Os apóstolos usaram o seu direito litúrgico. S. Paulo, por exemplo, ordenou que as mulheres viessem para a reunião dos fiéis de cabeça velada ( 1 Cor 11). Quais dos ritos modernos foram introduzidos pelos apóstolos, não podemos definir com certeza. Sabemos, porém, que os apos­folos receberam do divino Redentor a ordem: "Depois de doze anos, saí para o mundo, a fim de que ninguém diga: não ouvimos nada" (Post duodecim annos egredimini, ne quis dicat: non audivimus. Clemens Alex. Strom 6, 5, 43; Apollonius em Eusébio, Hist. Eccl. 5, 18, 14; outro autor fala de 7 anos.) A cronologia bíblica, baseada também em outros cálculos, chegou quase ao mesmo nú­mero de 12 a 13 anos (Pirot, Dict. d. l. bible 1928, Suppl. I. p. 1294-1295). Sem dúvida, durante esses 12 anos em Jerusalém, todos os apóstolos celebraram os santos mistérios e a Liturgia da mesma maneira. Por isso é muito provável que os ritos comuns a todas as Liturgias tenham por autores apóstolos.

Também foi sempre tradição da Igreja que na Liturgia há partes instituídas por eles. S. Basílio († 379) diz que os ritos litúrgicos, usados por toda a parte e cujo autor é desconhecido, dimanam da autoridade dos apóstolos. Portanto, a leitura da escritura sagrada, o Sursum corda e as outras saudações e respostas antes do prefácio, o cânon, foram introduzidos por eles.

Quando se disse a primeira missa pelos apóstolos, não sabemos. Mas é provável que fosse no próprio dia de Pen­tecostes; pois a missa é a parte essencial do culto da Igreja, que neste dia principiou a desempenhar as funções sagradas. (Bellarm., De cultu Sanctor. III, c. 11.) A Igreja costumava dar logo aos batizados a s. comunhão. Maria SS. desejava tanto receber Jesus Cristo nas espécies sacramentais. S. To­más diz: celebramos a instituição do SS. Sacramento espe­cialmente naquele tempo, em que o Espírito Santo ensinou os corações dos discípulos a conhecer perfeitamente os mis­térios deste sacramento. Pois também no mesmo tempo foi que os fiéis começaram a receber este sacramento. (S. To­más, Opúsc. 57, II die intra oct. Corp. Chr.)

Bento XIV (Inst. 21. n. 13; Festa Dom. c. 11, n. 42) cita o opinião do cardeal Bona, de que antes de pentecostes não se podia propriamente dizer a missa; pois não convinha oferecer o novo sacrifício, enquanto o sacerdócio ainda não fôra transferido. Concorda com isto a escritura sagrada. Pois diz que os apóstolos antes da vinda do Espírito Santo perseveraram unânimes em oração (At 1, 14), sem mencio­nar a comunhão do pão, por não haver ainda missa. Tendo recebido o Espírito Santo, continuaram na "comunhão da fração do pão" (At 2, 42). Pois então havia missa e co­munhão.

A Liturgia primeva eclesiástica

Os apóstolos lega­ram aos seus sucessores o poder sobre a Liturgia e o cui­dado dela. Fixá-la inteiramente foi impossível por causa das perseguições e do segrêdo severo relativo aos santos mis­térios. Os cristãos, quase sempre acossados pelos satélites dos tiranos, não queriam deixar cair nas mãos dos pagãos um livro completo dos seus ritos santos.

Mais tarde, conformando-se com os costumes do povo respectivo, os bispos adotaram também cerimônias já co­nhecidas, contanto que não fôssern contrárias à doutrina cris­tã ou próprias do paganismo.

Esta formação deu-se, antes de tudo, nos grandes centros de civilização. Pois sabemos que os apóstolos procura­vam de preferência cidades importantes: Antioquia, Corinto, Éfeso, Roma. Os seus sucessores fizeram o mesmo. Em re­dor das suas cidades episcopais fundaram outras comuni­dades religiosas, dependentes do centro também quanto à Li­turgia. Pois eram sacerdotes da metrópole que plantavam a nova vinha do Senhor. Pouco a pouco, formou-se uma Litur­gia comum a muitos lugares e finalmente a uma região in­teira.

Como este processo natural se efetuasse igualmente no Oriente e no Ocidente, originaram-se várias Liturgias, concordantes nos ritos essenciais, diferindo, porém, nas cerimô­nias acidentais. As modificações tinham a origem nos esfor­ços de paralisar a influência dos costumes pagãos e, mais tarde ao menos, na influência de príncipes, de mosteiros, de homens insignes ou de piedade privada. Principiou esta for­mação em maior escala depois de terminar a perseguição pagã pelo edito de Milão em 313; mas o poder dos bispos foi cada vez mais restringido, até que, finalmente, o direito litúrgico foi reservado aos concílios provinciais. (Conc. tolet. 633, cân. 12).

Atualizado em Terça, 22 Agosto 2023 07:44
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