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FC!#556 - Sobre os Sacramentos: Eucaristia (Santo Ambrósio)

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1. No Antigo Testamento, os sacerdotes costumavam entrar freqüentemente na primeira tenda; na segunda tenda, porém, o sumo sacerdote entrava uma só vez por ano. É isso evidentemente que o apóstolo Paulo explica aos hebreus, acolhendo textos do Antigo Testamento. Na segunda tenda, havia o maná, e aí também havia a vara de Aarão, que tinha secado e depois novamente brotado, e o altar do incenso (Hb 9,2-7).

2. A que leva isso? A fazer-vos compreender o que seja a segunda tenda, na qual o sacerdote vos introduziu, na qual o sumo sacerdote costumava entrar uma só vez por ano, isto é, ao batistério onde a vara de Abraão floresceu. Antes estava seca, depois brotou de novo (cf. Nm 17,8). Também tu estavas seco e começaste a brotar de novo na água corrente da fonte. Estavas seco pelos pecados, estavas seco pelos erros e faltas, mas já começaste a dar fruto, pois estás plantado junto à corrente d’água (Sl 1,3).
3. Talvez digas: “O que importa ao povo se a vara sacerdotal tinha secado e brotou de novo?” O que é o próprio povo, senão um povo sacerdotal? A quem foi dito: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, povo santo” (1Pd 2,9), como diz o apóstolo Pedro? Cada um é ungido para o sacerdócio, ungido para o reino, mas trata-se de reino espiritual e sacerdócio espiritual.

4. Também na segunda tenda havia o altar do incenso. O altar do incenso é aquele que costuma espalhar bom odor. Portanto, também vós sois o bom odor de Cristo, pois em vós já não existe nenhum tipo de faltas, nenhum odor de erro mais grave.

2. 5. Depois disso, devíeis vos aproximar do altar. Aproximaste-vos, os anjos olharam, viram que vos aproximá-veis e de repente viram resplandecer aquela condição humana, que outrora estava suja pela tenebrosa sujeira dos pecados. Então disseram: “Quem é esta que sobe do deserto alvejada?” (Ct 8,5). Portanto, também os anjos ficam admirados. Queres saber até que ponto eles se admiram?Escuta o apóstolos Pedro dizendo que nos foram concedidas coisas que até os anjos desejam ver. Ouve ainda: “O que olho não viu, nem ouvido ouviu, é o que preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).

6. Portanto, reconhece aquilo que recebeste. O santo profeta Davi viu e desejou essa graça. Queres saber quanto ele a desejou? Escuta novamente o que ele disse: “Asperge-me com o hissopo e serei purificado; lavar-me-ás, e me tornarei mais branco do que a neve” (Sl 50,9). Por quê? Porque a neve, embora seja branca, torna-se negra e se corrompe imediatamente com qualquer sujeira; esta graça que recebeste, se conservares o que recebeste, será contínua e perpétua.

7. Vinhas, portanto, desejando, por teres visto tal graça; vinhas ao altar, desejando receber o sacramento. Tua alma diz: “Aproximar-me-ei do altar de Deus, do Deus que alegra a minha juventude” (Sl 42,4). Depuseste a velhice dos pecados, assumiste a juventude da graça. Foi isso que te concederam os sacramentos celestes. De novo, escuta o que Davi diz: “Tua juventude se renovará como a da águia” (Sl 102,5). Tu começaste a ser boa águia que se lança para o céu e despreza o que é terreno. As boas águias estão em torno do altar: de fato, “onde está o corpo, aí estão também as águias” (Mt 24,28). O altar tem a forma do corpo e o corpo de Cristo está no altar. Vós sois águias renovadas pela ablução da falta.

8. Vieste até o altar, olhaste os sacramentos postos sobre o altar e te admiraste dessa própria criatura; todavia, é uma criatura solene e conhecida.

9. Alguém poderá perguntar: “Deus concedeu tão grande graça aos judeus, fazendo-lhes chover o maná do céu” (cf Ex 16,13-15). O que mais ele deu aos seus fiéis? O que mais ele deu àqueles aos quais mais prometeu?

10. Recebe o que digo: os mistérios dos cristãos são mais antigos do que os dos judeus e os sacramentos dos cristãos são mais divinos do que os dos judeus. De que modo? Escuta. Quando os judeus começaram a existir? Certamente desde Judá, bisneto de Abraão, ou, se queres assim entender, desde a Lei, isto é, desde que mereceram receber o direito de Deus. É, portanto, por causa do bisneto de Abraão, que foram chamados judeus no tempo do santo Moisés. Deus, então fez chover do céu o maná para os judeus que murmuravam. Mas para ti, a figura desses sacramentos veio antes, no tempo de Abraão, quando ele reuniu trezentos e dezoito servos, perseguiu os inimigos e arrancou seu neto do cativeiro. Então voltou vitorioso, e o sacerdote Melquisedec veio ao seu encontro e ofereceu pão e vinho (cf. Gn 14,14-18). Quem tinha o pão e o vinho? Abraão não tinha. Quem os tinha? Melquisedec. É ele, portanto, o autor dos sacramentos. Quem é Melquisedec, que significa rei de justiça, rei de paz? (Hb 7,2). Quem é esse rei de justiça? É possível que algum homem possa ser rei de justiça? Quem é, portanto, rei de justiça, senão a justiça de Deus? Quem é a paz de Deus, a sabedoria de Deus? (cf. 1Cor 1,30). Aquele que pode dizer: “Dou-vos a minha paz, deixo-vos a minha paz” (Jo 14,27).

11. Portanto, de início, compreende que esses sacramentos que recebes são mais antigos do que os sacramentos que os judeus dizem ter, e que o povo cristão começou antes que o povo dos judeus começasse, nós por predestinação, eles por nome.

12. Melquisedec, portanto, ofereceu pão e vinho. Quem é Melquisedec? “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem início dos dias, nem fim de sua vida, semelhante ao Filho de Deus” (Hb 7,3). Isso consta na epístola aos Hebreus. Sem pai e sem mãe, diz ela. O Filho de Deus nasceu sem mãe pela geração celeste, pois ele nasceu unicamente de Deus Pai. Por outro lado, nasceu sem pai, quando nasceu da virgem. Ele, de fato, não foi gerado por sêmen de homem, mas nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; saído de seio virginal. Semelhante em tudo ao Filho de Deus, Melquisedec era também sacerdote, pois também Cristo é sacerdote e a ele se diz: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 109,4).

13. Quem é, portanto, o autor dos sacramentos, senão o Senhor Jesus? Esses sacramentos vieram do céu, pois todo desígnio vem do céu. Entretanto, é um grande e divino milagre Deus ter feito chover do céu o maná para o povo, de modo que o povo não trabalhava e comia.

14. Talvez digas: “Meu pão é comum. Mas este pão é pão antes das palavras sacramentais; depois da consagração, o pão se transforma em carne de Cristo. Demonstremos isso. Como pode ser que o pão pode se tornar corpo de Cristo? Com quais palavras se fez a consagração e com palavras de quem? Do Senhor Jesus. Com efeito, todo o resto que se diz antes, é dito pelo sacerdote: louva-se a Deus, dirige-se-lhe oração, pede-se pelo povo, pelos reis (cf. 2Tm 2,12) e pelos outros. No momento em que se realiza o venerável sacramento, o sacerdote já não usa as suas próprias palavras, mas as palavras de Cristo. Portanto, é a palavra de Cristo que produz o sacramento.

15. Qual é a palavra de Cristo? É aquela pela qual todas as coisas foram feitas. O Senhor ordenou e o céu foi feito. O Senhor ordenou, e a terra foi feita. O Senhor ordenou, e os mares foram feitos. O Senhor ordenou e toda criatura foi criada. Vês, portanto, como é eficaz a palavra de Cristo! Se há tanta força na palavra do Senhor Jesus, de modo que as coisas que não existiam começassem a existir, tanto mais é eficaz para que aquela coisa que existiu se transformasse em outra coisa. O céu não existia, o mar não existia, a terra não existia; ouve, porém, o que diz Davi: “Ele disse, e foram feitas; ele ordenou, e foram criadas” (Sl 32,9; 148,5).

16. Portanto, para te responder, antes da consagração não era o Corpo de Cristo, mas te digo que depois da consagração já é corpo de Cristo. Ele disse, e foi feito; ele ordenou, e foi criado. Tu também existias, mas eras uma velha criatura; depois que foste consagrado, começaste a ser uma nova criatura. Queres saber quão grande é a nova criatura? Todo “aquele que está em Cristo é nova criatura” (2Cor 5,17).

17. Escuta, portanto, como a palavra de cristo costuma mudar toda criatura e muda, quando quer, as leis da natureza. Perguntas como? Escuta. Antes de tudo, tomemos o exemplo de seu nascimento. É natural que não se gere homem, a não ser de um homem e de uma mulher, através da relação conjugal. Mas porque o Senhor quis, porque escolheu esse sacramento, Cristo nasceu do Espírito Santo e de uma virgem, isto é, “o homem Jesus Cristo é mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2,5). Vês, portanto, que um homem nasceu de uma virgem contra as leis e ordem da natureza.

18. Escuta outra coisa. O povo dos judeus estava encurralado pelos egípcios, sem saída por causa do mar. Por ordem divina, a vara de Moisés tocou as águas e as ondas se dividiram (cf. Ex 14,21), não certamente conforme o costume de sua natureza, mas conforme a graça da ordem divina. Escuta outra coisa. O povo estava com sede e foi até à fonte. A fonte era amarga, o santo Moisés lançou madeira na fonte, e a fonte que era amarga se tornou doce, isto é, mudou o habitual de sua natureza e recebeu a doçura da graça (cf. Ex 15,23-25). Escuta também um quarto exemplo. O ferro do machado caíra na água e, segundo sua habitude de ferro, afundou. Eliseu jogou a madeira e o ferro imediatamente subiu e veio à tona (cf. 2Rs 6,5-6), certamente contra a habitude do ferro, pois é matéria mais pesada do que o elemento das águas.

19. Tudo isso não faz com que entendas o que a palavra celeste realiza? Se a palavra celeste age na fonte terrena, se age em outras coisas, não agirá nos sacramentos celestes? Aprendeste, portanto, que o pão se transforma em corpo de Cristo, e que é o vinho, que é a água que se derrama no cálice, mas que pela consagração celeste se transforma em sangue.

20. Talvez digas: “Não vejo aparência de sangue”. Mas há o símbolo. Do mesmo modo como assumiste o símbolo da morte, assim também bebes o símbolo do precioso sangue, para que não haja nenhum horror de sangue derramado e, no entanto, se realize o preço da redenção. Aprendeste, portanto, que aquilo que recebes é o corpo de Cristo.

21. Queres saber mediante quais palavras celestes se consagra? Escuta quais são as palavras. O sacerdote diz: “Faze para nós com que esta oferta seja aprovada, espiritual, aceitável, porque é a figura do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual, antes de sua paixão, tomou o pão em suas santas mãos, olhou para o céu, para ti, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, deu graças, o abençoou, o partiu, e partindo o deu a seus apóstolos e discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei disso todos, porque isto é o meu corpo que será partido para muitos’.”

22. Presta atenção. “Do mesmo modo, tomou também o cálice depois da ceia, antes de sua paixão, olhou para o céu, para ti, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, deu graças, o abençoou, deu a seus apóstolos e discípulos, dizendo: ‘Tomai e bebei disso todos, porque este é o meu sangue’ ” (cf. Mt 26,26-28; Lc 22,19s; 1Cor 11,23ss). Vê que são todas palavras do evangelista até “tomai”, se-ja o corpo, seja o sangue. A partir daí, são palavras de Cristo: “Tomai e bebei disso todos, porque este é o meu sangue”.

23. Repara também nos pormenores. O qual, antes de sua paixão, tomou o pão em suas santas mãos. Antes da consagração, é pão; mas quando as palavras de Cristo aparecem, é corpo de Cristo. Escuta então o que ele diz: “Tomai e comei disso todos, porque isto é o meu corpo”. Antes das palavras de Cristo, também o cálice está cheio de vinho e de água; do momento em que as palavras de Cristo são usadas, isso torna-se o sangue que redimiu o povo. Vede, portanto, de quais maneiras a palavra de Cristo tem poder para transformar tudo. Além disso, o próprio Senhor Jesus testemunhou-nos que recebemos seu corpo e seu sangue. Por acaso, devemos duvidar da fidelidade do seu testemunho?

24. Volta comigo agora ao meu assunto. De fato, é grande e venerável que o maná tenha chovido do céu para os judeus. Mas procura entender. O que é maior: o maná do céu ou o Corpo de Cristo?Sem dúvida, o corpo de Cristo, que é o criador do céu. Com efeito, aquele que comeu o maná, morreu; quem comer este corpo terá a remissão dos pecados e “não morrerá para sempre” (cf. Jo 6,49-59).

25. Não é sem razão que dizes: “Amém”, confessando em espírito que recebes o corpo de Cristo. Quando te apresentas, o sacerdote te diz: “Corpo de Cristo”, e tu respondes: “Amém”, isto é, “é verdadeiro”. O que a língua confessa, que a convicção o conserve. Para que saibas: este é o sacramento, cuja figura veio antes.

26. Conhece então qual é a grandeza do sacramento. Vê o que ele diz: “Todas as vezes que fizerdes isso, fazei-o em minha memória, até o dia em que eu retornar” (cf. 1Cor 11,26).

27. O sacerdote também diz: “Celebrando, pois, a memória de sua gloriosíssima paixão, da ressurreição dos infernos e da ascensão ao céu, nós te oferecemos esta hóstia imaculada, hóstia espiritual, hóstia incruenta, este pão santo e o cálice da vida eterna, e te pedimos e suplicamos para que aceites esta oferta no teu sublime altar pelas mãos dos teus anjos, assim como dignaste aceitar as ofertas do teu servo o justo Abel, o sacrifício do nosso patriarca Abraão e o que te ofereceu o sumo sacerdote Melquisedec”.

28. Portanto, todas as vezes que o recebes, o que é que o apóstolo te diz? Todas as vezes que o recebemos, anunciamos a morte do Senhor (1Cor 11,26). Se (anunciamos) a morte, anunciamos a remissão dos pecados. Se, todas as vezes que o sangue é derramado, é derramado para a remissão dos pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus pecados. Eu que peco sempre, devo sempre ter um remédio.

29. Até agora e também hoje, nós vos demos os esclarecimentos que nos foi possível, amanhã e sábado, porém, falaremos o quanto possível sobre a oração dominical e a ordem da oração. Que o Senhor nosso Deus vos conserve a graça que vos deu e que ele se digne iluminar mais plenamente os vossos olhos que ele abriu, por seu Filho unigênito, rei e salvador, Senhor nosso Deus, pelo qual e com o qual, ele tem o louvor, a honra, a glória, a majestade, o poder, com o Espírito Santo, desde os séculos, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.

Atualizado em Sábado, 28 Setembro 2024 21:40
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