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FC!#173 - São José, Padroeiro da Igreja universal - Catequese 12
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje concluímos o ciclo de catequeses sobre a figura de São José. Estas catequeses são complementares à Carta apostólica Patris corde, escrita por ocasião dos 150 anos da proclamação de São José como Padroeiro da Igreja católica pelo Beato Pio IX. Mas o que significa este título? O que significa que São José é “padroeiro da Igreja”? Sobre isto gostaria de refletir convosco hoje.
Também neste caso, os Evangelhos nos fornecem a interpretação mais correta. De facto, no final de cada história em que José é o protagonista, o Evangelho observa que ele toma consigo o Menino e sua mãe e faz o que Deus lhe ordenou (cf. Mt 1, 24; 2, 14.21). Evidencia-se assim o facto de que a tarefa de José é proteger Jesus e Maria. Ele é o seu principal guarda: «De facto, Jesus e Maria, sua Mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé» [1] (Carta ap. Patris corde, 5), e este tesouro é guardado por São José.
No plano da salvação, o Filho não pode ser separado da Mãe, daquela que «avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz» (Lumen gentium, 58), como nos recorda o Concílio Vaticano II.
De certa forma, Jesus, Maria e José são o núcleo primordial da Igreja. Jesus é Homem e Deus, Maria, a primeira discípula, é a Mãe; e José, o guardião. E também nós «sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda» (Patris corde, 5). E aqui há um traço muito bonito da vocação cristã: guardar. Guardar a vida, guardar o desenvolvimento humano, guardar a mente humana, guardar o coração humano, guardar o trabalho humano. O cristão é – podemos dizer – como São José: deve guardar. Ser cristão não é apenas receber a fé, confessar a fé, mas guardar a vida, a própria vida, a vida dos outros, a vida da Igreja. O Filho do Altíssimo veio ao mundo numa condição de grande fragilidade. Jesus nasceu tão frágil, débil. Ele quis precisar de ser defendido, protegido, cuidado. Deus confiou em José, como fez Maria, que encontrou nele o esposo que a amava e respeitava e sempre cuidou dela e do Menino. «Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria. José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe (ibid.).
Este Menino é Aquele que dirá: «sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Portanto, cada pessoa que tem fome e sede, cada estrangeiro, cada migrante, cada pessoa sem vestuário, cada doente, cada preso é o “Menino” que José guarda. E nós somos convidados a guardar estas pessoas, estes nossos irmãos e irmãs, como fez José. É por isso que é invocado como protetor de todos os necessitados, dos exilados, dos aflitos, e também dos moribundos – falámos sobre isto na última quarta-feira. E também nós devemos aprender com José a “guardar” estes bens: amar o Menino e a sua mãe; amar os sacramentos e o povo de Deus; amar os pobres e a nossa paróquia. Cada uma destas realidades é sempre o Menino e a sua mãe (cf. Patris corde, 5). Devemos guardar, pois assim guardamos Jesus, como fez José.
Hoje é comum, é de todos os dias, criticar a Igreja, apontando as suas incoerências – há muitas – apontando os seus pecados, que na realidade são as nossas incoerências, os nossos pecados, pois a Igreja sempre foi um povo de pecadores que encontra a misericórdia de Deus. Perguntemo-nos se, no fundo do coração, amamos a Igreja tal como é. Povo de Deus a caminho, com muitos limites, mas com tanta vontade de servir e amar a Deus. De facto, só o amor nos torna capazes de falar plenamente a verdade, de uma forma não partidária; de dizer o que está errado, mas também de reconhecer toda a bondade e santidade que estão presentes na Igreja, começando precisamente por Jesus e Maria. Amar a Igreja, guardar a Igreja e caminhar com a Igreja. Mas a Igreja não é aquele grupinho que está próximo do sacerdote e manda em todos, não. A Igreja somos todos, todos. A caminho. Guardar-nos uns aos outros, guardar-nos reciprocamente. É uma boa pergunta esta: eu, quando tenho um problema com alguém, procuro guardá-lo ou condeno-o imediatamente, falo mal dele, destruo-o? Devemos guardar, guardar sempre!
Estimados irmãos e irmãs, encorajo-vos a pedir a intercessão de São José precisamente nos momentos mais difíceis da vossa vida e das vossas comunidades. Onde os nossos erros se tornam um escândalo, peçamos a São José que nos dê coragem para dizer a verdade, para pedir perdão e recomeçar humildemente. Onde a perseguição impede que o Evangelho seja proclamado, peçamos a São José a força e a paciência para suportar abusos e sofrimentos por amor ao Evangelho. Onde quer que os meios materiais e humanos sejam escassos e nos façam experimentar a pobreza, especialmente quando somos chamados a servir os últimos, os indefesos, os órfãos, os doentes, os descartados da sociedade, rezemos a São José para que seja Providência para nós. Quantos santos se dirigiram a ele! Quantas pessoas na história da Igreja encontraram nele um padroeiro, um guarda, um pai!
Imitemos o seu exemplo e por esta razão, todos juntos, rezemos hoje; rezemos a São José com a oração que conclui a Carta Patris corde, confiando-lhe as nossas intenções e, de uma forma especial, a Igreja que sofre e está na provação. E agora, tendes nas mãos em diversas línguas, penso quatro, a oração, e acho que aparecerá também no ecrã, assim juntos, cada um na própria língua, podemos rezar a São José.
Salve, guardião do Redentore esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.
Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amen.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220216-udienza-generale.html
FC!#172 - São José, padroeiro da boa morte - Catequese 11
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Na última catequese, estimulados ainda pela figura de São José, refletimos sobre o significado da comunhão dos santos. E precisamente a partir disto, hoje gostaria de aprofundar a devoção especial que o povo cristão sempre teve por São José como padroeiro da boa morte. Uma devoção nascida do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que ele deixasse a casa de Nazaré. Não há dados históricos, mas visto que já não se vê José na vida pública, pensa-se que tenha morrido ali em Nazaré, com a família. E a acompanharam-no à morte Jesus e Maria.
O Papa Bento XV, há um século, escreveu que «através de José vamos diretamente a Maria, e através de Maria à origem de toda a santidade, que é Jesus». Quer José quer Maria ajudam-nos a ir a Jesus. E encorajando práticas piedosas em honra de São José, recomendou uma em particular, que dizia assim: «Dado que Ele é merecidamente considerado como o mais eficaz protetor dos moribundos, tendo expirado com a ajuda de Jesus e Maria, será preocupação dos Pastores sagrados inculcar e encorajar [...] aquelas piedosas confrarias que foram instituídas para implorar José em nome dos moribundos, como as “da Boa Morte”, do “Trânsito de São José” e “pelos Agonizantes”» (Motu proprio Bonum sane, 25 de julho de 1920): eram as associações da época.
Amados irmãos e irmãs, talvez algumas pessoas pensem que esta linguagem e este tema sejam apenas uma herança do passado, mas na realidade a nossa relação com a morte nunca diz respeito ao passado, é sempre presente. O Papa Bento dizia, há alguns dias, falando sobre si mesmo que “está diante da porta obscura da morte”. É bom agradecer ao Papa Bento que com 95 anos tem a lucidez de nos dizer isto: “Estou diante da obscuridade da morte, à porta obscura da morte”. Um bom conselho que nos deu! A chamada cultura do “bem-estar” procura remover a realidade da morte, mas de uma forma dramática a pandemia do coronavírus voltou a colocá-la em evidência. Foi terrível: a morte estava em toda a parte, e muitos irmãos e irmãs perderam entes queridos sem poderem estar ao lado deles, e isto tornou a morte ainda mais difícil de aceitar e de elaborar. Uma enfermeira contou-me que uma avó com Covid estava a morrer e disse-lhe: “gostaria de me despedir dos meus entes queridos antes de ir embora”. E a enfermeira, corajosa, pegou no telemóvel e fez a ligação. A ternura daquela despedida...
Não obstante isto, procuramos de todas as maneiras banir o pensamento da nossa finitude, iludindo-nos assim a pensar que podemos retirar o poder da morte e afastar o temor. Mas a fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, ajuda-nos a enfrentá-la. Mais cedo ou mais tarde, todos nós iremos àquela porta.
A verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo. Eis a luz. E São Paulo escreve: «Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé (1 Cor 15, 12-14). Há uma certeza: Cristo ressuscitou, Cristo ressurgiu, Cristo está vivo no meio de nós. E esta é a luz que nos espera por detrás da porta obscura da morte.
Prezados irmãos e irmãs, é apenas através da fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Não só: mas também podemos atribuir à morte um papel positivo. De facto, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos a olhar para toda a vida com olhos novos. Nunca vi atrás de um carro fúnebre uma carrinha de mudanças! Atrás de um carro fúnebre: nunca vi. Iremos sozinhos, sem nada nos bolsos da mortalha: nada. Pois a mortalha não tem bolsos. Esta solidão da morte: é verdade, nunca vi atrás de um carro fúnebre uma carrinha de mudanças. Não tem sentido acumular se um dia morreremos. O que precisamos de acumular é caridade, a capacidade de partilhar, a capacidade de não ficar indiferentes às necessidades dos demais. Ou, de que serve discutir com um irmão, uma irmã, um amigo, um membro da família, ou um irmão ou irmã na fé, se um dia morreremos? De que serve enraivecer-se, zangar-se com os outros? Perante a morte, tantas questões são redimensionadas. É bom morrer reconciliado, sem deixar ressentimentos e sem arrependimentos! Gostaria de dizer uma verdade: todos nós estamos a caminho rumo àquela porta, todos.
O Evangelho diz-nos que a morte vem como um ladrão, assim diz Jesus: chega como um ladrão, e por muito que procuremos manter a sua chegada sob controlo, talvez mesmo planeando a própria morte, ela continua a ser um acontecimento com o qual temos de nos confrontar e perante o qual também temos de fazer escolhas.
Para nós cristãos permanecem firmes duas considerações. A primeira é que não podemos evitar a morte, e é precisamente por esta razão que, depois de ter feito tudo o que era humanamente possível para curar a pessoa doente, é imoral envolver-se numa obstinação terapêutica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2278). Aquela frase do povo fiel de Deus, das pessoas simples: “Deixai-o morrer em paz”, “ajudai-o a morrer em paz”: quanta sabedoria! A segunda consideração diz respeito à qualidade da própria morte, a qualidade da dor, do sofrimento. De facto, devemos estar gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que através das chamadas “curas paliativas”, cada pessoa que se está a preparar para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Contudo, devemos ter o cuidado de não confundir esta ajuda com desvios inaceitáveis que levam a matar. Devemos acompanhar as pessoas até à morte, mas não provocar a morte nem ajudar qualquer forma de suicídio. Saliento que o direito a cuidados e tratamentos para todos deve ser sempre uma prioridade, de modo a que os mais débeis, particularmente os idosos e os doentes, nunca sejam descartados. A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos ou crentes. Mas eu gostaria de sublinhar aqui um problema social, mas real. Aquele “planificar” – não sei se esta é a palavra certa – mas acelerar a morte dos idosos. Muitas vezes vemos numa certa classe social que os idosos, por não terem os meios, recebem menos medicamentos do que necessitariam, e isto é desumano: isto não os está a ajudar, está a empurrá-los mais depressa para a morte. Isto não é humano nem cristão. Os idosos devem ser tratados como um tesouro da humanidade: eles são a nossa sabedoria. Mesmo que não falem, e se não tem um sentido, todavia são o símbolo da sabedoria humana. São aqueles que nos precederam e nos deixaram tantas coisas boas, tantas recordações, tanta sabedoria. Por favor, não isoleis os idosos, não apresseis a morte dos idosos. Acariciar um idoso tem a mesma esperança que acariciar uma criança, pois o início e o fim da vida é sempre um mistério, um mistério que deve ser respeitado, acompanhado, cuidado, amado.
Que São José nos ajude a viver o mistério da morte da melhor maneira possível. Para um cristão, a boa morte é uma experiência da misericórdia de Deus, que se aproxima de nós, até naquele último momento da nossa vida. Também na oração da Ave-Maria, pedimos a Nossa Senhora para estar perto de nós “na hora da nossa morte”. Precisamente por esta razão, gostaria de concluir esta catequese rezando juntos a Nossa Senhora pelos moribundos, por quantos estão a viver este momento de passagem por aquela porta obscura, e pelos familiares que estão a viver o luto. Rezemos juntos:
Ave Maria...
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220209-udienza-generale.html
FC!#171 - São José e a comunhão dos santos - Catequese 10
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas semanas pudemos aprofundar a figura de São José, guiados pelas poucas mas importantes informações dadas nos Evangelhos, e também pelos aspetos da sua personalidade, que a Igreja ao longo dos séculos foi capaz de destacar através da oração e da devoção. Partindo precisamente deste “sentir comum”, que na história da Igreja acompanhou a figura de São José, hoje gostaria de me concentrar num importante artigo de fé que pode enriquecer a nossa vida cristã e também moldar da melhor maneira a nossa relação com os santos e com os nossos entes queridos falecidos: refiro-me à comunhão dos santos. Muitas vezes dizemos, no Credo, “creio na comunhão dos santos”. Mas se nos perguntarmos o que é a comunhão dos santos, lembro-me que quando era criança respondia imediatamente: “Ah, os santos fazem a comunhão”. É algo... não compreendemos o que dizemos. O que é a comunhão dos santos? Não é que os santos fazem a comunhão, não é isto: é outra coisa.
Às vezes até o cristianismo pode cair em formas de devoção que parecem refletir uma mentalidade que é mais pagã do que cristã. A diferença fundamental é que a nossa oração e a nossa devoção de povo fiel não se baseia, naqueles casos, na confiança num ser humano ou numa imagem ou num objeto, mesmo quando sabemos que eles são sagrados. O profeta Jeremias lembra-nos: «Maldito o homem que confia noutro homem [...] Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor» (17, 5-7). Até quando confiamos plenamente na intercessão de um santo, ou ainda mais na Virgem Maria, a nossa confiança só tem valor em relação a Cristo. Como se o caminho para este santo ou para Nossa Senhora não acabasse ali: não! Chega ali, mas em relação a Cristo. Cristo é o vínculo que nos une a Ele e entre nós, e tem um nome específico: este vínculo que nos une a todos, entre nós e com Cristo, é a “comunhão dos santos”. Não são os santos que fazem milagres, não! “Este santo é muito milagroso...”: não, observai: os santos não realizam milagres, mas é apenas a graça de Deus que atua através deles. Os milagres foram realizados por Deus, pela graça de Deus que age por intermédio de uma pessoa santa, uma pessoa justa. É preciso esclarecer isto. Há pessoas que dizem: “Não creio em Deus, mas creio neste santo”. Não, está errado! O santo é um intercessor, alguém que reza por nós e nós rezamos a ele, e ora por nós e o Senhor concede-nos a graça: o Senhor age através do santo.
O que é, então, a “comunhão dos santos”? O Catecismo da Igreja Católica afirma: «A comunhão dos santos é precisamente a Igreja» (n. 946). Mas, que bonita definição! “A comunhão dos santos é precisamente a Igreja”. O que significa isto? Que a Igreja é reservada aos perfeitos? Não! Isto significa que é a comunidade dos pecadores salvos. A Igreja é a comunidade dos pecadores salvos. Como é bela esta definição! Ninguém pode excluir-se da Igreja, todos somos pecadores salvos. A nossa santidade é o fruto do amor de Deus manifestado em Cristo, que nos santifica amando-nos na nossa miséria e salvando-nos dela. Graças a Ele formamos sempre um só corpo, diz São Paulo, no qual Jesus é a Cabeça e nós os membros (cf. 1 Cor 12, 12). Esta imagem do corpo de Cristo, a imagem do corpo, faz-nos compreender imediatamente o que significa estar ligados uns aos outros em comunhão: «Se um membro sofre – escreve São Paulo – todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, por sua vez, é um dos seus membros» (1 Cor 12, 26-27). Paulo diz isto: somos todos um só corpo, todos unidos pela fé, pelo batismo, todos em comunhão: unidos em comunhão com Jesus Cristo. E esta é a comunhão dos santos.
Amados irmãos e irmãs, a alegria e o sofrimento que atingem a minha vida dizem respeito a todos, assim como a alegria e o sofrimento que atingem a vida do irmão e da irmã ao nosso lado também dizem respeito a mim. Não posso ficar indiferente em relação aos outros, pois somos todos parte de um só corpo, em comunhão. Neste sentido, também o pecado de uma pessoa atinge sempre todos, e o amor de cada pessoa atinge todos. Em virtude da comunhão dos santos, desta união, cada membro da Igreja está ligado a mim de um modo profundo – mas não digo a mim porque sou o Papa – estamos ligados reciprocamente e de maneira profunda, e este vínculo é tão forte que não pode ser interrompido nem sequer pela morte. Com efeito, a comunhão dos santos não diz respeito apenas aos irmãos e irmãs que estão ao meu lado neste momento da história, mas também àqueles que concluíram a sua peregrinação terrena e atravessaram o limiar da morte. Também eles estão em comunhão connosco. Pensemos, caros irmãos e irmãs: em Cristo ninguém nos pode separar verdadeiramente daqueles que amamos, porque o vínculo é um vínculo existencial, um laço forte que está na nossa própria natureza; só muda a forma de estar juntos com cada um deles, mas nada e ninguém pode interromper este vínculo. “Padre, pensemos naqueles que negaram a fé, que são apóstatas, que são perseguidores da Igreja, que negaram o batismo: também eles estão em casa?”. Sim, também eles, inclusive os blasfemadores, todos. Somos irmãos: esta é a comunhão dos santos. A comunhão dos santos mantém unida a comunidade dos crentes na terra e no Céu.
Neste sentido, a relação de amizade que posso construir com um irmão ou irmã ao meu lado, também a posso estabelecer com um irmão ou irmã no Céu. Os santos são amigos com quem muito frequentemente estabelecemos relações de amizade. Aquilo a que chamamos devoção a um santo – sou muito devoto deste santo, desta santa – a que chamamos devoção é na verdade um modo de expressar amor a partir deste mesmo vínculo que nos une. Também na vida de todos os dias podemos dizer: “Mas esta pessoa tem muita devoção pelos seus pais idosos”: não, é um modo de amar, uma expressão de amor. E todos sabemos que podemos sempre recorrer a um amigo, especialmente quando estamos em dificuldade e precisamos de ajuda. E nós precisamos dos amigos no Céu. Todos precisamos de amigos; todos precisamos de relações significativas que nos ajudem a enfrentar a vida. Também Jesus tinha os seus amigos e recorreu a eles nos momentos mais decisivos da sua experiência humana. Na história da Igreja há algumas constantes que acompanham a comunidade crente: em primeiro lugar, o grande afeto e o vínculo muito forte que a Igreja sempre sentiu em relação a Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Mas também a honra especial e o afeto que Ela dedicou a São José. No fundo, Deus confia-lhe as coisas mais preciosas que tem: o seu Filho Jesus e a Virgem Maria. É sempre graças à comunhão dos santos que nos sentimos próximos dos santos e das santas que são nossos padroeiros, pelo nome que recebemos, por exemplo, pela Igreja a que pertencemos, pelo lugar onde vivemos, e assim por diante, também por uma devoção pessoal. E esta é a confiança que nos deve animar sempre a recorrer a eles nos momentos decisivos da nossa vida. A devoção aos santos não é algo mágico, não é uma superstição; é simplesmente falar com um irmão, uma irmã que está diante de Deus, que viveu uma vida justa, uma vida santa, uma vida exemplar, e agora está diante de Deus. E falo com este irmão, com esta irmã, e peço a sua intercessão para as minhas necessidades.
É precisamente por isto que me agrada concluir esta catequese com uma oração a São José, à qual estou particularmente ligado e que recito todos os dias há mais de 40 anos. É uma oração que encontrei num livro de preces das Irmãs de Jesus e Maria, de 1700, do final do século XVIII. É muito bonita, mas mais do que uma oração é um desafio a este amigo, a este pai, a este nosso guardião que é São José. Seria bom se aprendêsseis esta oração e pudésseis repeti-la. Lê-la-ei:
“Glorioso Patriarca São José,
cujo poder sabe tornar possíveis coisas impossíveis,
vinde em meu auxílio
nestes momentos de angústia e dificuldade.
Tomai sob a vossa proteção
as situações muito graves e difíceis que vos confio,
para que possam ter uma solução feliz.
Meu amado Pai,
toda a minha confiança está depositada em vós.
Que não se diga que vos invoquei em vão,
e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria,
mostrai-me que a vossa bondade
é grande como o vosso poder”.
E termina com um desafio, isto é desafiar São José:
“E dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria,
mostrai-me que a vossa bondade
é grande como o vosso poder”.
Confio-me todos os dias a São José, com esta oração, há mais de 40 anos: é uma antiga prece.
Em frente, coragem, nesta comunhão de todos os santos que temos no céu e na terra: o Senhor não nos abandona!
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220202-udienza-generale.html
FC!#170 - São José, homem que "sonha" - Catequese 9
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de me concentrar na figura de São José como homem que sonha. Na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava (Cf. Gn 20, 3; 28, 12; 31, 11.24; 40, 8; 41, 1-32; Nm 12, 6; 1 Sm 3, 3-10; Dn 2; 4; Job 33, 15.). O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, o espaço interior, que cada um é chamado a cultivar e preservar, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala. Mas devemos também dizer que dentro de cada um não existe apenas a voz de Deus: existem muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes dos nossos receios, as vozes das experiências passadas, as vozes das esperanças; e há também a voz do maligno que nos quer enganar e confundir. Por conseguinte, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes. José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e, sobretudo, tomar as decisões corretas perante a Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente. Hoje, será bom para nós retomarmos os quatro sonhos do Evangelho que o têm como protagonista, para compreender como nos colocarmos perante a revelação de Deus. O Evangelho narra-nos quatro sonhos de José.
No primeiro sonho (cf. Mt 1, 18-25), o anjo ajuda José a resolver o drama que o assola quando soube da gravidez de Maria: «Não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados» (vv. 20-21). E a sua resposta foi imediata: «Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado» (v. 24). Muitas vezes a vida coloca-nos diante de situações que não compreendemos e que parecem não ter solução. Rezar nesses momentos significa deixar que o Senhor nos indique o que é justo fazer. Na verdade, muitas vezes é a oração que nos dá a intuição da saída, como resolver aquela situação. Caros irmãos e irmãs, o Senhor nunca permite que um problema surja sem nos conceder também a ajuda necessária para o enfrentar. Não nos lança sozinhos na fornalha. Não nos lança no meio das feras. Não. O Senhor quando nos mostra um problema ou revela um problema, dá-nos sempre a intuição, a ajuda, a sua presença, para sairmos dele, para o resolver.
O segundo sonho revelador de José chega quando a vida do menino Jesus está em perigo. A mensagem é clara: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar» (Mt 2, 13). José obedeceu sem hesitação: «Levantou-se durante a noite, tomou o menino e a sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até à morte de Herodes» (vv. 14-15). Na vida, todos nós experimentamos perigos que ameaçam a nossa existência ou a daqueles que amamos. Nestas situações, rezar significa ouvir a voz que nos pode dar a mesma coragem de José, para enfrentar as dificuldades sem sucumbir.
No Egito, José espera um sinal de Deus para poder regressar a casa, e este é o conteúdo do terceiro sonho. O anjo revela-lhe que aqueles que queriam matar o menino morreram e ordena-lhe que parta com Maria e Jesus e regresse à pátria (cf. Mt 2, 19-20). José «levantou-se, tomou o menino e a sua mãe e foi para a terra de Israel» (v. 21). Mas precisamente na viagem de regresso, «ao ouvir que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá» (v. 22). Eis então a quarta revelação: «Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré» (vv. 22-23). O medo também faz parte da vida e precisa da nossa oração. Deus não nos promete que nunca teremos medo, mas que, com a sua ajuda, este não será o critério para as nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus guia-o através dele. O poder da oração ilumina as situações de escuridão.
Penso neste momento em tantas pessoas que estão esmagadas pelo peso da vida e já não conseguem ter esperança nem rezar. Que São José as ajude a abrir-se ao diálogo com Deus, para encontrar luz, força e paz. E penso também nos pais diante dos problemas dos filhos. Filhos com muitas doenças, filhos doentes, inclusive com enfermidades permanentes: quanto sofrimento nisto. Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos; como gerir isto e acompanhar os filhos e não se esconder numa atitude condenatória. Pais que veem os filhos que vão embora, morrem, por causa de uma doença e também – é mais triste, lemos todos os dias nos jornais – jovens que fazem leviandades e acabam num acidente de carro. Os pais que veem os filhos que não rendem na escola e não sabem o que fazer… Muitos problemas dos pais. Pensemos em como os ajudar. E a estes pais, digo: não vos assusteis. Sim, há o sofrimento. Muito. Mas pensai como José resolveu os problemas e pedi a José que vos ajude. Nunca condeneis um filho. Sinto tanta ternura – também em Buenos Aires – quando ia de autocarro e passava diante da prisão: havia uma fila de pessoas que esperavam para entrar e visitar os encarcerados. E estavam ali as mães, faziam-me sentir tanta ternura: face ao problema de um filho que errou, foi preso, não o deixavam sozinho, encaravam o problema e acompanhavam-no. Esta coragem; coragem de pai e de mãe que acompanham os filhos sempre, sempre. Peçamos ao Senhor que conceda a todos os pais e a todas as mães esta coragem que deu a José. E depois rezar a fim de que o Senhor nos ajude nestes momentos.
A oração, no entanto, nunca é um gesto abstrato nem intimista, como querem fazer aqueles movimentos espirituais mais gnósticos do que cristãos. Não, não é isto. A oração está sempre indissociavelmente ligada à caridade. Só quando unimos a oração com o amor, o amor pelos filhos, como o caso que acabei de mencionar, ou o amor ao próximo, somos capazes de compreender as mensagens do Senhor. José rezava, trabalhava e amava – três ações boas para os pais: rezar, trabalhar e amar – e por isso recebeu sempre o necessário para enfrentar as provações da vida. Confiemo-nos a ele e à sua intercessão.
São José, vós sois o homem que sonha,
ensinai-nos a recuperar a vida espiritual
como o lugar interior onde Deus se manifesta e nos salva.
Retirai de nós o pensamento de que rezar é inútil;
ajudai cada um de nós a corresponder ao que o Senhor nos indica.
Que o nosso raciocínio seja irradiado pela luz do Espírito,
o nosso coração encorajado pela Sua força
e os nossos receios salvos pela Sua misericórdia. Amém.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220126-udienza-generale.html
FC!#169 - São José pai na ternura - Catequese 8
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de aprofundar a figura de São José como pai na ternura.
Na Carta Apostólica Patris corde (8 de dezembro de 2020) tive a oportunidade de refletir sobre este aspeto da ternura, um aspeto da personalidade de São José. De facto, embora os Evangelhos não nos deem quaisquer detalhes sobre como ele exerceu a sua paternidade, podemos estar certos de que o seu ser um homem “justo” também se verificou na educação que deu a Jesus. «José via Jesus crescer “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52): assim diz o Evangelho. Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4)» (Patris corde, 2). É bonita esta definição da Bíblia que mostra a relação de Deus com o povo de Israel. E pensamos que tenha sido a mesma relação de São José com Jesus.
Os Evangelhos atestam que Jesus sempre usou a palavra “pai” para falar de Deus e do seu amor. Muitas parábolas têm como protagonista a figura de um pai (cf. Mt 15, 13; 21, 28-30; 22, 2; Lc 15, 11-32; Jo 5, 19-23; 6, 32-40; 14, 2; 15, 1.8). Uma das mais famosas é certamente a do Pai misericordioso, narrada pelo evangelista Lucas (cf. 15, 11-32). Esta parábola sublinha não só a experiência do pecado e do perdão, mas também a forma como o perdão chega à pessoa que errou. O texto diz: «Estava ainda longe, quando o seu pai o viu e, movido de compaixão, foi ao encontro dele, abraçou-o e beijou-o» (v. 20). O filho esperava um castigo, uma justiça que no máximo lhe poderia ter dado o lugar de um dos servos, mas encontra-se envolto no abraço do seu pai. A ternura é algo maior do que a lógica do mundo. É uma forma inesperada de fazer justiça. É por isso que nunca devemos esquecer que Deus não se assusta com os nossos pecados: convençamo-nos bem disto. Deus não se assusta com os nossos pecados, é maior do que os nossos pecados: é pai, é amor, é terno. Não se assusta com os nossos pecados, com os nossos erros, as nossas quedas, mas assusta-se com o fechamento do nosso coração – isto sim, fá-lo sofrer – assusta-se com a nossa falta de fé no seu amor. Há uma grande ternura na experiência do amor de Deus. E é bom pensar que a primeira pessoa que transmitiu esta realidade a Jesus foi precisamente José. Pois as coisas de Deus vêm sempre até nós através da mediação de experiências humanas. Há algum tempo – não sei se já contei isto – um grupo de jovens que fazem teatro, um grupo de jovens pop, “modernos”, ficaram impressionados com esta parábola do pai misericordioso e decidiram fazer uma peça de teatro pop com este tema, com esta história. E fizeram-na bem. E, no final, o tema principal é que um amigo ouve o filho que se afastou do pai, que queria voltar para casa, mas tinha medo que o pai o expulsasse e castigasse. E o amigo diz-lhe, naquela ópera pop: “Manda um mensageiro e diz que queres voltar para casa, e se o pai aceitar receber-te que ponha um lenço na janela, naquela que verás quando chegares à reta final”. Assim foi feito. E a ópera, com cantos e danças, continua até ao momento em que o filho inicia o caminho final e vê a casa. E quando olha para cima, vê a casa cheia de lenços brancos: cheia. Não um, mas três ou quatro para cada janela. Esta é a misericórdia de Deus. Ele não se assusta com o nosso passado, com os nossos aspetos negativos: assusta-se apenas com o fechamento. Todos temos contas a acertar; mas acertar as contas com Deus é belíssimo, porque começamos a falar e Ele abraça-nos. A ternura!
Assim, podemos perguntar-nos se experimentámos esta ternura, e se, por nossa vez, nos tornámos suas testemunhas. Pois a ternura não é sobretudo uma questão emocional ou sentimental: é a experiência de nos sentirmos amados e acolhidos precisamente na nossa pobreza e miséria, e, por conseguinte, transformados pelo amor de Deus.
Deus não conta apenas com os nossos talentos, mas também com a nossa fraqueza redimida. Isto, por exemplo, faz São Paulo dizer que há um desígnio sobre a sua fragilidade. De facto, escreveu à comunidade de Corinto: «Para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza”» (2 Cor 12, 7-9). O Senhor não nos tira todas as fragilidades, mas ajuda-nos a caminhar com as fragilidades, pegando-nos pela mão. Pega pela mão as nossas fragilidades e põe-se perto de nós. Isto é ternura. A experiência da ternura consiste em ver o poder de Deus passar precisamente por aquilo que nos torna mais frágeis; mas sob condição de nos convertermos do olhar do Maligno que nos faz «olhar para a nossa fragilidade com um juízo negativo, ao passo que o Espírito trá-la à luz com ternura» (Patris corde, 2). «A ternura é a melhor forma para tocar o que há de frágil em nós» (ibid.). Observai como as enfermeiras, os enfermeiros, tocam as feridas dos doentes: com ternura, para não os ferir mais. E assim o Senhor toca as nossas feridas, com a mesma ternura. «Por isso, é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no sacramento da Reconciliação», na oração pessoal com Deus, «fazendo uma experiência de verdade e ternura. Paradoxalmente, também o Maligno pode dizer-nos a verdade – ele é mentiroso, mas arranja-se para nos dizer a verdade a fim de nos levar à mentira –; mas, se o faz, é para nos condenar». Ao contrário, o Senhor diz-nos a verdade e estende-nos a mão para nos salvar. «Entretanto nós sabemos que a Verdade vinda de Deus não nos condena, mas acolhe-nos, abraça-nos, ampara-nos, perdoa-nos» (cf. ibid.). Deus perdoa sempre: ponde isto na cabeça e no coração. Deus perdoa sempre. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas ele perdoa sempre, inclusive as coisas mais terríveis.
Faz-nos bem, então, espelharmo-nos na paternidade de José que é um espelho da paternidade de Deus, e perguntarmo-nos se permitimos que o Senhor nos ame com a sua ternura, transformando cada um de nós em homens e mulheres capazes de amar desta forma. Sem esta “revolução da ternura” – é necessária uma revolução da ternura! – corremos o risco de permanecer presos numa justiça que não nos permite erguer-nos facilmente e que confunde redenção com castigo. Por esta razão, hoje desejo recordar de um modo especial os nossos irmãos e irmãs que estão na prisão. É justo que quem erra pague pelo próprio erro, mas é também justo que aqueles que erraram possam redimir-se do seu erro. Não podem haver condenações sem janelas de esperança. Qualquer condenação tem sempre uma janela de esperança. Pensemos nos nossos irmãos e irmãs encarcerados, e pensemos na ternura de Deus por eles e rezemos por eles, para que encontrem naquela janela de esperança um caminho de saída rumo a uma vida melhor.
E concluamos com esta oração:
São José, pai na ternura,
ensinai-nos a aceitar que somos amados precisamente naquilo que é mais débil em nós.
Concedei que não coloquemos qualquer obstáculo
entre a nossa pobreza e a grandeza do amor de Deus.
Suscitai em nós o desejo de nos aproximarmos à reconciliação,
para que possamos ser perdoados e também que nos tornemos capazes de amar com ternura os nossos irmãos e irmãs na sua pobreza.
Estai próximo daqueles que erraram e que pagam o preço por isso;
ajudai-os a encontrar, juntamente com a justiça, a ternura para recomeçar.
E ensinai-lhes que a primeira maneira de recomeçar
é pedir sinceramente perdão, para sentir a carícia do Pai.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220119-udienza-generale.html
FC!#168 - São José o carpinteiro - Catequese 7
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Os evangelistas Mateus e Marcos, definem José como “carpinteiro” ou “marceneiro”. Escutámos anteriormente que o povo de Nazaré, ao ouvir Jesus falar, perguntava-se: «Não é este o filho do carpinteiro?» (13, 55; cf. Mc 6, 3). Jesus praticou o ofício do pai.
O termo grego tekton, utilizado para indicar o trabalho de José, foi traduzido de várias maneiras. Os Padres latinos da Igreja traduziram-no como “carpinteiro”. Mas tenhamos presente que na Palestina do tempo de Jesus, a madeira era utilizada não só para fazer arados e móveis vários, mas também para construir casas, que tinham armações de madeira e telhados em terraços feitos de vigas ligadas entre si com ramos e terra.
Portanto, “carpinteiro” ou “marceneiro” era uma qualificação genérica, indicando tanto os artesãos da madeira como os trabalhadores que se ocupavam de atividades relacionadas com a construção. Um ofício bastante duro, tendo que trabalhar com materiais pesados como a madeira, a pedra e o ferro. Sob o ponto de vista económico, não garantia grandes ganhos, como se pode deduzir do facto de Maria e José, quando apresentaram Jesus no Templo, terem oferecido apenas um casal de rolas ou de pombas (cf. Lc 2, 24), como a Lei prescrevia para os pobres (cf. Lv 12, 8).
Assim, o adolescente Jesus aprendeu esta profissão com o pai. Portanto, quando, adulto, começou a pregar, os seus concidadãos, surpreendidos, perguntavam-se: «De onde Lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres?» (Mt 13, 54), e escandalizavam-se com Ele (cf. v. 57), pois era o filho do carpinteiro, mas falava como um doutor da lei, e escandalizavam-se com isto.
Este dado biográfico sobre José e Jesus faz-me pensar em todos os trabalhadores do mundo, especialmente naqueles que trabalham arduamente em minas e em certas fábricas; naqueles que são explorados através do trabalho não declarado; nas vítimas do trabalho – vimos que ultimamente na Itália houve muitas – nas crianças que são obrigadas a trabalhar e naquelas que vasculham as lixeiras em busca de algo útil para baratear... Permito-me repetir o que disse: os trabalhadores escondidos, os trabalhadores que fazem trabalho pesado nas minas e em certas fábricas: pensemos neles. Naqueles que são explorados pelo trabalho clandestino, naqueles que contrabandeiam salários, às escondidas, sem reforma, sem nada. E se não trabalhas, tu, não tens segurança alguma. Há muito trabalho não declarado hoje em dia. Pensemos nas vítimas do trabalho, dos acidentes de trabalho; nas crianças que são obrigadas a trabalhar: isto é terrível! As crianças na idade de brincar devem brincar, mas em vez disso são forçadas a trabalhar como os adultos. Pensemos nas pobres crianças que vasculham as lixeiras à procura de algo que se possa baratear. Todos estes são nossos irmãos e irmãs, que ganham a vida desta forma, com trabalhos que não reconhecem a sua dignidade! Pensemos nisto. E isto está a acontecer hoje, no mundo, isto está a acontecer hoje! Mas também penso naqueles que estão desempregados: quantas pessoas vão bater às portas das fábricas, das empresas: “Mas, há alguma coisa a fazer?” – “Não, não há, não há...”. A falta de trabalho! E penso também naqueles que se sentem feridos na própria dignidade porque não conseguem encontrar um emprego. Voltam para casa: “Encontraste alguma coisa?” – “Não, nada... Passei na Cáritas e trouxe o pão”. O que dá dignidade não é levar o pão para casa. Podes recebê-lo na Cáritas: não, isto não dá dignidade. O que dá dignidade é ganhar o pão, e se não dermos ao nosso povo, aos nossos homens e mulheres, a capacidade de ganhar o pão, é uma injustiça social naquele lugar, naquela nação, naquele continente. Os governantes devem dar a todos a possibilidade de ganhar o pão, porque este ganho lhes dá dignidade. O trabalho é uma unção de dignidade, e isto é importante. Muitos jovens, muitos pais e mães vivem o drama de não ter um emprego que lhes permita viver serenamente, vivem um dia de cada vez. E muitas vezes a procura de uma ocupação torna-se tão dramática que são levados ao ponto de perderem toda a esperança e desejo de viver. Nestes tempos de pandemia, muitas pessoas perderam os empregos – sabemos isto – e algumas, esmagadas por um fardo insuportável, chegaram ao ponto de cometer suicídio. Gostaria hoje de lembrar cada um deles e as suas famílias. Façamos um momento de silêncio para recordar aqueles homens e mulheres desesperados porque não conseguem encontrar trabalho.
Não se tem suficientemente em conta o facto de o trabalho ser uma componente essencial da vida humana, e também do caminho da santificação. O trabalho não é apenas um meio de ganhar a vida: é também um lugar onde nos expressamos, nos sentimos úteis e aprendemos a grande lição da realidade, o que ajuda a vida espiritual a não se tornar espiritualismo. Infelizmente, porém, o trabalho com frequência é refém da injustiça social e, em vez de ser um meio de humanização, torna-se uma periferia existencial. Muitas vezes pergunto-me: com que espírito fazemos o nosso trabalho diário? Como lidamos com a fadiga? Vemos a nossa atividade ligada apenas ao nosso destino ou também ao destino dos outros? Com efeito, o trabalho é um modo de expressar a nossa personalidade, que é relacional por natureza. O trabalho é inclusive um modo para exprimir a nossa criatividade: cada um desempenha o trabalho à sua maneira, com o próprio estilo; o mesmo trabalho mas com estilo diverso.
É bom pensar que o próprio Jesus trabalhou e aprendeu esta arte com São José. Hoje devemos perguntar-nos o que podemos fazer para recuperar o valor do trabalho; e que contribuição podemos, como Igreja, oferecer para que ele possa ser resgatado da lógica do mero lucro e possa ser experimentado como direito e dever fundamental da pessoa, que exprime e incrementa a sua dignidade.
Estimados irmãos e irmãs, por tudo isto gostaria hoje de recitar convosco a oração que São Paulo VI elevou a São José a 1 de maio de 1969:
Ó São José,
Padroeiro da Igreja
vós que, ao lado do Verbo encarnado
trabalhastes todos os dias para ganhar o pão
tirando d’Ele a força para viver e labutar;
vós que experimentastes a ansiedade do amanhã,
a amargura da pobreza, a precariedade do trabalho:
vós que irradiais hoje, o exemplo da vossa figura,
humilde perante os homens
mas grandíssima diante de Deus,
protegei os trabalhadores na sua dura existência quotidiana,
defendendo-os do desânimo
da revolta negadora,
bem como das tentações do hedonismo;
e preservai a paz no mundo,
aquela paz que, por si só, pode garantir o desenvolvimento dos povos. Amém.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220112-udienza-generale.html
FC!#166 - São José, o pai putativo de Jesus - Catequese 6
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje meditaremos sobre São José como pai de Jesus. Os Evangelistas Mateus e Lucas, apresentam-no como o pai putativo de Jesus e não como pai biológico. Mateus especifica-o, evitando a fórmula “gerou”, utilizada na genealogia para todos os antepassados de Jesus; mas define-o como «esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado o Cristo» (1, 16). Enquanto Lucas afirma isto, dizendo que era pai de Jesus «como se supunha» (3, 23), isto é, aparecia como pai.
A fim de compreender a paternidade putativa ou legal de José, é necessário ter em mente que em tempos antigos no Oriente a instituição da adoção era muito comum, mais do que é hoje. Pensemos no caso comum em Israel do “levirato”, formulado da seguinte maneira no Deuteronómio: «Se os irmãos residirem juntos, e um deles morrer sem deixar filhos, a viúva não poderá casar com um estranho; o seu cunhado é que se juntará a ela e a tomará como mulher, observando o costume do levirato. E o primeiro filho que ela tiver usará o nome do irmão morto, a fim de que esse nome não se extinga em Israel» (25, 5-6). Por outras palavras, o pai desta criança é o cunhado, mas o pai legal continua a ser o falecido, que dá ao recém-nascido todos os direitos hereditários. O objetivo desta lei era duplo: assegurar a descendência do falecido e a preservação do património.
Como pai oficial de Jesus, José exerce o direito de impor o nome ao filho, reconhecendo-o juridicamente. Juridicamente é o pai, mas não generativamente, não o gerou.
Antigamente o nome era o compêndio da identidade de uma pessoa. Mudar o nome significava mudar a si mesmo, como no caso de Abrão, cujo nome Deus mudou para “Abraão”, que significa “pai de muitos”, pois, diz o Livro do Génesis, «farei de ti o pai de inúmeros povos» (17, 5). O mesmo vale para Jacob, que é chamado “Israel”, que significa “aquele que luta com Deus”, porque lutou com Deus para o forçar a conceder-lhe a bênção (cf. Gn 32, 29; 35, 10).
Mas, sobretudo, dar o nome a alguém ou a algo significava afirmar a própria autoridade sobre o que era denominado, como fez Adão quando conferiu um nome a todos os animais (cf. Gn 2, 19-20).
José já sabe que para o filho de Maria havia um nome estabelecido por Deus – o nome de Jesus é dado pelo seu verdadeiro pai, Deus – o nome “Jesus”, que significa “O Senhor salva”, como o Anjo lhe explicou: «Porque ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Este aspeto particular da figura de José permite-nos hoje refletir sobre a paternidade e a maternidade. E acho que isto é muito importante: pensar na paternidade, hoje. Pois vivemos numa época de notável orfandade. É curioso: a nossa civilização é um pouco órfã, e sente-se esta orfandade. Ajude-nos a figura de São José a entender como se resolve o sentido de orfandade que hoje nos faz tanto mal.
Não é suficiente pôr um filho no mundo para dizer que também somos pais ou mães. «Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exerce a paternidade a seu respeito» (Carta ap. Patris corde). Penso, em particular, em todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da adoção, que é uma atitude tão generosa e positiva. José mostra-nos que este tipo de vínculo não é secundário, não é uma alternativa. Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade. Quantas crianças no mundo estão à espera de alguém que cuide delas! E quantos cônjuges desejam ser pais e mães, mas não o conseguem por razões biológicas; ou, embora já tenham filhos, querem partilhar o afeto familiar com quantos não o têm. Não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o “risco” do acolhimento. E hoje, também, com a orfandade, existe um determinado egoísmo. Há dias, falei sobre o inverno demográfico que há atualmente: as pessoas não querem ter filhos, ou apenas um e nada mais. E muitos casais não têm filhos porque não querem, ou têm só um porque não querem outros, mas têm dois cães, dois gatos… Pois é, cães e gatos ocupam o lugar dos filhos. Sim, faz rir, entendo, mas é a realidade. E esta negação da paternidade e da maternidade diminui-nos, cancela a nossa humanidade. E assim a civilização torna-se mais velha e sem humanidade, porque se perde a riqueza da paternidade e da maternidade. E a Pátria que não tem filhos sofre e – como dizia alguém um pouco humoristicamente – “e agora quem pagará os impostos para a minha reforma, que não há filhos? Quem se ocupará de mim?”: ria, mas é a verdade. Peço a São José a graça de despertar as consciências e pensar nisto: em ter filhos. A paternidade e a maternidade são a plenitude da vida de uma pessoa. Pensai nisto. É verdade, existe a paternidade espiritual e a maternidade espiritual para quem se consagra a Deus; mas quem vive no mundo e se casa, deve pensar em ter filhos, em dar a vida, pois serão eles que lhes fecharão os olhos, que pensarão no seu futuro. E também, se não podeis ter filhos, pensai na adoção. É um risco, sim: ter um filho é sempre um risco, quer natural quer adotivo. Mas pior é não os ter, é negar a paternidade, negar a maternidade, tanto a real como a espiritual. A um homem e a uma mulher que voluntariamente não desenvolvem o sentido da paternidade e da maternidade, falta algo principal, importante. Pensai nisto, por favor. Espero que as instituições estejam sempre prontas a ajudar neste sentido da adoção, controlando seriamente, mas também simplificando o procedimento necessário para que se realize o sonho de tantos pequeninos que precisam de uma família, e de tantos cônjuges que desejam entregar-se com amor. Há tempos ouvi um testemunho de uma pessoa, um médico – importante a sua profissão – não tinha filhos e com a esposa decidiram adotar uma criança. E quando chegou o momento, ofereceram-lhes uma e disseram: “Mas não sabemos como será a saúde dela. Talvez possa ter alguma doença”. E ele – tinha-o visto – respondeu: “Se o senhor me tivesse perguntado isto antes de entrar, talvez teria dito não. Mas vi-o: aceito-a”. Esta é a vontade de ser pai, de ser mãe também na adoção. Não tenhais medo disto.
Rezo para que ninguém se sinta sem um vínculo de amor paterno. E quantos estão doentes de orfandade continuem em frente sem este sentimento tão negativo. Possa São José exercer a sua proteção e a sua ajuda sobre os órfãos; e que interceda pelos casais que desejam ter um filho. Por isto, rezemos juntos:
São José,
vós que amastes Jesus com amor de pai,
estai próximo das muitas crianças que não têm família
e que desejam um pai e uma mãe.
Apoiai os cônjuges que não podem ter filhos,
Ajudai-os a descobrir, através deste sofrimento, um projeto maior.
Fazei com que a ninguém falte uma casa, um relacionamento,
uma pessoa que se ocupe dele ou dela;
e curai o egoísmo daqueles que se fecham à vida,
para que possam abrir o coração ao amor. Amém.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220105-udienza-generale.html
FC!#165 - São José, migrante perseguido e corajoso - Catequese 5
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de vos apresentar São José como um migrante perseguido e corajoso. Assim o descreve o Evangelista Mateus. Esta particular vicissitude da vida de Jesus, que vê como protagonistas também José e Maria, é tradicionalmente conhecida como “a fuga para o Egito” (cf. Mt 2, 13-23). A família de Nazaré sofreu tal humilhação e experimentou em primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter que deixar a sua terra. Ainda hoje muitos dos nossos irmãos e irmãs são obrigados a viver a mesma injustiça e sofrimento. A causa é quase sempre a prepotência e a violência dos poderosos. Isto aconteceu também com Jesus.
Através dos Magos, o rei Herodes toma conhecimento do nascimento do “rei dos Judeus”, e a notícia perturba-o. Sente-se inseguro, sente-se ameaçado no seu poder. Assim reúne todas as autoridades de Jerusalém para se informar sobre o lugar do nascimento, e pede aos Magos para lho comunicarem com exatidão, a fim de que - diz falsamente - também ele possa ir adorá-lo. No entanto, compreendendo que os Magos tinham partido por outro caminho, concebeu um propósito nefasto: matar todas as crianças de Belém até aos dois anos, pois de acordo com o cálculo dos Magos, tal era a época em que Jesus tinha nascido.
Entretanto, um anjo ordena a José: « Levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o Menino para O matar» (Mt 2, 13). Pensemos em tantas pessoas que hoje sentem esta inspiração dentro: “Fujamos, escapemos, porque aqui é perigoso”. O plano de Herodes evoca o do Faraó, de lançar ao Nilo todos os meninos do povo de Israel (cf. Êx 1, 22). E a fuga para o Egito recorda toda a história de Israel, a partir de Abraão, que também viveu ali (cf. Gn 12, 10), até José, filho de Jacob, vendido pelos irmãos (cf. Gn 37, 36), tornando-se depois “chefe do país” (cf. Gn 41, 37-57); e a Moisés, que libertou o seu povo da escravidão dos egípcios (cf. Êx 1, 18).
A fuga da Sagrada Família para o Egito salva Jesus, mas infelizmente não impede que Herodes leve a cabo o seu massacre. Assim, encontramo-nos diante de duas personalidades opostas: por um lado, Herodes com a sua ferocidade e, por outro, José com o seu esmero e a sua coragem. Herodes quer defender o seu poder, a sua “pele” com uma crueldade impiedosa, como atestam também as execuções de uma das suas esposas, de alguns dos seus filhos e de centenas de adversários. Era um homem cruel, para resolver os problemas só tinha uma receita: “eliminar”. Ele é o símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje. E para eles, para estes tiranos, as pessoas não contam: conta o poder, e quando precisam de espaço de poder, eliminam as pessoas. E isto acontece ainda hoje: não temos que ir à história antiga, acontece hoje. É o homem que se torna “lobo” para os outros homens. A história está cheia de personalidades que, vivendo à mercê dos seus temores, procuram vencê-los, exercendo o poder de forma despótica e praticando gestos de violência desumanos. Mas não devemos pensar que só viveremos na perspetiva de Herodes se nos tornarmos tiranos, não! Na realidade, é uma atitude em que todos nós podemos cair, sempre que procuramos afugentar os nossos medos com a prepotência, ainda que seja apenas verbal ou feita de pequenos abusos cometidos para mortificar quem está ao nosso lado. Também nós temos no coração a possibilidade de ser pequenos Herodes.
José é o oposto de Herodes: em primeiro lugar, é «um homem justo» (Mt 1, 19), enquanto Herodes é um ditador; além disso, demonstra-se corajoso ao cumprir a ordem do Anjo. Podemos imaginar as peripécias que teve de enfrentar durante a longa e perigosa viagem, e as dificuldades que enfrentou durante a permanência num país estrangeiro, com outra língua: inúmeras dificuldades! A sua coragem sobressai também na hora do regresso quando, tranquilizado pelo Anjo, supera os seus compreensíveis receios, estabelecendo-se com Maria e Jesus em Nazaré (cf. Mt 2, 19-23). Herodes e José são dois personagens opostos, que refletem as duas faces da humanidade de sempre. É um lugar-comum errado considerar a coragem como virtude exclusiva do herói. Na realidade, a vida quotidiana de cada pessoa – a tua, a minha, de todos nós – exige coragem: não é possível viver sem a coragem! A coragem para enfrentar as dificuldades de cada dia. Em todos os tempos e culturas encontramos homens e mulheres corajosos que, para ser coerentes com a sua crença, superaram toda a espécie de dificuldades, suportando injustiças, condenações e até a morte. Coragem é sinónimo de fortaleza que, com a justiça, a prudência e a temperança, faz parte do grupo de virtudes humanas chamadas “cardeais”.
A lição que José nos deixa hoje é a seguinte: é verdade, a vida apresenta-nos sempre adversidades, perante as quais podemos sentir-nos também ameaçados, amedrontados, mas não é mostrando o pior de nós, como faz Herodes, que podemos superar certos momentos, mas agindo como José, que reage ao medo com a coragem da confiança na Providência de Deus. Hoje acho que é necessária uma oração por todos os migrantes, por todos os perseguidos, por todos aqueles que são vítimas de circunstâncias adversas: quer sejam circunstâncias políticas, históricas ou pessoais. Mas, pensemos em tantas pessoas vítimas das guerras que querem fugir da sua pátria e não conseguem; pensemos nos migrantes que empreendem este caminho para ser livres e muitos morrem ao longo da estrada ou no mar; pensemos em Jesus nos braços de José e Maria, em fuga, e vejamos n’Ele cada um dos migrantes de hoje. A migração de hoje é uma realidade diante da qual não podemos fechar os olhos. É um escândalo social da humanidade!
São José,
vós que experimentastes o sofrimento de quem deve fugir
vós que fostes obrigado a fugir
para salvar a vida dos entes mais queridos,
amparai todos aqueles que fogem por causa da guerra,
do ódio e da fome.
Ajudai-os nas suas dificuldades,
fortalecei-os na esperança e fazei com que encontrem acolhimento e solidariedade.
Guiai os seus passos e abri o coração de quantos os podem ajudar. Amém!
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211229_udienza-generale.html
FC!#164 - São José, homem do silêncio - Catequese 4
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos o nosso caminho de reflexão sobre São José. Depois de ter ilustrado o ambiente em que ele viveu, o seu papel na história da salvação e o seu ser justo e esposo de Maria, hoje gostaria de examinar outro aspeto importante da sua figura: o silêncio. Hoje, muitas vezes precisamos de silêncio. O silêncio é importante. Estou impressionado com um verso do Livro da Sabedoria que foi lido a pensar no Natal, que diz: “Quando a noite estava no silêncio mais profundo, a tua palavra desceu à terra”. No momento de maior silêncio Deus manifestou-se. É importante pensar no silêncio nesta época na qual ele parece ter tão pouco valor.
Os Evangelhos não registam quaisquer palavras de José de Nazaré, nada, nunca falou. Isto não significa que ele fosse taciturno, não, há uma razão mais profunda. Com este silêncio, José confirma o que Santo Agostinho escreveu: «Na medida em que cresce em nós a Palavra – o Verbo que se fez homem – diminuem as palavras» (Sermão 288, 5: PL 38, 1307). Na medida em que Jesus – a vida espiritual – cresce, as palavras diminuem. Isto que podemos definir o “papagalismo” – falar como papagaios continuamente – diminui um pouco. João Batista, que é «a voz que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor”» (Mt 3, 1), diz em relação ao Verbo: «Ele deve crescer e eu diminuir» (Jo 3, 30). Significa que Ele deve falar e eu devo ficar calado e José com o seu silêncio convida-nos a deixar espaço à Presença da Palavra feita carne, a Jesus.
O silêncio de José não é mutismo; é um silêncio cheio de escuta, um silêncio laborioso, um silêncio que faz emergir a sua grande interioridade. «O Pai pronunciou uma palavra, e foi o Filho – comentou São João da Cruz – e ela fala sempre em eterno silêncio, e no silêncio deve ser ouvida pela alma» (Dichos de luz y amor, BAC, Madrid, 417, n. 99).
Jesus cresceu nesta “escola”, na casa de Nazaré, com o exemplo diário de Maria e José. E não surpreende que ele próprio procurará espaços de silêncio nos seus dias (cf. Mt 14, 23) e convidará os seus discípulos a fazerem esta experiência, por exemplo: «Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto, e repousai um pouco» (Mc 6, 31).
Como seria bom se cada um de nós, seguindo o exemplo de São José, conseguisse recuperar esta dimensão contemplativa da vida aberta precisamente pelo silêncio. Mas todos sabemos por experiência que não é fácil: o silêncio assusta-nos um pouco, porque nos pede para entrarmos em nós mesmos e encontrarmos a parte mais verdadeira de nós. Muita gente tem receio do silêncio, deve falar, falar, falar ou ouvir rádio, televisão…, mas não pode aceitar o silêncio porque tem medo. O filósofo Pascal observou que «toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa: não saber ficar tranquilo num quarto» (Pensamentos, 139).
Queridos irmãos e irmãs, aprendamos de São José a cultivar espaços de silêncio, nos quais possa surgir outra Palavra, isto é, Jesus, a Palavra: a do Espírito Santo que habita em nós e que traz Jesus. Não é fácil reconhecer esta Voz, que muitas vezes se confunde com os milhares de vozes de preocupações, tentações, desejos e esperanças que nos habitam; mas sem este treino que provém precisamente da prática do silêncio, até a nossa fala pode adoecer. Sem a prática do silêncio o nosso falar adoece. Ele, em vez de fazer resplandecer a verdade, pode tornar-se uma arma perigosa. De facto, as nossas palavras podem tornar-se adulação, jactância, mentira, maledicência, calúnia. É um dado da experiência que, como nos lembra o Eclesiástico, «a língua mata mais do que a espada» (28, 18). Jesus disse-o claramente: quem fala mal do irmão ou da irmã, quem calunia o próximo, é homicida (cf. Mt 5, 21-22). Mata com a língua. Não acreditamos nisto, mas é a verdade. Recordemos as vezes que matamos com a língua, envergonhar-nos-íamos! Contudo, far-nos-á muito bem, tanto bem.
A sabedoria bíblica afirma que «morte e vida estão no poder da língua: quem fizer bom uso dela comerá o seu fruto» (Pr 18, 21). E o apóstolo Tiago, na sua Carta, desenvolve este antigo tema do poder, positivo e negativo, da palavra com exemplos impressionantes, diz assim: «Se alguém não peca pela palavra, esse é um homem perfeito, capaz de dominar o seu corpo [...] a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas [...] Com ela bendizemos a Deus Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição» (3, 2-10).
Por este motivo, devemos aprender de José a cultivar o silêncio: aquele espaço de interioridade nos nossos dias nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir. Não estou a dizer que devemos cair num mutismo, não, mas devemos cultivar o silêncio. Cada um olhe para dentro de si mesmo: muitas vezes estamos a fazer um trabalho e quando terminamos procuramos imediatamente o telemóvel para fazer outra coisa, somos sempre assim. E isto não ajuda, faz-nos escorregar para a superficialidade. A profundidade do coração cresce com o silêncio, um silêncio que não é mutismo, como eu disse, mas que deixa espaço à sabedoria, à reflexão e ao Espírito Santo. Por vezes temos medo dos momentos de silêncio, mas não devemos recear! O silêncio far-nos-á muito bem. E o benefício para os nossos corações curará também a nossa língua, as nossas palavras e, sobretudo, as nossas escolhas. Com efeito, José uniu o silêncio à ação. Ele não falou, mas fez, e assim mostrou-nos o que Jesus disse outrora aos seus discípulos: «Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos Céus» (Mt 7, 21). Palavras fecundas quando falamos e temos a recordação daquela canção “Parole, parole, parole…” [“Palavras, palavras, palavras…”] e nenhuma substância. Silêncio, falar o suficiente, às vezes morder a língua um pouquinho, que faz bem, em vez de dizer parvoíces.
Concluamos com uma oração:
São José, homem do silêncio,
vós que no Evangelho não proferistes palavra alguma,
ensinai-nos a jejuar de palavras vãs,
a redescobrir o valor das palavras que edificam, encorajam, consolam e apoiam.
Estai próximo de quantos sofrem por causa das palavras que ferem,
como as calúnias e as maledicências,
e ajudai-nos a unir sempre as ações às palavras. Amém.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211215_udienza-generale.html
FC!#163 - José, homem justo e esposo de Maria - Catequese 3
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos o nosso caminho de reflexão sobre a figura de São José. Hoje gostaria de explorar o seu ser “justo” e “noivo de Maria”, e assim dar uma mensagem a todos os noivos, incluindo os recém-casados. Muitos acontecimentos ligados a José são contados nos evangelhos apócrifos, ou seja, evangelhos não canónicos, que também influenciaram a arte e vários lugares de culto. Estes escritos, que não estão na Bíblia – são histórias que a piedade cristã narrava naquele tempo – respondem ao desejo de preencher as lacunas narrativas dos Evangelhos canónicos, aqueles que estão na Bíblia, os quais nos dão tudo o que é essencial para a fé e a vida cristã.
O evangelista Mateus. Isto é importante: o que diz o Evangelho sobre José? Não o que dizem os evangelhos apócrifos, que não são negativos nem maus; são bonitos, mas não são a Palavra de Deus. Ao contrário, os Evangelhos, que estão na Bíblia, são a Palavra de Deus. Entre eles está o evangelista Mateus que define José um homem “justo”. Ouçamos a sua narração: «Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente» (1, 18-19). Pois os noivos, quando a noiva não era fiel ou engravidava, deviam denunciá-la! E as mulheres naquele tempo eram apedrejadas. Mas José era justo. E disse: “Não, eu não farei isto. Ficarei calado”.
Para compreender o comportamento de José em relação a Maria, é útil recordar os costumes matrimoniais do antigo Israel. O matrimónio compreendia duas fases bem definidas. A primeira era como um noivado oficial, que já implicava uma nova situação: em particular, a mulher, embora continuasse a viver na casa do seu pai por mais um ano, era de facto considerada a “esposa” do noivo. Ainda não viviam juntos, mas era como se ela fosse sua esposa. O segundo ato era a transferência da noiva da casa do seu pai para a casa do noivo. Isto acontecia com uma procissão festiva, que completava o matrimónio. E as amigas da noiva acompanhavam-na até lá. De acordo com estes costumes, o facto que «antes que fossem viver juntos, Maria estava grávida», expunha a Virgem à acusação de adultério. E esta culpa, segundo a Lei antiga, devia ser punida com a lapidação (cf. Dt 22, 20-21). No entanto, na prática judaica posterior, uma interpretação mais moderada tinha-se tornado realidade e apenas impunha o ato de repúdio, com consequências civis e criminais para a mulher, mas não o apedrejamento.
O Evangelho diz que José era “homem de bem” precisamente porque estava sujeito à lei como qualquer israelita piedoso. Mas dentro dele, o amor por Maria e a confiança nela sugeriam um modo de salvar a observância da lei e a honra da sua esposa: ele decidiu dar-lhe o ato de repúdio em segredo, sem clamor, sem a sujeitar à humilhação pública. Escolheu o caminho do segredo, sem julgamento nem vingança. Mas quanta santidade em José! Nós, que assim que temos um pouco de notícias folclóricas ou negativas sobre alguém, vamos imediatamente à tagarelice! José, ao contrário, fica calado.
Mas o evangelista Mateus acrescenta: «José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados» (1, 20-21). A voz de Deus intervém no discernimento de José e, através de um sonho, revela-lhe um significado maior do que a sua própria justiça. E como é importante para cada um de nós cultivar uma vida justa e, ao mesmo tempo, sentir que estamos sempre a precisar da ajuda de Deus! Para poder alargar os nossos horizontes e considerar as circunstâncias da vida sob um ponto de vista diferente e mais amplo. Muitas vezes sentimo-nos prisioneiros pelo que nos aconteceu: “Mas vejam o que me aconteceu!” e continuamos prisioneiros daquela situação má que nos aconteceu; mas precisamente perante algumas circunstâncias da vida, que inicialmente parecem dramáticas, existe uma Providência que com o tempo toma forma e ilumina com significado até a dor que nos atingiu. A tentação é fecharmo-nos nessa dor, nesse pensamento das coisas desagradáveis que nos aconteceram. E isto não é bom. Leva à tristeza e à amargura. O coração amargo é tão triste.
Gostaria que fizéssemos uma pausa e refletíssemos sobre um pormenor desta história narrada no Evangelho que muitas vezes ignoramos. Maria e José são dois noivos que provavelmente tinham sonhos e expetativas sobre as suas vidas e o seu futuro. Deus parece intervir como um acontecimento inesperado na sua vicissitude, embora com alguma dificuldade inicial, ambos abrem o coração para a realidade que lhes é apresentada.
Estimados irmãos e irmãs, muitas vezes as nossas vidas não são como as imaginamos. Especialmente nas relações de amor, de afeto, temos dificuldade em passar da lógica do apaixonamento para a do amor maduro. E temos de passar do apaixonamento para o amor maduro. Vós, recém-casados, pensai bem nisto. A primeira fase é sempre marcada por um certo encantamento, que nos faz viver imersos num mundo imaginário que muitas vezes não corresponde à realidade dos factos. Mas precisamente quando o apaixonamento com as suas expetativas parece chegar ao fim, neste momento o verdadeiro amor pode começar. Com efeito, amar não é pretender que o outro ou a vida corresponda à nossa imaginação; pelo contrário, significa escolher com total liberdade assumir a responsabilidade pela vida que nos é oferecida. É por isso que José nos dá uma lição importante, ele escolheu Maria “com olhos abertos”. E podemos dizer que com todos os riscos. Pensai, no Evangelho de João, uma reprimenda que fazem os doutores da lei a Jesus é esta: “Não somos filhos que provêm de lá”, referindo-se à prostituição. Porque sabiam como Maria tinha engravidado e queriam difamar a mãe de Jesus. Para mim este é o trecho mais sujo e demoníaco do Evangelho. E o risco de José dá-nos esta lição: assumir a vida como vem. Deus interveio nela? Assumo-a. E José comportou-se como o anjo do Senhor lhe ordenara: de facto o Evangelho diz: «Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa a sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus» (Mt 1, 24-25). Os noivos cristãos são chamados a dar testemunho deste amor, que tem a coragem de passar da lógica do apaixonamento para a do amor maduro. E esta é uma escolha exigente que, em vez de aprisionar a vida, pode fortalecer o amor para que seja duradouro face às provações do tempo. O amor de um casal continua na vida e amadurece todos os dias. O amor do noivado é um pouco – permiti-me que o diga – um pouco romântico. Vós vivestes-o, mas depois começa o amor maduro, quotidiano, o trabalho, as crianças que chegam. E, por vezes, aquele romantismo desaparece um pouco. Mas não há amor? Sim, mas amor maduro. “Mas sabe, padre, por vezes discutimos...”. Isto acontece desde o tempo de Adão e Eva até aos dias de hoje: que os esposos brigam é o pão nosso de cada dia. “Mas não deveríamos discutir?”. Sim, é possível. “E padre, mas por vezes erguemos a voz” – “Acontece”. “E também por vezes os pratos voam” – “Acontece”. Mas como assegurar que não prejudica a vida do matrimónio? Escutai bem: nunca terminai o dia sem fazer a paz. Tivemos uma discussão, disse-te coisas más, meu Deus, disse-te palavras más. Mas agora o dia acaba: tenho de fazer a paz. Sabei por que? Porque a guerra fria do dia seguinte é muito perigosa. Não deixeis que no dia seguinte comece uma guerra. Por isso que se deve fazer as pazes antes de ir para a cama. Lembrai-vos sempre: nunca terminar o dia sem fazer a paz. E isto irá ajudar-vos na vida de casado. Este percurso do apaixonamento para o amor maduro é uma escolha exigente, mas devemos seguir por esse caminho.
E também desta vez concluímos com uma oração a São José.
São José,
vós que amastes Maria com liberdade
e optastes por renunciar da sua imaginação para criar espaço à realidade,
ajudai cada um de nós a deixarmo-nos surpreender por Deus
e acolher a vida não como um acontecimento imprevisto do qual nos devemos defender,
mas como um mistério que esconde o segredo da verdadeira alegria.
Obtende alegria e radicalidade para todos os noivos cristãos,
Mas conservando sempre a consciência
De que só a misericórdia e o perdão tornam o amor possível. Amém.
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211201_udienza-generale.html