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Domingo, 14 Mai 2023 07:25

FC!#354 - Quem foi Justino de Roma?

Vida

A julgar pelos nomes de seu pai, Prisco, seu avô, Báquio, e de seu próprio, Justino não é de origem judaica, embora nascido na Samaria. No cabeçalho de sua I Apologia 1,1, ele nos fornece detalhes de suas origens: “Ao imperador… Em prol dos homens de qualquer raça que são injustamente odiados e caluniados, eu, Justino, um deles, filho de Prisco, que o foi de Báquio, natural de Flávia Neápolis, na Síria Palestina, compus este discurso e esta petição”.

Flávia Neápolis foi fundada no ano 72 de nossa era, por Vespasiano, sobre a antiga Siquém. A cidade existe hoje sob o nome de Naplusa. Não se deve esquecer a importância deste sítio geográfico para a história religiosa de judeus e cristãos. Foi em Siquém que Deus apareceu a Abraão e este lhe dedicou um altar (cf. Gn 12,6-7). Ali se conservava a memória de um “poço de Jacó”, junto ao qual Jesus dialogou com a samaritana (cf. Jo 4,5-6). Foi em Siquém que Josué reuniu a grande assembléia das tribos para ratificar a aliança entre Deus e seu povo (cf. Js 24).

Outro dado indicativo de que Justino não era de origem judaica é que não conhecia o hebraico e não sofrera nenhuma influência do ambiente samaritano, nem mesmo era circunciso (cf. Diál. 28).
A data de seu nascimento deve ser situada por volta do ano 100 d.C. Sua conversão ao cristianismo parece ter ocorrido por volta do ano 132. Seriam duas as razões principais desta conversão: o desencanto com as filosofias que não lhe proporcionavam o saber tão procurado, e o corajoso enfrentamento da morte por parte dos cristãos. Nestas circunstâncias, o encontro com o ancião à beira mar, quando buscava a solidão, foi o ato decisivo (cf. Diál. 3).

Sua formação intelectual foi das mais aprimoradas. Segundo seu próprio testemunho, percorreu cidades e escolas filosóficas desejoso de conhecer a verdade, de tornar-se sábio. “Ardendo para ouvir o que é próprio e excelente na filosofia”, freqüentou os estóicos, peripatéticos, pitagóricos e platônicos (cf. Diál. 2,1-6) sem, contudo, encontrar respostas para seus anseios e suas indagações. Finalmente, através do ancião, teve conhecimento da “única filosofia certa e digna”, o cristianismo (Diál. 3-8).

Foi em Roma que Justino exerceu a maior parte de sua atividade. Ali abriu e dirigiu uma escola filosófica e escreveu suas obras.

Acusado perante Júnio Rústico, pelo filósofo cínico Crescente, foi decapitado, segundo a tradição, no ano 165. Há um relato de sua morte considerado autêntico, no Martirium S. Iustini et Sociorum, baseado nas atas oficiais do tribunal que o condenou. Segundo este documento, seis companheiros, discípulos provavelmente, o acompanharam no martírio.

As obras

Justino é, certamente, o melhor apologista do século II. Seu estilo, contudo, não é atraente. Não domina com mestria a arte de escrever. Nem chega a ser um pensador original e profundo, mas está a par das correntes filosóficas de seu tempo. É, assim, um grande erudito e um escritor convicto.

A dar crédito à declaração de Eusébio de Cesaréia, “Justino nos deixou um grande número de obras que testemunham uma inteligência culta e entregue ao estudo das coisas divinas, cheias de toda utilidade. A elas remeteremos os amigos do saber, depois de ter citado ultimamente as que vieram ao nosso conhecimento”. Quais seriam estas obras que chegaram até Eusébio e quais as que chegaram até nós? À primeira parte da pergunta responde o próprio Eusébio: “Em primeiro lugar, um discurso dirigido a Antonino, por sobrenome Pio, aos seus filhos e ao Senado romano, em favor de nossas doutrinas. Depois outro que contém a segunda Apologia em favor de nossa fé, dirigido ao que foi sucessor do citado imperador e leva seu mesmo nome de Antonino Vero, de cujo tempo estamos no presente falando (Marco Aurélio). Há outro discurso aos gregos no qual, fazendo larga exposição das questões discutidas entre nós e entre os filósofos gregos, discute sobre a natureza dos demônios (…). Chegou até nós ainda, outro escrito dirigido aos gregos, que intitulou Refutação, e outro Sobre a monarquia de Deus, que ele funda não só por nossas Escrituras, mas também pelos livros dos gregos. Além destes, há um intitulado Psaltès, e outro composto de escólios Sobre a alma, no qual, depois de expor as diversas opiniões relativas ao objeto de sua obra, propõe as opiniões dos filósofos gregos, que promete refutar, e expor sua própria opinião em outro escrito. Compôs também um Diálogo contra os judeus, que teve na cidade de Éfeso com Trifão, um dos mais famosos hebreus de então. Neste Diálogo, manifesta como a graça divina o conduziu à doutrina da fé, com que zelo havia anteriormente se dedicado às disciplinas filosóficas, e com que extraordinário fervor havia buscado a verdade (…). Muitos outros trabalhos seus correm entre os irmãos. Os escritos deste homem pareceram tão dignos de atenção que Ireneu cita palavras suas, primeiro no livro IV Contra as Heresias…” (HE, IV,18,1-9).
O próprio Justino alude, na I Apol. 26,8, a um escrito seu Contra todas as heresias que existiram até o presente e que estava disposto a pô-lo em mãos do imperador. Ireneu cita ainda um Contra Marcião, que se perdeu. Contudo, respondendo à segunda parte da pergunta, de todas estas obras citadas como sendo de Justino, somente chegaram até nós, como autênticas, as duas Apologias e o Diálogo com Trifão.

Concluindo esta apresentação geral, permitam-nos tomar as observações de um especialista: “O que, em Justino, conquista imediatamente nossa simpatia é o que eu chamaria de boa vontade de transparência de sua alma, sincera, leal, ardente entre todas. Essa alma se nos revela desde as primeiras linhas da Apologia; na dedicatória mesma, poucas palavras há, na literatura cristã primitiva, tão impressionantes como estas simples palavras: um deles. O que atrai e retém sobre ele a atenção do historiador é que o vemos preocupado, pela primeira vez, embora de maneira bastante confusa, pelo grande problema que a escola de Alexandria definirá muito mais exatamente, examinará com mais amplidão e método e resolverá, conseqüentemente, com mais êxito: o problema das relações entre a filosofia e a fé. A vida moral e intelectual de Justino tem sua fonte numa e noutra e pode-se dizer que ele soube conciliá-las, pois viveu de uma e de outra, já que não pudera viver sacrificando inteiramente uma ou outra” (A. Puech, Les Apologistes grecs du IIe siècle de notre ère, Paris, 1922, 52-53).

Data de composição

A data da composição desta obra pode ser deduzida de alguns dados internos. O primeiro está em sua própria dedicatória: ela é dirigida “Ao imperador Tito Élio Adriano Antonino Pio César Augusto, ao seu filho Veríssimo, filósofo, e a Lúcio, filho natural do César, filósofo e filho adotivo de Pio, amante do saber, ao sacro Senado e a todo o povo romano”. Ora, estes imperadores reinaram do ano 147 ao ano 161. A Apologia deve ter sido escrita ao longo destes 15 anos. Segundo, no capítulo 46,1, Justino menciona que uma das objeções contra a doutrina cristã era a de “dizermos que Cristo nasceu somente há cento e cinqüenta anos sob Quirino e ensinou sua doutrina mais tarde, no tempo de Pôncio Pilatos”. Embora se deva tomar o ano cento e cinqüenta como um arredondamento, pode-se pensar que a redação da I Apologia não se deu antes desta data. Finalmente, no capítulo 29,2-3, Justino menciona o caso de um jovem cristão que recorreu ao prefeito Félix de Alexandria, suplicando-lhe interceder junto ao governador da província uma licença para se castrar. Ora, os especialistas identificam o prefeito Félix como Minúcio Félix, o qual reinou em Alexandria do ano 148 a 154. A I Apologia, portanto, deve ter sido escrita por volta de 155.

Estrutura e conteúdo da obra

A I Ap. está assentada numa estrutura ternária. Os caps. 1-3 formam uma introdução. Nela Justino dirige-se ao imperador Antonino Pio e a seus filhos para pleitear a defesa dos cristãos. Roga ao imperador que assuma pessoalmente a análise das acusações que se fazem com freqüência contra os cristãos e julgue imparcialmente, sem preconceitos, isto é, não se deixe levar pelo vozerio da plebe. Os caps. 4-12 formam uma parte substancial da I Ap. Nela Justino condena a atitude oficial a respeito dos cristãos. Critica o procedimento judicial seguido regularmente pelo governo contra os cristãos e as falsas acusações lançadas contra eles. Protesta contra a absurda atuação das autoridades que castigam pelo simples fato de alguém reconhecer-se cristão. Para Justino, o nome “cristão” é igual ao de “filósofo”. Não prova nem a culpa nem a inocência de alguém. Estranha maneira esta de condenar alguém somente pelo fato de se chamar “cristão”. Geralmente é por um crime cometido que se condena alguém, não por causa do nome. Aqui, o nome é crime. Mas porque, se este nome não está unido a nenhum ato desleal? Ao contrário, Justino demonstra que as esperanças escatológicas, o medo da condenação eterna fazem com que os cristãos sejam leais, respeitosos, cidadãos exemplares, exceto no culto aos ídolos. Castiga-se, assim, condena-se só pelo nome, pois basta alguém negar ser cristão para ser libertado, basta confessá-lo para ser condenado. Os crimes dos quais se acusam os cristãos são, portanto, calúnias. Estes, de fato, não são ateus. Negam adoração aos deuses do império porque julgam este ato ridículo. Os cristãos não oferecem a Deus culto material porque o culto agradável é a imitação de suas virtudes.

A defesa dos cristãos não era, contudo, o único fim da Apologia. A melhor defesa é expor a verdade. Justino mostra confiança no poder da verdade. O melhor meio de refutar é, portanto, expor publicamente a verdade da doutrina cristã. Tenta, assim, construir uma justificação da religião cristã. Apresenta com detalhes a doutrina, o batismo e a eucaristia, seus fundamentos históricos e as razões para abraçá-la. É então que Justino recorre à noção de Lógos para explicar que Cristo é o primogênito de Deus, o Logos do qual todo o gênero humano compartilha: todos os que vivem em conformidade ao Logos são cristãos, mesmo quando são considerados ateus (I Ap. 64,2-3).

A partir do cap. 18, Justino trata da imortalidade da alma depois da morte com argumentos suspeitos e, da ressurreição que só é possível pela onipotência de Deus. Nos caps. 21-22, estabelece analogias entre as doutrinas estóica e cristã. Contudo, Justino não percebe que seu caminho é perigoso, minado, pois essa semelhança pode ser arma para negar a divindade e originalidade do cristianismo. Justino estará procurando um meio de se tornar acessível, de ser compreendido, de dizer que o cristianismo não era de outro mundo? Falar a própria língua do pagão? No cap. 23, apresenta um novo plano de demonstração da doutrina cristã. Nos caps. 24-29, só a doutrina recebida de Cristo e dos profetas que o precederam é a verdadeira e mais antiga que todos os escritores anteriores. Dado que o critério da verdade é a antiguidade, Justino, como antes dele os apologistas judaicos, insiste que os filósofos tomaram dos profetas e de Moisés as verdades que expressam em seus ensinamentos (I Ap, 59,1-6; 60,1-7).

Nos caps. 30-53, Justino afirma que, antes da encarnação, os demônios inventaram muitas armadilhas para apartar os homens da fé naquele mistério. Aí Justino identifica Cristo com a alma do mundo de Platão (Timeu, 366). Para ele, Platão teria haurido esta verdade de Nm 21,7-8. Finalmente, Justino defende os cristãos dizendo que neles o imperador tem os melhores colaboradores. Porque os cristãos são fiéis ao Evangelho, são também leais ao imperador e cumprem com mais fervor e prontidão do que nenhum outro cidadão seus deveres, “pois nosso Mestre nos ensinou a dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, isto é, adoração a Deus e só serviço e tributo a César. Portanto, não são inimigos do império, mas pela doutrina e pelo comportamento são os melhores servidores dos governadores, para manter a paz. Infelizmente, Justino apresenta a religião cristã como garantia, como estrutura que ajuda a manter a “ordem social”. O cristianismo perde assim toda sua força questionadora das estruturas dominantes, opressoras. No cap. 11, Justino diz que os cristãos não esperam por “reino deste mundo”. Logo, os cristãos não merecem ser perseguidos nem quanto à religião, nem por sua atitude ante o império.

Como explicar, então, as perseguições contra os cristãos? Por que gente de bem é perseguida enquanto os idólatras, adúlteros não são molestados? Para Justino, a perseguição contra os cristãos é instigação dos demônios. Aqui Justino se mostra inteiramente dependente de seu meio e de seu tempo. É também um dos pontos fracos de sua argumentação. O propósito dos demônios é de reduzir os homens a seus servos e assistentes. São instigadores do paganismo antes da vinda de Cristo e dos hereges agora.

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Fraternidade e eucaristia

65. De nossa parte, depois que assim foi lavado aquele que creu e aderiu a nós, nós o levamos aos que se chamam irmãos, no lugar em que estão reunidos, a fim de elevar fervorosamente orações em comum por nós mesmos, por aquele que acaba de ser iluminado e por todos os outros espalhados pelo mundo inteiro, suplicando que nos conceda, já que conhecemos a verdade, ser encontrados por nossas obras como homens de boa conduta e observantes do que nos mandaram, e assim consigamos a salvação eterna. Terminadas as orações, nos damos mutuamente o ósculo da paz. Depois àquele que preside aos irmãos é oferecido pão e uma vasilha com água e vinho; pegando-os, ele louva e glorifica ao Pai do universo através do nome de seu Filho e do Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças, por ter-nos concedido esses dons que dele provêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, todo o povo presente aclama, dizendo: “Amém”. Amém, em hebraico, significa “assim seja”. Depois que o presidente deu ação de graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam ministros ou diáconos dão a cada um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre os quais se pronunciou a ação de graças e os levam aos ausentes.

Teologia da eucaristia

66. Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou. De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças — alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne — é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado. Foi isso que os Apóstolos nas memórias por eles escritas, que se chamam Evangelhos, nos transmitiram que assim foi mandado a eles, quando Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: “Fazei isto em memória de mim, este é o meu corpo”. E igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: “Este é o meu sangue”, e só participou isso a eles. É certo que isso também, por arremedo, foi ensinado pelos demônios perversos para ser feito nos mistérios de Mitraj; com efeito, nos ritos de um novo iniciado, apresenta-se pão e uma vasilha de água com certas orações, como sabeis ou podeis informar-vos.

Liturgia dominical

67. Depois dessa primeira iniciação, recordamos constantemente entre nós essas coisas e aqueles de nós que possuem alguma coisa socorrem todos os necessitados e sempre nos ajudamos mutuamente. Por tudo o que comemos, bendizemos sempre ao Criador de todas as coisas, por meio de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo. No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: “Amém”. Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos. Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provisor de todos os que se encontram em necessidade. Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.

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Terça, 06 Dezembro 0107 06:00

Cartas de Inácio de Antioquia (Séc. II)

Cartas de Inácio de Antioquia

Introdução às cartas

Inácio aos Efésios

Inácio aos Magnésios

Inácio aos Tralianos

Inácio aos Romanos

Inácio aos Filadelfienses

Inácio aos Esmirniotas

Inácio a Policarpo

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Sexta, 06 Dezembro 0120 06:00

Carta a Diogneto (Séc. II)

Carta a Diogneto

Durante muitos e longos séculos, um elegante manuscrito composto em grego permaneceu ignorado no mais abissal dos silêncios. O texto, de origens até hoje misteriosas, só foi encontrado, e por acaso, no longínquo ano de 1436, em Constantinopla, junto com vários outros manuscritos endereçados a um certo “Diogneto”.

Se não há certeza sobre o seu autor, sabe-se que o destinatário do escrito era um pagão culto, interessado em saber mais sobre o cristianismo, aquela nova religião que se espalhava com força e vigor pelo Império Romano e que chamava a atenção do mundo pela coragem com que os seus seguidores enfrentavam os suplícios de uma vida de perseguições e pelo amor intenso com que amavam a Deus e uns aos outros.

O documento que passou para a posteridade como “a Carta a Diogneto” descreve quem eram e como viviam os cristãos dos primeiros séculos. Trata-se, para grande parte dos estudiosos, da “joia mais preciosa da literatura cristã primitiva.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2018/12/28/carta-a-diogneto-documento-que-descreve-quem-eram-e-viviam-os-cristaos-dos-primeiros-seculos/

Trecho do livro Patrística: Padres Apostólicos, Volume 1, Carta a Diogneto, parágrafos 5 e 6

“Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.

Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio.

Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, mesmo não tendo recebido dela nenhuma ofensa, porque a alma a impede de gozar dos prazeres mundanos; embora não tenha recebido injustiça por parte dos cristãos, o mundo os odeia, porque eles se opõem aos seus prazeres desordenados. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; os cristãos também amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; os cristãos estão no mundo, como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em uma tenda mortal; os cristãos também habitam, como estrangeiros, em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada no comer e no beber, a alma se aprimora; também os cristãos, maltratados, se multiplicam mais a cada dia. Esta é a posição que Deus lhes determinou; e a eles não é lícito rejeitá-la”.


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