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Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé a um dubium sobre a bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo

AO QUESITO PROPOSTO:
A Igreja dispõe do poder de abençoar as uniões de pessoas do mesmo sexo?

RESPONDE-SE:
Negativamente.

Nota explicativa

Em alguns âmbitos eclesiais, estão se difundindo projetos e propostas de bênçãos para uniões de pessoas do mesmo sexo. Não raro, tais projetos são motivados por uma sincera vontade de acolher e acompanhar as pessoas homossexuais, às quais se propõem caminhos de crescimento na fé, «para que quantos manifestam a tendência homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida»[1].

Em tais caminhos, a escuta da Palavra de Deus, a oração, a participação nas ações litúrgicas eclesiais e o exercício da caridade podem desempenhar um papel importante em vista de sustentar o empenho de ler a própria história e de aderir com liberdade e responsabilidade ao próprio chamado batismal, porque «Deus ama cada pessoa e o mesmo faz a Igreja»[2], rejeitando toda discriminação injusta.

Entre as ações litúrgicas da Igreja, revestem-se de especial importância os sacramentais, que «são sinais sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, são significados e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de ordem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida»[3]. O Catecismo da Igreja Católica especifica ainda que «os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela» (n. 1670).

Ao gênero dos sacramentais pertencem as bênçãos, com as quais a Igreja «chama os homens a louvar a Deus, convida-os a pedir a sua proteção, exorta-os a merecer, com a santidade da vida, a sua misericórdia»[4]. Estas, ainda, «instituídas de certo modo à imitação dos sacramentos, reportam-se sempre e principalmente a efeitos espirituais, que se obtêm por impetração da Igreja»[5].

Em consequência, para ser coerente com a natureza dos sacramentais, quando se invoca a bênção sobre algumas relações humanas, é necessário – além da reta intenção daqueles que dela participam – que aquilo que é abençoado seja objetiva e positivamente ordenado a receber e a exprimir a graça, em função dos desígnios de Deus inscritos na Criação e plenamente revelados por Cristo Senhor. São pois compatíveis com a essência da bênção dada pela Igreja somente aquelas realidades que de per si são ordenadas a servir a tais desígnios.

Por tal motivo, não é lícito conceder uma bênção a relações, ou mesmo a parcerias estáveis, que implicam uma prática sexual fora do matrimônio (ou seja, fora da união indissolúvel de um homem e uma mulher, aberta por si à transmissão da vida), como é o caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo[6]. A presença, em tais relações, de elementos positivos, que em si são dignos de ser apreciados e valorizados, não é porém capaz de torná-las honestas e, assim, um destinatário legítimo da bênção eclesial, pois tais elementos se encontram a serviço de uma união não ordenada ao desígnio do Criador.

Além disso, já que as bênçãos sobre as pessoas possuem uma relação com os sacramentos, a bênção das uniões homossexuais não pode ser considerada lícita, enquanto constituiria de certo modo uma imitação ou uma referência de analogia à bênção nupcial[7], invocada sobre o homem e a mulher que se unem no sacramento do Matrimônio, dado que «não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família»[8].

A declaração de ilicitude das bênçãos de uniões entre pessoas do mesmo sexo não é, e não quer ser, uma injusta discriminação, mas quer relembrar a verdade do rito litúrgico e de quanto corresponde profundamente à essência dos sacramentais, assim como a Igreja os entende.

A comunidade cristã e os Pastores são chamados a acolher com respeito e delicadeza as pessoas com inclinação homossexual, sabendo encontrar as modalidades mais adequadas, coerentes com o ensinamento eclesial, para anunciar a elas a totalidade do Evangelho. Tais pessoas, ao mesmo tempo, reconheçam a sincera proximidade da Igreja – que reza por elas, as acompanha, compartilha o seu caminho de fé cristã[9] – e acolham com disponibilidade os seus ensinamentos.

A resposta ao dubium proposto não exclui que sejam dadas bênçãos a indivíduos com inclinação homossexual[10], que manifestem a vontade de viver na fidelidade aos desígnios revelados de Deus, assim como propostos pelo ensinamento eclesial, mas declara ilícita toda forma de bênção que tenda a reconhecer suas uniões. Neste caso, a bênção não manifestaria a intenção de confiar à proteção e à ajuda de Deus alguns indivíduos, no sentido mencionado, mas de aprovar e encorajar uma escolha e uma praxe de vida que não podem ser reconhecidas como objetivamente ordenadas aos desígnios divinos revelados[11].

Entretanto, a Igreja recorda que Deus mesmo não deixa de abençoar cada um de seus filhos peregrinos neste mundo, porque para Ele «somos mais importantes que todos os pecados que podemos cometer»[12]. Mas não abençoa nem pode abençoar o pecado: abençoa o ser humano pecador, para que reconheça que é parte de seu desígnio de amor e se deixe transformar por Ele. De fato, Ele «aceita-nos como somos, mas nunca nos deixa como somos»[13].

Por tais motivos, a Igreja não dispõe, nem pode dispor, do poder de abençoar uniões de pessoas do mesmo sexo no sentido acima indicado.

O Sumo Pontífice Francisco, no curso de uma Audiência concedida ao abaixo assinado Secretário desta Congregação, foi informado e deu seu assentimento à publicação do mencionado Responsum ad dubium, com a Nota explicativa anexa.

Dado em Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 22 de fevereiro de 2021, Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo.

Luis F. Card. Ladaria, S.I.
Prefeito

+ Giacomo Morandi
Arcebispo tit. de Cerveteri
Secretário


Notas

[1] Francisco, Exort. Apost. pós-sinodal Amoris laetitia, n. 250.

[2] Sínodo dos Bispos, Documento final da XV Assembleia Geral Ordinária, n. 150.

[3] Concílio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 60.

[4] Rituale Romanum ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum, auctoritate Ioannis Pauli PP. II promulgatum, De benedictionibus, Praenotanda Generalia, n. 9.

[5] Ibidem, n. 10.

[6] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 2357.

[7] A bênção nupcial, de fato, remete à narrativa da Criação, na qual a bênção de Deus sobre o homem e a mulher está relacionada à sua união fecunda (cfr. Gn 1, 28) e à sua complementariedade (cfr. Gn 2, 18-24).

[8] Francisco, Exort. Apost. pós-sinodal Amoris laetitia, n. 251.

[9] Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Homosexualitatis problema, sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais, n. 15.

[10] O De benedictionibus apresenta um vasto elenco de situações para as quais se pode invocar a bênção do Senhor.

[11] Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Homosexualitatis problema, sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais, n. 7.

[12] Francisco, Audiência Geral de 2 de dezembro de 2020, Catequese sobre a oração: a bênção.

[13] Ibidem.

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AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A bênção (Catequese 17)

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje refletimos sobre uma dimensão essencial da oração: a bênção. Continuemos as reflexões sobre a oração. Nas narrações da criação (cf. Gn 1-2) Deus abençoa continuamente a vida, sempre. Abençoa os animais (1, 22), abençoa o homem e a  mulher (1, 28), e no final abençoa o sábado, dia de descanso e de fruição de toda a criação (2, 3). É Deus quem abençoa.  Nas primeiras páginas da Bíblia, é uma repetição contínua de bênçãos. Deus abençoa, mas também os homens abençoam, e depressa descobre-se que a bênção possui uma força especial, que acompanha o destinatário ao longo da vida e dispõe o coração humano a deixar-se mudar por Deus (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum concilium, 61).

Portanto, no início do mundo há Deus que “bendiz”, abençoa, bendiz. Ele vê que cada obra das suas mãos é boa e bela, e quando chega ao homem e se cumpre a criação, Ele reconhece que é «muito boa» (Gn 1, 31). Pouco tempo depois, aquela beleza que Deus imprimiu na sua obra será alterada e o ser humano tornar-se-á uma criatura degenerada, capaz de difundir o mal e a morte no mundo; mas jamais  nada poderá  apagar a primeira marca de Deus, uma marca de bondade que Deus colocou no mundo, na natureza humana, em todos nós: a capacidade de abençoar e o facto de sermos abençoados. Deus não errou com a criação, nem com a criação do homem. A esperança do mundo reside completamente na bênção de Deus: Ele continua a amar-nos, Ele primeiro, como diz o poeta Péguy, (Le porche du mystère de la deuxième vertu, 1ª ed. 1911. Ed. Port., Os portais do mistério da segunda virtude, Edições Paulinas, Portugal [2014]) continua a esperar o nosso bem.

A grande bênção de Deus é Jesus Cristo, é o grande dom de Deus, o seu Filho. É uma bênção para toda a humanidade, é uma bênção que nos salvou a todos. Ele é a Palavra eterna com a qual o Pai nos abençoou, «quando éramos ainda pecadores» (Rm 5, 8) diz São Paulo: Palavra que se fez carne e foi oferecida por nós na cruz.

São Paulo proclama com comoção o desígnio de amor de Deus e diz assim: «Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante dos seus olhos. No seu amor predestinou-nos para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por Ele no Amado» (Ef 1, 3-6). Não há pecado que possa cancelar completamente a imagem de Cristo presente em cada um de nós. Nenhum pecado pode cancelar aquela imagem que Deus nos concedeu. A imagem de Cristo.  Pode desfigurá-la, mas não a pode subtrair à misericórdia de Deus. Um pecador pode permanecer nos seus erros por muito tempo, mas Deus é paciente até ao fim, esperando que no final aquele coração se abra e mude. Deus é como um bom pai e como uma boa mãe, também Ele é uma boa mãe: nunca deixam de amar o seu filho, por mais que ele possa errar, sempre. Faz-me lembrar as muitas vezes que vi pessoas na fila para entrar na prisão. Tantas mães que esperam na fila para entrar e ver o seu filho na prisão: não deixam de amar o seu filho e sabem que as pessoas que passam no autocarro pensam “Ah, esta é a mãe do prisioneiro”. Contudo, não sentem vergonha, ou melhor, sentem vergonha, mas ficam ali, pois o filho é mais importante do que a vergonha. Portanto, somos mais importantes para Deus do que todos os pecados que podemos cometer, porque Ele é pai, Ele é mãe, Ele é puro amor, Ele abençoou-nos para sempre. E Ele nunca deixará de nos abençoar.

Uma forte experiência é ler estes textos bíblicos de bênção numa prisão, ou numa comunidade de recuperação. Fazer com que as pessoas que permanecem abençoadas apesar dos seus graves erros, sintam que o Pai celeste continua a amá-las e espera que elas finalmente se abram ao bem. Se até os seus parentes mais próximos os abandonaram porque agora são considerados irrecuperáveis, para Deus continuam a ser sempre filhos. Deus não pode cancelar em nós a imagem de filho, cada um de nós é filho, é filha.  Às vezes acontecem milagres: homens e mulheres renascem. Porque encontram a bênção que os unge como filhos. Pois a graça de Deus muda a vida: aceita-nos como somos, mas nunca nos deixa como somos.

Pensemos no que Jesus fez com Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10), por exemplo. Todos viam nele o mal; ao contrário, Jesus vê nele um vislumbre de bem, e dali, da sua curiosidade em ver Jesus, faz passar a misericórdia que salva. Assim, mudou primeiro o coração e depois a vida de Zaqueu. Nas pessoas menosprezadas e rejeitadas, Jesus via a bênção indelével do Pai. Zaqueu é um pecador público, ele praticou muitas ações  más, mas Jesus via aquele sinal indelével da bênção do Pai e por isso teve compaixão. Aquela frase que se repete tanto no Evangelho, “teve compaixão”, e aquela  compaixão leva Jesus a ajudá-lo e a mudar o seu coração. Mais ainda, chegou a identificar-se com cada pessoa em necessidade (cf. Mt 25, 31-46). No trecho do “protocolo” final sobre o qual seremos todos julgados, Mateus 25, Jesus diz: “Tive fome, estava nu, estava na prisão, estava no hospital, estava ali...”. 

A Deus que abençoa, nós também respondemos abençoando: -  Deus ensinou-nos a abençoar e nós devemos abençoar - é a oração de louvor, de adoração, de ação de graças. O Catecismo escreve: «A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode responder, bendizendo Aquele que é a fonte de toda a bênção» (n. 2626). A oração é alegria e gratidão. Deus não esperou que nos convertêssemos para começar a amar-nos, mas fê-lo muito antes, quando ainda estávamos no pecado.

Não  podemos só abençoar este Deus que nos abençoa, devemos abençoar tudo n'Ele, todo o povo, abençoar Deus e abençoar os irmãos, abençoar o mundo: esta é a raiz da mansidão cristã, a capacidade de se sentir abençoado e a capacidade de abençoar. Se todos fizéssemos isto, certamente não haveria guerras. Este mundo precisa de bênção e nós podemos dar a bênção e receber a bênção. O Pai ama-nos. E tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e a alegria de lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar. E aqui apenas uma palavra para as pessoas que estão habituadas a amaldiçoar, as pessoas que têm sempre na boca, até no coração, uma palavra negativa, uma maldição. Cada um de nós pode pensar: tenho o hábito de amaldiçoar desta maneira? E peçamos ao Senhor a graça de mudar este hábito porque temos um coração abençoado e de um coração abençoado a maldição não pode sair. Que o Senhor nos ensine a nunca amaldiçoar, mas a abençoar.

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QUARTA PARTE
A ORAÇÃO CRISTÃ

PRIMEIRA SEÇÃO
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ

ARTIGO 3

NO TEMPO DA IGREJA

2623. No dia de Pentecostes, o Espírito da promessa foi derramado sobre os discípulos, «reunidos no mesmo lugar» (Act 2, 1), enquanto O esperavam, «todos [...] perseveravam unânimes na oração» (Act 1, 14). O Espírito que ensina a Igreja e lhe recorda tudo quanto Jesus disse (92) vai também formá-la na vida de oração.

2624. Na primeira comunidade de Jerusalém, os crentes «eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações» (Act 2, 42). Esta sequência é típica da oração da Igreja: fundada sobre a fé apostólica e autenticada pela caridade, alimenta-se na Eucaristia.

2625. Estas orações são, em primeiro lugar, as que os fiéis ouvem e lêem nas Escrituras; mas eles actualizam-nas, em particular as dos salmos, a partir da sua realização em Cristo (93). O Espírito Santo, que assim recorda Cristo à sua Igreja orante, também a conduz para a verdade integral e suscita formulações novas que exprimirão o insondável mistério de Cristo operante na vida, sacramentos e missão da Igreja. Estas formulações desenvolver-se-ão nas grandes tradições litúrgicas e espirituais. As formas da oração, tais como as revelam as Escrituras apostólicas canónicas, continuam a ser normativas da oração cristã.

I. A bênção e a adoração

2626. A bênção exprime o movimento de fundo da oração cristã: ela é o encontro de Deus com o homem; nela se encontram e unem o dom de Deus e o acolhimento do homem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode responder bendizendo Aquele que é a fonte de toda a bênção.

2627. Exprimem este movimento duas formas fundamentais: umas vezes, a bênção sobe, levada por Cristo no Espírito Santo, para o Pai (nós O bendizemos por Ele nos ter abençoado) (94); outras vezes, implora a graça do Espírito Santo que, por Cristo, desce de junto do Pai (é Ele que nos abençoa) (95).

2628. A adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante do seu Criador. Exalta a grandeza do Senhor que nos criou (96) e a omnipotência do Salvador que nos liberta do mal. É a prostração do espírito perante o «Rei da glória» (97) e o silêncio respeitoso face ao Deus «sempre maior» (98). A adoração do Deus três vezes santo e soberanamente amável enche-nos de humildade e dá segurança às nossas súplicas.

II. A oração de petição

2629. O vocabulário da oração de súplica é rico de matizes no Novo Testamento: pedir, reclamar, chamar com insistência, invocar, bradar, gritar e, até, «lutar na oração» (99). Mas a sua forma mais habitual, porque mais espontânea, é a petição. É pela oração de petição que traduzimos a consciência da nossa relação com Deus: enquanto criaturas, não somos a nossa origem, nem donos das adversidades, nem somos o nosso fim último; mas também, sendo pecadores, sabemos, como cristãos, que nos afastamos do nosso Pai. A petição é já um regresso a Ele.

2630. O Novo Testamento quase não contém orações de lamentação, frequentes no Antigo. Doravante, em Cristo Ressuscitado, a petição da Igreja é sustentada pela esperança, embora ainda estejamos à espera e tenhamos de nos converter em cada dia. É de outra profundidade que brota a petição cristã, aquela a que São Paulo chama gemido: o da criação em «dores de parto» (Rm 8, 22) e também o nosso, «aguardando a libertação do nosso corpo», porque «foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8, 23-24); e, por fim, os «gemidos inefáveis» do próprio Espírito Santo, que «vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser» (Rm 8, 26).

2631. O pedido de perdão é o primeiro movimento da oração de petição (cf. o publicano: «Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador» (Lc 18, 13). É o preliminar duma oração justa e pura. A humildade confiante repõe-nos na luz da comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo, bem como dos homens uns com os outros (100). Nestas condições, «seja o que for que Lhe peçamos, recebê-lo-emos» (1 Jo 3, 22). O pedido de perdão é o preâmbulo da liturgia Eucarística, bem como da oração pessoal.

2632. A petição cristã está centrada no desejo e na busca do Reino que há-de vir, em conformidade com o ensinamento de Jesus (101). Há uma  hierarquia nas petições: primeiro, o Reino; depois, tudo quanto é necessário para o acolher e para cooperar com a sua vinda. Esta cooperação com a missão de Cristo e do Espírito Santo, que agora é a da Igreja, é o objecto da oração da comunidade apostólica (102). É a oração de Paulo, o apóstolo por excelência, que nos revela como a solicitude divina por todas as Igrejas deve animar a oração cristã (103). Pela oração, todo o cristão trabalha pela vinda do Reino.

2633. Quando se participa assim no amor salvífico de Deus, compreende-se que qualquer necessidade pode tornar-se objecto de pedido. Cristo, que tudo assumiu a fim de tudo resgatar, é glorificado pelos pedidos que dirigimos ao Pai em seu nome (104). É com esta certeza que Tiago (105) e Paulo nos exortam a orar em todas as ocasiões (106).

III. A oração de intercessão

2634. A intercessão é uma oração de petição que nos conforma de perto com a oração de Jesus. É Ele o único intercessor junto do Pai em favor de todos os homens, em particular dos pecadores (107). Ele «pode salvar de maneira definitiva aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus, uma vez que está sempre vivo, para interceder por eles» (Heb 7, 25). O próprio Espírito Santo «intercede por nós [...] intercede pelos santos, em conformidade com Deus» (Rm 8, 26-27).

2635. Interceder, pedir a favor de outrem, é próprio, desde Abraão, dum coração conforme com a misericórdia de Deus. No tempo da Igreja, a intercessão cristã participa na de Cristo: é a expressão da comunhão dos santos. Na intercessão, aquele que ora não «olha aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros» (Fl 2, 4), e chega até a rezar pelos que lhe fazem mal (108).

2636. As primeiras comunidades cristãs viveram intensamente esta forma de partilha (109). O apóstolo Paulo fá-las participar deste modo no seu ministério do Evangelho (110) mas ele próprio também intercede por elas (111). A intercessão dos cristãos não conhece fronteiras: «[...] por todos os homens, [...] por todos os que exercem a autoridade» (1 Tm 2, 1), pelos perseguidores (112), pela salvação dos que rejeitam o Evangelho (113).

IV. A oração de ação de graças

2637. A acção de graças caracteriza a oração da Igreja que, ao celebrar a Eucaristia, manifesta e cada vez mais se torna naquilo que é. De facto, pela obra da salvação, Cristo liberta a criação do pecado e da morte, para de novo a consagrar e fazer voltar ao Pai, para sua glória. A acção de graças dos membros do corpo participa na da sua Cabeça.

2638. Como na oração de petição, qualquer acontecimento e qualquer necessidade podem transformar-se em oferenda de acção de graças. As cartas de São Paulo muitas vezes começam e acabam por uma acção de graças, e nelas o Senhor Jesus está sempre presente: «Dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito» (1 Ts 5, 18); «perseverai na oração; sede, por meio dela, vigilantes em acções de graças» (Cl 4, 2).

V. A oração de louvor

2639. O louvor é a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus! Canta-O por Si próprio, glorifica-O, não tanto pelo que Ele faz, mas sobretudo porque ELE É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que O amam na fé, antes de O verem na glória. Por ela, o Espírito junta-Se ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus (114) e dá testemunho do Filho Único no qual fomos adoptados e pelo qual glorificamos o Pai. O louvor integra as outras formas de oração e leva-as Aquele que delas é a fonte e o termo: «o único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos» (1 Cor 8, 6).

2640. São Lucas registra muitas vezes no seu Evangelho a admiração e o louvor perante as maravilhas operadas por Cristo. Sublinha também os mesmos sentimentos perante as acções do Espírito Santo que são os Actos dos Apóstolos: a comunidade de Jerusalém (115), o entrevado curado por Pedro e João (116), a multidão que por tal facto dá glória a Deus (117), os pagãos da Pisídia, que, «cheios de alegria, glorificam a Palavra do Senhor» (Act 13, 48).

2641. «Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos inspirados; cantai e louvai ao Senhor no vosso coração» (Ef 5, 19) (118). Tal como os escritores inspirados do Novo Testamento, as primeiras comunidades cristãs relêem o livro dos Salmos, cantando neles o mistério de Cristo. Na novidade do Espírito, compõem também hinos e cânticos a partir do acontecimento inaudito que Deus realizou em seu Filho: a sua encarnação, a sua morte vitoriosa sobre a morte, a sua ressurreição e a sua ascensão à direita do Pai (119). É desta «maravilha» de toda a economia da salvação que sobe a doxologia, o louvor de Deus (120).

2642. A revelação «do que deve acontecer em breve», que é o Apocalipse, apoia-se nos cânticos da liturgia celeste (121), mas também na intercessão das «testemunhas» (isto é, dos mártires) (122). Os profetas e os santos, todos os que na terra foram mortos por causa do testemunho dado por Jesus (123), a multidão imensa daqueles que, vindos da grande tribulação, nos precederam no Reino, cantam o louvor da glória d'Aquele que está sentado no trono e do Cordeiro (124). Em comunhão com eles, a Igreja da terra canta também os mesmos cânticos, na fé e na provação. A fé, na súplica e na intercessão, espera contra toda a esperança e dá graças ao Pai das luzes de Quem procede todo o dom perfeito (125). Assim, a fé é um puro louvor.

2643. A Eucaristia contém e exprime todas as formas de oração: é «a oblação pura» de todo o corpo de Cristo «para glória do seu nome» (126); é, segundo as tradições do Oriente e do Ocidente, «o sacrifício de louvor».

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Sábado, 13 Janeiro 2024 10:40

FC!#395 - Sacramentais - CIC - §1667 - §1679

SEGUNDA PARTE
A CELEBRAÇÃO
DO MISTÉRIO CRISTÃO

SEGUNDA SECÇÃO
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

CAPÍTULO QUARTO
AS OUTRAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS

ARTIGO 1

OS SACRAMENTAIS

1667. «A Santa Mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são sinais sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de ordem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida» (1).

TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS SACRAMENTAIS

1668. São instituídos pela Igreja com vista à santificação de certos minis­térios da mesma Igreja, de certos estados de vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso de coisas úteis ao homem. Segundo as decisões pastorais dos bispos, podem também corresponder às necessidades, à cultura e à história próprias do povo cristão duma região ou duma época. Incluem sempre uma oração, muitas vezes acompanhada dum sinal determinado, como a imposição da mão, o sinal da cruz, a aspersão com água benta (que recorda o Baptismo).

1669. Eles decorrem do sacerdócio baptismal: todo o baptizado é chamado a ser uma «bênção» (2) e a abençoar (3). Por isso, há certas bênçãos que podem ser presididas por leigos (4). Porém, quanto mais uma bênção disser respeito à vida eclesial e sacramental, tanto mais a sua presidência será reservada ao ministério ordenado (bispos, presbíteros ou diáconos) (5).

1670. Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela. «Portanto, a liturgia dos sacramentos e sacramentais oferece aos fiéis bem dispostos a possibilidade de santificarem quase todos os acontecimentos da vida por meio da graça divina que deriva do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, mistério onde vão buscar a sua eficácia todos os sacramentos e sacramentais. E assim, quase não há uso honesto das coisas materiais que não possa reverter para este fim: a santificação dos homens e o louvor a Deus» (6).

FORMAS VARIADAS DOS SACRAMENTAIS

1671. Entre os sacramentais figuram, em primeiro lugar, as bênçãos (de pessoas, da mesa, de objectos e lugares). Toda a bênção é louvor de Deus e oração para obter os seus dons. Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus Pai, «com toda a espécie de bênçãos espirituais» (Ef 1, 3). É por isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o santo sinal da cruz de Cristo.

1672. Certas bênçãos têm um alcance duradoiro: são as que têm por fim consagrar pessoas a Deus e reservar objectos e lugares para usos litúrgicos. Entre as que são destinadas a pessoas (e que não devem confundir-se com a ordenação sacramental) figuram a bênção do abade ou abadessa dum mosteiro, a consagração das virgens e das viúvas, o rito da profissão religiosa e as bênçãos para certos ministérios da Igreja (leitores, acólitos, catequistas, etc.). Como exemplo das que dizem respeito a objectos, pode apontar-se a dedicação ou bênção de unta igreja ou de um altar, a bênção dos santos óleos, dos vasos e paramentos sagrados, dos sinos, etc.

1673. Quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objecto seja protegido contra a acção do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o (7) - e é d'Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar (8). Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração do Baptismo. O exorcismo solene, chamado «grande exorcismo», só pode ser feito por um presbítero e com licença do bispo. Deve proceder-se a ele com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja (9). O exorcismo tem por fim expulsar os demónios ou libertar do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata duma presença diabólica e não duma doença.

A RELIGIOSIDADE POPULAR

1674. Fora da liturgia dos sacramentos e dos sacramentais, a catequese deve ter em consideração as formas de piedade dos fiéis e a religiosidade popular. O sentimento religioso do povo cristão desde sempre encontrou a sua expressão em variadas formas de piedade, que rodeiam a vida sacramental da Igreja, tais como a veneração das relíquias, as visitas aos santuários, as peregrinações, as procissões, a via-sacra, as danças religiosas, o rosário, as medalhas, etc. (10).

1675. Estas manifestações são um prolongamento da vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem. «Devem ser organizadas, tendo em conta os tempos litúrgicos e de modo a harmonizarem-se com a liturgia, a dimanarem dela de algum modo e a nela introduzirem o povo; porque, por sua natureza, a liturgia lhes é, de longe, superior» (11).

1676. Para manter e apoiar a religiosidade popular, é necessário um discernimento pastoral. O mesmo se diga, se for caso disso, para purificar e corrigir o sentimento religioso subjacente a essas devoções e para fazer progredir no conhecimento do mistério de Cristo. A sua prática está submetida ao cuidado e às decisões dos bispos e às normas gerais da igreja (12).

«A religiosidade do povo, no seu núcleo, é um acervo de valores que responde com sabedoria cristã às grandes incógnitas da existência. A sapiência popular católica tem uma capacidade de síntese vital: engloba criadoramente o divino e o humano, Cristo e Maria, espírito e corpo, comunhão e instituição, pessoa e comunidade, fé e pátria, inteligência e afecto. Esta sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente a dignidade de toda a pessoa como filho de Deus, estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a encontrar a natureza e a compreender o trabalho e proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo no meio de uma vida muito dura. Esta sabedoria é também para o povo um princípio de discernimento, um instinto evangélico pelo qual capta espontaneamente quando se serve na Igreja o Evangelho e quando ele é esvaziado e asfixiado por outros interesses» (13).

Resumindo:

1677. Chamam-se sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cuja finalidade é preparar os homens para receberem os frutos dos sacramentos e santificarem as diferentes circunstâncias da vida.

1678. Entre os sacramentais, as bênçãos ocupam um lugar importante. Compreendem, ao mesmo tempo, o louvor de Deus pelas suas obras e a intercessão da Igreja para que os homens possam fazer uso dos dons de Deus segundo o espírito do Evangelho.

1679. Além da liturgia, a vida cristã nutre-se das variadas formas da piedade popular, enraizadas nas diferentes culturas. Procurando esclarecê-las com a luz da fé, a Igreja favorece as formas de religiosidade popular que exprimem um instinto evangélico e uma sabedoria humana, e que enriquecem a vida cristã.

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Comunicado à imprensa sobre a recepção de Fiducia supplicans

Escrevemos este Comunicado à imprensa para ajudar a esclarecer a recepção de Fiducia supplicans, recomendando ao mesmo tempo uma leitura completa e atenta da citada Declaração para compreender melhor o significado de sua proposta.

1.    Doutrina

Os compreensíveis pronunciamentos de algumas Conferências Episcopais sobre o documento Fiducia supplicans têm o valor de evidenciar a necessidade de um período mais longo de reflexão pastoral. Quanto foi expresso por essas Conferências Episcopais não pode ser intrepretado como uma oposição doutrinal, porque o documento é claro e clássico a respeito do matrimônio e da sexualidade. Existem diversas frases fortes na Declaração que não deixam dúvidas:

«A presente Declaração permanece firme quanto à doutrina tradicional da Igreja sobre o matrimônio, não admintindo nenhum tipo de rito litúrgico ou de bênçãos semelhantes a um rito litúrgico que possam criar confusão». Age-se diante de casais em situação irregular «sem convalidar oficialmente o seu status ou modificar de algum modo o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio» (Apresentação).

«São inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio, como “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos” e aquilo que o contradiz. Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme» (4).

«Tal é também o sentido do Responsum da então Congregação para a Doutrina da Fé, onde se afirma que a Igreja não tem o poder de conceder a bênção a uniões entre pessoas do mesmo sexo» (5).

«Dado que a Igreja desde sempre considerou moralmente lícitas somente aquelas relações sexuais  que são vividas ao interno do matrimônio, ela não tem o poder de conferir a sua bênção litúrgica quando esta, de qualquer modo, possa oferecer uma forma de legitimação moral a uma união que presuma ser um matrimônio ou a uma prática sexual extra-matrimonial» (11).

Evidentemente, não há espaço para se tomar distância doutrinal desta Declaração ou para considerá-la herética, contrária à Tradição da Igreja ou blasfema.

2.    Recepção prática

Alguns Bispos, todavia, exprimem-se em modo particular a respeito de um aspecto prático: as possíveis bênçãos de casais em situação irregular. A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais (não litúrgicas, nem ritualizadas) de casais irregulares (não das uniões), sublinhando que se trata de bênçãos sem forma litúrgica, que não aprovam nem justificam a situação em que se encontram essas pessoas.

Os documentos do Dicastério para a Dourina da Fé, como Fiducia supplicans, podem requerer, nos seus aspectos práticos, mais ou menos tempo para a sua aplicação, segundo os contextos locais e o discernimento de cada Bispo diocesano com a sua Diocese. Em alguns lugares não existem dificuldades para uma aplicação imediata, em outros há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação.

Alguns Bispos, por exemplo, estabeleceram que cada sacerdote deve realizar o discernimento, mas poderá dar essas bênçãos apenas de modo privado. Nada disso é problemático, se é expresso com o devido respeito por um texto assinado e aprovado pelo próprio Sumo Pontífice, buscando de algum modo acolher a reflexão nele contida.

Cada Bispo local, em virtude do próprio ministério, tem sempre o poder do discernimento in loco, isto é, naquele lugar concreto que ele melhor que outros conhece, porque é o seu rebanho. A prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local poderiam admitir diversas modalidades de aplicação, mas não uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes.

3.    A situação delicada de alguns países

O caso de algumas Conferências Episcopais deve ser compreendido no próprio contexto. Em diversos países existem fortes questões culturais e até mesmo legais que requerem tempo e estratégias pastorais a longo prazo.

Se existem legislações que condenam à prisão e, em alguns lugares, à tortura e até à morte o simples fato de declarar-se homossexual, entende-se que seria imprudente uma bênção. É evidente que os Bispos não queiram expor as pessoas homossexuais à violência. Permanece importante, porém, que estas Conferências Episcopais não sustentem uma doutrina diferente daquela da Declaração aprovada pelo Papa, enquanto é a doutrina de sempre, mas sobretudo que proponham a necessidade do estudo e do discernimento para agir com prudência pastoral em um tal contexto.

Na verdade, não são poucos os países que em diversa medida condenam, proíbem e criminalizam a homossexualidade. Nestes casos, além da questão das bênçãos, existe uma tarefa pastoral de grande amplitude, que inclui formação, defesa da dignidade humana, ensinamento da Doutrina Social da Igreja e diversas estratégias que não admitem pressa.

4.    A verdadeira novidade do documento

A verdadeira novidade desta Declaração, que requer um generoso esforço de recepção, do qual ninguém deveria declarar-se excluído, não é a possibilidade de abençoar casais irregulares. É o convite a distinguir duas formas diferentes de bênção: “litúrgicas ou ritualizadas” e “espontâneas ou pastorais”. Na Apresentação é explicado claramente que «o valor deste documento é […] aquele de oferecer uma contribuição específica e inovativa ao significado pastoral das bênçãos, que permite ampliar e enriquecer sua compreensão clássica, estreitamente ligada a uma perspectiva litúrgica». Esta «reflexão teológica, baseada sobre a visão pastoral de Papa Francisco, implica um verdadeiro desenvolvimento a respeito de quanto foi dito sobre as bênçãos no Magistério e nos textos oficiais da Igreja».

Como pano de fundo, encontra-se a avaliação positiva da “pastoral popular” que aparece em muitos textos do Santo Padre. Neste contexto, o Santo Padre nos convida a valorizar a fé do Povo de Deus, que mesmo em meio aos seus pecados sai da imanência e abre o seu coração para pedir a ajuda de Deus.

Por esta razão, mais que pela bênção a casais irregulares, o texto do Dicastério adotou a elevada forma de uma “Declaração”, que representa muito mais que um responsum ou que uma carta. O tema central, que convida particularmente a um aprofundamento que enriqueça a prática pastoral, é a compreensão mais ampla das bênçãos e a proposta de aumentar as bênçãos pastorais, que não exigem as mesmas condições daquelas realizadas num contexto litúrgico ou ritual. Em consequência, para além da polêmica, o texto requer um esforço de reflexão serena, feita com coração de pastor, livre de toda ideologia.

Mesmo que algum Bispo considere prudente para o momento não dar estas bênçãos, permanece verdadeiro que todos necessitamos crescer na convicção de que as bênçãos não ritualizadas não são uma consagração da pessoa ou do casal que as recebe, não justificam todas as suas ações, não ratificam a vida que leva. Quando o Papa nos pediu para crescer na compreensão mais ampla das bênçãos pastorais, ele nos propôs pensar um modo de abençoar que não implique tantas condições para realizar este gesto simples de proximidade pastoral, que é um meio para promover a abertura a Deus em meio às mais diversas circunstâncias.

5.    Como se apresentam concretamente estas “bênçãos pastorais”?

Para distinguir-se claramente das bênçãos litúrgicas ou ritualizadas, as “bênçãos pastorais” devem ser sobretudo muito breves (cfr. n. 28). Trata-se de bênçãos de poucos segundos, sem uso do Ritual de Bênçãos. Se se aproximam juntas duas pessoas para pedi-la, simplesmente implora-se ao Senhor paz, saúde e outros bens para estas duas pessoas que as pedem. Ao mesmo tempo, implora-se que possam viver o Evangelho de Cristo em plena fidelidade e que o Espírito Santo as livre de tudo que não corresponde à vontade divina e de tudo que requer purificação.

Esta forma de bênção não ritualizada, com a simplicidade e a brevidade de sua forma, não pretende justificar algo que não seja moralmente aceitável. Obviamente, não é um matrimônio, nem mesmo uma “aprovação”, nem a ratificação de coisa alguma. É unicamente a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus. Por isso, neste caso, o pastor não põe condições e não quer conhecer a vida íntima dessas pessoas.

Dado que alguns manifestaram dúvidas sobre como poderiam ser estas bênçãos, vejamos um exemplo concreto: imaginemos que em meio a uma grande peregrinação um casal de divorciados  em nova união diga ao sacerdote: “Por favor, nos dê uma bênção, não conseguimos encontrar trabalho, ele está muito doente, não temos uma casa, a vida está se tornando muito pesada: que Deus nos ajude!”.

Neste caso, o sacerdote pode recitar uma simples oração como esta: «Senhor, olha estes teus filhos, concede-lhes saúde, trabalho, paz e ajuda recíproca. Livra-os de tudo aquilo que contradiz o teu Evangelho e concede-lhes viver segundo a tua vontade. Amém». E conclui com o sinal da cruz sobre cada um deles.

Trata-se de 10 ou 15 segundos. Faz sentido negar este tipo de bênção a essas duas pessoas que a imploram? Não é o caso de sustentar a sua fé, pouca ou muita que seja; de ajudar a sua fraqueza com a bênção divina e de dar um canal a esta abertura à transcendência, que poderia conduzi-las a ser mais fiéis ao Evangelho?

Para afastar equívocos, a Declaração acrescenta que, quando a bênção é pedida por um casal em situação irregular, «ainda que expressa fora dos ritos previstos pelos livros litúrgicos […] esta bênção jamais será realizada conjuntamente a ritos civis de união e nem mesmo em relação a estes. Nem sequer com as roupas, gestos ou palavras próprios de um matrimônio. O mesmo vale quando a bênção é pedida por um casal do mesmo sexo» (39). É claro, portanto, que ela não deve acontecer num lugar importante do edifício sacro ou diante do altar, porque isto causaria confusão.

Por esta razão, cada Bispo na sua Diocese é autorizado pela Declaração Fiducia supplicans a ativar este tipo de bênçãos simples, com todas as recomendações de prudência e de atenção, mas em nenhum modo é autorizado a propor ou a ativar bênçãos que possam assemelhar-se a um rito litúrgico.

6.    Catequese

Em alguns lugares, talvez será necessária uma catequese que ajude a todos a entender que este tipo de bênção não é uma ratificação da vida que levam aqueles que a imploram. Menos ainda é uma absolvição, enquanto estes gestos estão longe de ser um sacramento ou um rito. São simples expressão de proximidade pastoral que não propõem as mesmas exigências de um sacramento nem de um rito formal. Deveremos habituar-nos todos a aceitar o fato que, se um sacerdote dá este tipo de bênçãos simples, não é um herético, não ratifica nada, não está negando a doutrina católica.

Podemos ajudar o Povo de Deus a descobrir que este tipo de bênção é um simples canal pastoral que ajuda as pessoas a manifestar a própria fé, ainda que sejam grandes pecadores. Por isso, ao dar esta bênção a duas pessoas que juntas se aproximam para implorá-la espontaneamente, não as estamos consagrando, nem nos estamos congratulando com elas, nem estamos aprovando o seu modo de união. Na verdade, o mesmo acontece quando abençoamos as pessoas individualmente, no sentido de que o indivíduo que pede uma bênção – não a absolvição – poderia ser um grande pecador, mas não por isso negamos este gesto paterno em meio à sua luta para sobreviver.

Se isto é esclarecido graças a uma boa catequese, podemos livrar-nos do medo de que nossas bênçãos exprimam algo de inadequado. Podemos ser ministros mais livres e talvez mais próximos e fecundos, com um ministério pleno de gestos de paternidade e de proximidade, sem medo de ser mal-interpretados.

Peçamos ao Senhor recém-nascido que derrame sobre todos uma generosa e graciosa bênção, para podermos viver um santo e feliz 2024.

Víctor Manuel Card. FERNÁNDEZ
Prefeito

Mons. Armando MATTEO
Secretário para a Seção Doutrinal

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Declaração Fiducia Supplicans
Sobre o significado pastoral das bênçãos

Tradução livre utilizando o Google Tradutor

Apresentação

Esta Declaração considera diversas questões que chegaram a este Dicastério nos últimos anos. Ao preparar o documento, o Dicastério, como é sua prática, consultou especialistas, empreendeu um cuidadoso processo de redação e discutiu o texto no Congresso da Seção Doutrinária do Dicastério. Durante esse período, o documento foi discutido com o Santo Padre. Finalmente, o texto da Declaração foi submetido ao Santo Padre para sua revisão, que o aprovou com a sua assinatura.

Enquanto se estudava o tema deste documento, foi divulgada a resposta do Santo Padre às Dubia de alguns Cardeais. Essa resposta forneceu esclarecimentos importantes para esta reflexão e representa um elemento decisivo para o trabalho do Dicastério. Dado que «a Cúria Romana é antes de tudo um instrumento ao serviço do sucessor de Pedro» (Ap. Const. Praedicate Evangelium, II, 1), o nosso trabalho deve favorecer, juntamente com a compreensão da doutrina perene da Igreja, a recepção do Ensinamento do Santo Padre.

Tal como acontece com a resposta acima mencionada do Santo Padre às Dubia de dois Cardeais, esta Declaração permanece firme na doutrina tradicional da Igreja sobre o casamento, não permitindo qualquer tipo de rito litúrgico ou bênção semelhante a um rito litúrgico que possa criar confusão. O valor deste documento, porém, é que oferece uma contribuição específica e inovadora ao significado pastoral das bênçãos, permitindo ampliar e enriquecer a compreensão clássica das bênçãos, que está intimamente ligada a uma perspectiva litúrgica. Tal reflexão teológica, baseada na visão pastoral do Papa Francisco, implica um verdadeiro desenvolvimento a partir do que foi dito sobre as bênçãos no Magistério e nos textos oficiais da Igreja. Isto explica porque este texto assumiu a tipologia de uma “Declaração”.

É precisamente neste contexto que se pode compreender a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimónio.

Esta Declaração pretende também ser uma homenagem ao Povo fiel de Deus, que adora o Senhor com tantos gestos de profunda confiança na sua misericórdia e que, com esta confiança, vem constantemente pedir a bênção da Mãe Igreja.

Victor Manuel Card. FERNANDEZ
Prefeito

Introdução

1. A confiança suplicante do povo fiel de Deus recebe o dom da bênção que brota do Coração de Cristo através da sua Igreja. O Papa Francisco oferece este lembrete oportuno: “A grande bênção de Deus é Jesus Cristo. Ele é o grande dom de Deus, seu próprio Filho. Ele é uma bênção para toda a humanidade, uma bênção que salvou a todos nós. Ele é o Verbo Eterno, com quem o Pai nos abençoou “quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8), como diz São Paulo. Ele é o Verbo feito carne, oferecido por nós na cruz.”[1]

2. Encorajado por uma verdade tão grande e consoladora, este Dicastério considerou várias questões, tanto de natureza formal como informal, sobre a possibilidade de abençoar os casais do mesmo sexo e - à luz da abordagem paternal e pastoral do Papa Francisco - de oferecer novos esclarecimentos sobre o Responsum ad dubium[2] que a Congregação para a Doutrina da Fé publicou em 22 de fevereiro de 2021.

3. O Responsum acima mencionado suscitou numerosas e variadas reacções: alguns saudaram a clareza do documento e a sua coerência com o ensinamento perene da Igreja; outros não partilharam a resposta negativa que deu à pergunta ou não consideraram suficientemente claras a formulação da sua resposta e as razões apresentadas na Nota Explicativa anexa. Para responder a esta última reação com a caridade fraterna, parece oportuno retomar o tema e oferecer uma visão que conjugue de maneira coerente os aspectos doutrinários com os pastorais, porque “todo ensinamento religioso deve, em última análise, refletir-se no caminho do professor”. de vida, que desperta o assentimento do coração pela sua proximidade, amor e testemunho”[3].

I. A Bênção no Sacramento do Matrimônio

4. A recente resposta do Papa Francisco à segunda das cinco questões colocadas por dois Cardeais[4] oferece uma oportunidade para explorar mais profundamente esta questão, especialmente nas suas implicações pastorais. Trata-se de evitar que “algo que não é casamento seja reconhecido como casamento”.[5] Portanto, ritos e orações que poderiam criar confusão entre o que constitui o casamento – que é a “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e mulher, naturalmente abertos à geração de filhos”[6] – e o que o contradiz é inadmissível. Esta convicção baseia-se na perene doutrina católica do casamento; é somente neste contexto que as relações sexuais encontram o seu significado natural, próprio e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme.

5. Esta é também a compreensão do matrimónio que o Evangelho oferece. Por esta razão, quando se trata de bênçãos, a Igreja tem o direito e o dever de evitar qualquer rito que possa contradizer esta convicção ou levar à confusão. Tal é também o significado do Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé, que afirma que a Igreja não tem o poder de conceder bênçãos às uniões de pessoas do mesmo sexo.

6. Deve-se sublinhar que no Rito do Sacramento do Matrimónio não se trata de uma bênção qualquer, mas de um gesto reservado ao ministro ordenado. Neste caso, a bênção dada pelo ministro ordenado está diretamente ligada à união específica de um homem e uma mulher, que estabelecem uma aliança exclusiva e indissolúvel com o seu consentimento. Este facto permite-nos realçar o risco de confundir a bênção dada a qualquer outra união com o Rito próprio do Sacramento do Matrimónio.

II. O significado das várias bênçãos

7. A resposta do Santo Padre acima mencionada convida-nos a ampliar e enriquecer o significado das bênçãos.

8. As bênçãos estão entre os sacramentais mais difundidos e em evolução. Com efeito, levam-nos a captar a presença de Deus em todos os acontecimentos da vida e recordam-nos que, mesmo no uso das coisas criadas, o ser humano é convidado a procurar Deus, a amá-lo e a servi-lo fielmente.[7] Por isso, as bênçãos têm como destinatários: as pessoas; objetos de culto e devoção; imagens sagradas; lugares de vida, de trabalho e de sofrimento; os frutos da terra e do trabalho humano; e todas as realidades criadas que remetem ao Criador, louvando-o e abençoando-o pela sua beleza.

O Significado Litúrgico do Rito de bênção

9. Do ponto de vista estritamente litúrgico, a bênção exige que o que é abençoado seja conforme à vontade de Deus, expressa nos ensinamentos da Igreja.

10. Com efeito, as bênçãos são celebradas em virtude da fé e ordenadas para o louvor de Deus e para o benefício espiritual do seu povo. Como explica o Livro das Bênçãos, “para que esta intenção se torne mais evidente, por uma antiga tradição, as fórmulas de bênção visam principalmente dar glória a Deus pelos seus dons, pedir os seus favores e restringir o poder do mal em o mundo».[8] Portanto, aqueles que invocam a bênção de Deus através da Igreja são convidados a «fortalecer as suas disposições através da fé, para a qual todas as coisas são possíveis» e a confiar «no amor que impele à observância dos mandamentos de Deus». [9] É por isso que, embora “há sempre e em toda parte uma oportunidade de louvar a Deus através de Cristo, no Espírito Santo”, há também o cuidado de fazê-lo com “coisas, lugares ou circunstâncias que não contradizem a lei ou o espírito do Evangelho».[10] Esta é uma compreensão litúrgica das bênçãos na medida em que são ritos oficialmente propostos pela Igreja.

11. Baseando-se nestas considerações, a Nota Explicativa da Congregação para a Doutrina da Fé ao seu Responsum 2021 recorda que quando uma bênção é invocada sobre certas relações humanas por um rito litúrgico especial, é necessário que o que é abençoado corresponda aos desígnios de Deus. escrito na criação e totalmente revelado por Cristo, o Senhor. Por esta razão, uma vez que a Igreja sempre considerou moralmente lícitas apenas as relações sexuais vividas dentro do casamento, a Igreja não tem o poder de conferir a sua bênção litúrgica quando isso de alguma forma ofereceria uma forma de legitimidade moral a uma união que presuma ser um casamento ou uma prática sexual extraconjugal. O Santo Padre reiterou o conteúdo desta Declaração nas suas Respostas às Dubia de dois Cardeais.

12. É preciso também evitar o risco de reduzir o significado das bênçãos apenas a este ponto de vista, pois isso nos levaria a esperar as mesmas condições morais para uma simples bênção que são exigidas na recepção dos sacramentos. Tal risco exige que ampliemos ainda mais esta perspectiva. Na verdade, existe o perigo de que um gesto pastoral tão querido e difundido seja submetido a demasiados pré-requisitos morais, que, sob a pretensão de controlo, poderiam ofuscar o poder incondicional do amor de Deus que constitui a base do gesto de bênção. .

13. Precisamente a este respeito, o Papa Francisco exortou-nos a não “perder a caridade pastoral, que deve permear todas as nossas decisões e atitudes” e a evitar sermos “juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”. à proposta do Santo Padre, desenvolvendo uma compreensão mais ampla das bênçãos.

Bênçãos nas Sagradas Escrituras

14. Para refletir sobre as bênçãos reunindo diferentes pontos de vista, primeiro precisamos ser iluminados pela voz das Escrituras.

15. “Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. Que o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz” (Números 6:24-26). Esta “bênção sacerdotal” que encontramos no Antigo Testamento, especificamente no Livro dos Números, tem um caráter “descendente”, pois representa a invocação de uma bênção que desce de Deus sobre o homem: é um dos textos mais antigos da bênção divina . Depois, há um segundo tipo de bênção que encontramos nas páginas bíblicas: aquela que “sobe” da terra ao céu, em direção a Deus. Bênção neste sentido equivale a louvar, celebrar e agradecer a Deus por sua misericórdia e sua fidelidade, pelas maravilhas que ele criou e por tudo o que aconteceu por sua vontade: “Bendize ao Senhor, minha alma, e tudo o que é dentro de mim, abençoe seu santo nome!” (Salmo 103:1).

16. A Deus que abençoa, também respondemos com bênção. Melquisedeque, rei de Salém, abençoa Abrão (cf. Gn 14.19); Rebeca é abençoada por membros da família pouco antes de se tornar noiva de Isaque (cf. Gn 24.60), que, por sua vez, abençoa seu filho, Jacó (cf. Gn 27.27). Jacó abençoa Faraó (cf. Gn 47.10), seus próprios netos, Efraim e Manassés (cf. Gn 48.20), e seus doze filhos (cf. Gn 49.28). Moisés e Arão abençoam a comunidade (cf. Êx 39.43; Lv 9.22). Os chefes de família abençoam os filhos nos casamentos, antes de embarcarem em viagem e na iminência da morte. Estas bênçãos, portanto, parecem ser uma dádiva superabundante e incondicional.

17. A bênção encontrada no Novo Testamento mantém essencialmente o mesmo significado que tinha no Antigo Testamento. Encontramos o dom divino que “desce”, a ação de graças humana que “sobe” e a bênção concedida pelo homem que “se estende” aos outros. Zacarias, tendo recuperado o uso da fala, bendiz ao Senhor pelas suas obras maravilhosas (cf. Lc 1,64). Simeão, enquanto segura nos braços o recém-nascido Jesus, bendiz a Deus por lhe ter concedido a graça de contemplar o Messias salvador, e depois abençoa os pais da criança, Maria e José (cf. Lc 2,34). Jesus abençoa o Pai no famoso hino de louvor e exultação que lhe dirigiu: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Mt. 11,25).

18. Em continuidade com o Antigo Testamento, também em Jesus a bênção não só sobe, referindo-se ao Pai, mas também desce, derramando-se sobre os outros como gesto de graça, proteção e bondade. O próprio Jesus implementou e promoveu esta prática. Por exemplo, ele abençoou as crianças: “E tomou-as nos braços e abençoou-as, impondo-lhes as mãos” (Marcos 10:16). E o caminho terreno de Jesus terminará precisamente com uma bênção final reservada aos Onze, pouco antes de ascender ao Pai: «E levantando as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi elevado ao céu” (Lucas 24:50-51). A última imagem de Jesus na terra é a de suas mãos levantadas no ato de abençoar.

19. No seu mistério de amor, através de Cristo, Deus comunica à sua Igreja o poder de abençoar. Concedida por Deus aos seres humanos e por eles concedida ao próximo, a bênção se transforma em inclusão, solidariedade e pacificação. É uma mensagem positiva de conforto, cuidado e encorajamento. A bênção expressa o abraço misericordioso de Deus e a maternidade da Igreja, que convida os fiéis a terem os mesmos sentimentos de Deus para com os seus irmãos e irmãs.

Uma compreensão teológico-pastoral das bênçãos

20. Quem pede uma bênção mostra-se necessitado da presença salvífica de Deus na sua vida e quem pede uma bênção à Igreja reconhece esta como sacramento da salvação que Deus oferece. Buscar uma bênção na Igreja é reconhecer que a vida da Igreja brota do ventre da misericórdia de Deus e nos ajuda a seguir em frente, a viver melhor e a responder à vontade do Senhor.

21. Para nos ajudar a compreender o valor de uma abordagem mais pastoral das bênçãos, o Papa Francisco exorta-nos a contemplar, com uma atitude de fé e de misericórdia paterna, o facto de que «quando alguém pede uma bênção, está a expressar uma petição pela ajuda de Deus, um apelo para viver melhor e a confiança num Pai que pode nos ajudar a viver melhor”.[12] Este pedido deve, em todos os sentidos, ser valorizado, acompanhado e recebido com gratidão. As pessoas que vêm espontaneamente pedir uma bênção mostram com este pedido a sua sincera abertura à transcendência, a confiança dos seus corações de que não confiam apenas nas suas próprias forças, a sua necessidade de Deus e o seu desejo de sair dos limites estreitos. deste mundo, encerrado em suas limitações.

22. Como nos ensina Santa Teresinha do Menino Jesus, esta confiança “é o único caminho que nos leva ao Amor que tudo concede. Com confiança, a fonte da graça transborda em nossas vidas […]. É muito apropriado, então, que depositemos confiança sincera não em nós mesmos, mas na misericórdia infinita de um Deus que nos ama incondicionalmente [...]. O pecado do mundo é grande, mas não infinito, enquanto o amor misericordioso do Redentor é realmente infinito.”[13]

23. Quando consideradas fora de um quadro litúrgico, estas expressões de fé encontram-se num âmbito de maior espontaneidade e liberdade. No entanto, “a natureza opcional dos exercícios piedosos não deve de forma alguma ser interpretada como implicando uma subestimação ou mesmo desrespeito por tais práticas. O caminho a seguir nesta área requer uma apreciação correta e sábia das muitas riquezas da piedade popular, [e] da potencialidade dessas mesmas riquezas». [14] Desta forma, as bênçãos tornam-se um recurso pastoral a ser valorizado, em vez de um recurso pastoral. risco ou problema.

24. Do ponto de vista da pastoral, as bênçãos devem ser avaliadas como atos de devoção que “são externos à celebração da Sagrada Eucaristia e dos outros sacramentos”. Na verdade, a “linguagem, o ritmo, o curso e a ênfase teológica” da piedade popular diferem “daqueles da ação litúrgica correspondente”. Por esta razão, “as práticas piedosas devem conservar o seu próprio estilo, simplicidade e linguagem, [e] as tentativas de impor-lhes formas de ‘celebração litúrgica’ devem sempre ser evitadas”[15].

25. A Igreja, além disso, deve evitar basear a sua práxis pastoral na natureza fixa de certos esquemas doutrinais ou disciplinares, especialmente quando conduzem a «um elitismo narcisista e autoritário, pelo qual, em vez de evangelizar, se analisa e classifica os outros, e em vez de abrir a porta à graça, esgotamos as nossas energias na inspeção e na verificação».[16] Assim, quando as pessoas pedem uma bênção, uma análise moral exaustiva não deve ser colocada como pré-condição para concedê-la. Pois, aqueles que buscam uma bênção não deveriam ser obrigados a ter perfeição moral prévia.

26. Nesta perspectiva, as Respostas do Santo Padre ajudam a expandir o pronunciamento de 2021 da Congregação para a Doutrina da Fé do ponto de vista pastoral. Pois, as Respostas convidam ao discernimento sobre a possibilidade de “formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam uma concepção errônea do casamento”[17] e, em situações que sejam moralmente inaceitáveis do ponto de vista objetivo, explicar o fato de que “a caridade pastoral exige que não tratemos simplesmente como ‘pecadores’ aqueles cuja culpa ou responsabilidade pode ser atenuada por vários fatores que afetam a imputabilidade subjetiva”.

27. Na catequese citada no início desta Declaração, o Papa Francisco propôs uma descrição deste tipo de bênção que é oferecida a todos sem exigir nada. Vale a pena ler estas palavras com o coração aberto, pois elas nos ajudam a compreender o significado pastoral das bênçãos oferecidas sem condições prévias: “É Deus quem abençoa. Nas primeiras páginas da Bíblia há uma repetição contínua de bênçãos. Deus abençoa, mas o ser humano também dá bênçãos, e logo se descobre que a bênção possui um poder especial, que acompanha quem a recebe ao longo da vida e dispõe o coração do homem para ser mudado por Deus. […] Então somos mais importantes para Deus do que todos os pecados que podemos cometer porque ele é pai, é mãe, é puro amor, nos abençoou para sempre. E ele nunca deixará de nos abençoar. É uma experiência poderosa ler estes textos bíblicos de bênção numa prisão ou num grupo de reabilitação. Fazer com que essas pessoas sintam que ainda são abençoadas, apesar dos seus graves erros, que o seu Pai celeste continua a desejar o seu bem e a esperar que no final se abram ao bem. Mesmo que os parentes mais próximos os tenham abandonado, porque agora os consideram irredimíveis, Deus sempre os vê como seus filhos».[19]

28. São diversas as ocasiões em que as pessoas pedem espontaneamente uma bênção, seja nas peregrinações, nos santuários, ou mesmo na rua, quando encontram um sacerdote. A título de exemplo, podemos referir o Livro das Bênçãos, que prevê vários ritos para abençoar as pessoas, incluindo os idosos, os doentes, os participantes num encontro de catequese ou de oração, os peregrinos, os que embarcam em viagem, os grupos e associações de voluntários, e mais. Essas bênçãos destinam-se a todos; ninguém deve ser excluído deles. Na introdução da Ordem para a Bênção dos Idosos, por exemplo, afirma-se que o objetivo desta bênção é “para que os próprios idosos recebam dos seus irmãos um testemunho de respeito e gratidão, enquanto junto com eles, nós dai graças ao Senhor pelos favores que dele receberam e pelo bem que fizeram com a sua ajuda».[20] Neste caso, o sujeito da bênção é o idoso, por quem e com quem se agradece. Deus pelo bem que fez e pelos benefícios recebidos. Ninguém pode ser impedido deste ato de dar graças, e cada pessoa – mesmo que viva em situações que não estão ordenadas ao plano do Criador – possui elementos positivos pelos quais podemos louvar ao Senhor.

29. Na perspectiva da dimensão ascendente, quando alguém se torna consciente dos dons do Senhor e do seu amor incondicional, mesmo em situações pecaminosas - particularmente quando uma oração é ouvida - o coração do crente eleva o seu louvor a Deus e abençoa-o. Ninguém está excluído deste tipo de bênção. Todos, individualmente ou em conjunto com outros, podem elevar o seu louvor e gratidão a Deus.

30. Contudo, a compreensão popular das bênçãos também valoriza a importância das bênçãos descendentes. Embora “não seja apropriado que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial estabeleça constante e oficialmente procedimentos ou rituais para todos os tipos de assuntos”,[21] prudência e sabedoria pastorais – evitando todas as formas graves de escândalo e confusão entre os fiéis - pode sugerir que o ministro ordenado se junte à oração daquelas pessoas que, embora numa união que não se compara de forma alguma ao casamento, desejam confiar-se ao Senhor e à sua misericórdia, invocar a sua ajuda e ser guiados para uma maior compreensão do seu plano de amor e de verdade.

III. Bênçãos dos casais em situação irregular e dos casais do mesmo sexo

31. No horizonte aqui traçado surge a possibilidade de bênçãos para casais em situação irregular e para casais do mesmo sexo, cuja forma não deve ser fixada ritualmente pelas autoridades eclesiais para não produzir confusão com a bênção própria do Sacramento do Matrimónio. Nesses casos, pode ser concedida uma bênção que não só tenha um valor ascendente, mas também envolva a invocação de uma bênção que desce de Deus sobre aqueles que - reconhecendo-se desamparados e necessitados de sua ajuda - não reivindicam uma legitimação de seu próprio status, mas que imploram que tudo o que é verdadeiro, bom e humanamente válido em suas vidas e em seus relacionamentos seja enriquecido, curado e elevado pela presença do Espírito Santo. Estas formas de bênção expressam uma súplica para que Deus conceda as ajudas que vêm dos impulsos do seu Espírito - o que a teologia clássica chama de “graça real” - para que as relações humanas amadureçam e cresçam na fidelidade ao Evangelho, para que sejam libertadas das suas imperfeições e fragilidades, e para que possam exprimir-se na dimensão sempre crescente do amor divino.

32. Com efeito, a graça de Deus atua na vida daqueles que não se dizem justos, mas que se reconhecem humildemente como pecadores, como todos os outros. Esta graça pode orientar tudo segundo os desígnios misteriosos e imprevisíveis de Deus. Por isso, com a sua sabedoria incansável e o seu cuidado maternal, a Igreja acolhe todos os que se aproximam de Deus com o coração humilde, acompanhando-os com aquelas ajudas espirituais que permitem a todos compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua existência.[22]

33. Trata-se de uma bênção que, embora não incluída em nenhum rito litúrgico,[23] une a oração intercessória à invocação da ajuda de Deus por parte de quem humildemente se dirige a Ele. Deus nunca rejeita ninguém que se aproxima dele! Em última análise, uma bênção oferece às pessoas um meio de aumentar a sua confiança em Deus. O pedido de bênção, portanto, expressa e alimenta a abertura à transcendência, à misericórdia e à proximidade de Deus em mil circunstâncias concretas da vida, o que não é pouca coisa no mundo em que vivemos. É uma semente do Espírito Santo que deve ser nutrida e não impedida.

34. A própria liturgia da Igreja convida-nos a adoptar esta atitude de confiança, mesmo no meio dos nossos pecados, falta de méritos, fraquezas e confusões, como testemunha esta bela Coleta do Missal Romano: “Deus Todo-poderoso e sempre vivo, que na abundância da tua bondade supera os méritos e os desejos daqueles que te suplicam, derrama sobre nós a tua misericórdia para perdoar o que a consciência teme e para dar o que a oração não ousa pedir” (Coleta para o Vigésimo Sétimo Domingo Ordinário Tempo). Quantas vezes, através da simples bênção de um pastor, que não pretende sancionar nem legitimar nada, as pessoas podem experimentar a proximidade do Pai, para além de todos os “méritos” e “desejos”?

35. Portanto, a sensibilidade pastoral dos ministros ordenados também deve ser formada para realizar espontaneamente bênçãos que não se encontram no Livro das Bênçãos.

36. Neste sentido, é essencial compreender a preocupação do Santo Padre para que estas bênçãos não ritualizadas nunca deixem de ser simples gestos que constituem um meio eficaz para aumentar a confiança em Deus por parte das pessoas que as pedem, cuidando para que não deve tornar-se um ato litúrgico ou semilitúrgico, semelhante a um sacramento. Com efeito, tal ritualização constituiria um grave empobrecimento porque submeteria um gesto de grande valor na piedade popular a um controlo excessivo, privando os ministros da liberdade e da espontaneidade no seu acompanhamento pastoral da vida das pessoas.

37. A este respeito, vêm à mente as seguintes palavras do Santo Padre, já citadas em parte: “As decisões que podem fazer parte da prudência pastoral em certas circunstâncias não devem necessariamente tornar-se uma norma. Isto é, não é apropriado que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial estabeleça constante e oficialmente procedimentos ou rituais para todos os tipos de assuntos […]. O Direito Canônico não deve e não pode abranger tudo, nem as Conferências Episcopais devem pretender fazê-lo com os seus diversos documentos e protocolos, uma vez que a vida da Igreja flui através de muitos canais além dos normativos.”[24] Assim o Papa Francisco recordou que “ o que faz parte de um discernimento prático em circunstâncias particulares não pode ser elevado ao nível de regra” porque isso “levaria a uma casuística intolerável”[25].

38. Por esta razão, não se deve prever nem promover um ritual para a bênção dos casais em situação irregular. Ao mesmo tempo, não se deve impedir ou proibir a proximidade da Igreja às pessoas em todas as situações em que possam procurar a ajuda de Deus através de uma simples bênção. Numa breve oração que precede esta bênção espontânea, o ministro ordenado poderia pedir que os indivíduos tivessem paz, saúde, espírito de paciência, diálogo e assistência mútua – mas também a luz e a força de Deus para poderem cumprir completamente a sua vontade.

39. Em todo o caso, precisamente para evitar qualquer forma de confusão ou escândalo, quando a oração de bênção é solicitada por um casal em situação irregular, mesmo que seja expressa fora dos ritos prescritos pelos livros litúrgicos, esta bênção nunca deve ser transmitido em simultâneo com as cerimônias de uma união civil, e nem mesmo em conexão com elas. Nem pode ser realizado com roupas, gestos ou palavras próprias de um casamento. O mesmo se aplica quando a bênção é solicitada por um casal do mesmo sexo.

40. Tal bênção pode, pelo contrário, encontrar o seu lugar noutros contextos, como uma visita a um santuário, um encontro com um sacerdote, uma oração recitada em grupo ou durante uma peregrinação. Com efeito, através destas bênçãos que são concedidas não através das formas rituais próprias da liturgia, mas como expressão do coração materno da Igreja - semelhantes às que emanam do núcleo da piedade popular - não se pretende legitimar nada, mas antes abrir a vida a Deus, para pedir a sua ajuda para viver melhor, e também para invocar o Espírito Santo para que os valores do Evangelho sejam vividos com maior fidelidade.

41. O que foi dito nesta Declaração sobre as bênçãos dos casais do mesmo sexo é suficiente para orientar o discernimento prudente e paternal dos ministros ordenados a este respeito. Assim, além da orientação fornecida acima, não se devem esperar mais respostas sobre possíveis maneiras de regular detalhes ou aspectos práticos relativos a bênçãos deste tipo.[26]

IV. A Igreja é o Sacramento do Amor Infinito de Deus

42. A Igreja continua a elevar aquelas orações e súplicas que o próprio Cristo – com grandes gritos e lágrimas – ofereceu na sua vida terrena (cf. Hb 5, 7), e que por isso gozam de especial eficácia. Desta forma, «não só pela caridade, pelo exemplo e pelas obras de penitência, mas também pela oração, a comunidade eclesial exerce uma verdadeira função materna na condução das almas a Cristo».[27]

43. A Igreja é, portanto, sacramento do amor infinito de Deus. Portanto, mesmo quando a relação de uma pessoa com Deus está obscurecida pelo pecado, ela sempre pode pedir uma bênção, estendendo a mão a Deus, como fez Pedro na tempestade quando clamou a Jesus: “Senhor, salva-me!” (Mateus 14:30). Na verdade, desejar e receber uma bênção pode ser o bem possível em algumas situações. O Papa Francisco recorda-nos que «um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que uma vida que parece exteriormente ordenada, mas que atravessa o dia sem enfrentar grandes dificuldades».[28] Desta forma, «o que resplandece é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou dos mortos».[29]

44. Qualquer bênção será uma oportunidade para um renovado anúncio do querigma, um convite a aproximar-nos cada vez mais do amor de Cristo. Como ensinou o Papa Bento XVI: “Como Maria, a Igreja é mediadora da bênção de Deus para o mundo: recebe-a ao receber Jesus e transmite-a ao dar-Lhe. Ele é a misericórdia e a paz que o mundo, por si só, não pode dar e da qual necessita sempre, pelo menos tanto quanto de pão».

45. Tendo em conta os pontos acima expostos e seguindo o ensinamento autorizado do Papa Francisco, este Dicastério deseja finalmente recordar que “a raiz da mansidão cristã” é “a capacidade de sentir-se bem-aventurado e a capacidade de abençoar [...]. Este mundo precisa de bênçãos e podemos dar e receber bênçãos. O Pai nos ama, e a única coisa que nos resta é a alegria de abençoá-lo, e a alegria de agradecer-lhe e de aprender com ele [...] a abençoar”. a Irmã poderá sentir que, na Igreja, são sempre peregrinos, sempre mendigos, sempre amados e, apesar de tudo, sempre abençoados.

Victor Manuel Card. FERNANDEZ
Prefeito

Mons. Armando Matteo
Secretário da Seção Doutrinária

Ex Audientia morre em 18 de dezembro de 2023
Francisco

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