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Leitura do texto “A Cruz e o Crucifixo”, de Fulton Sheen (1934).


A primeira questão a ser introduzida na história do mundo e a qual nos trouxe tanta dor e inimizade foi: “por que?”. Satanás foi o primeiro a levantar essa questão… “Mas por que Deus proibiu-lhes de comer do fruto de todas as árvores do Jardim?” (Gn 3, 1).

Desde aquele dia até hoje nossas pobres mentes já formularam muitos “por quês”, mas nenhum tanto quanto esse: “Por que existe a dor no mundo? Por que as pessoas tem que sofrer tanto? Por que a alegria é tão pouca e o sofrimento tanto?”

Esse problema da dor tem um símbolo e o símbolo é a cruz. Mas por que seria a cruz o símbolo perfeito do sofrimento? Porque ela é feita de duas barras: uma horizontal e outra vertical. A barra horizontal é a barra da morte… é como a linha da morte nos eletro-encefalogramas: reta, prostrada. A barra vertical é a barra da vida: ereta, de pé, inclinada para o alto. O cruzamento de uma barra sobre a outra significa a contradição entre a vida e a morte, entre a alegria e o sofrimento, sorriso e lágrimas, prazer e dor, nossa vontade e a vontade de Deus.

O único modo de se fazer uma cruz é sobrepor a barra da alegria sobre a barra do sofrimento. Em outras palavras: nossa vontade é a barra horizontal, enquanto a vontade de Deus é a barra vertical. Na medida em que nós sobrepomos nossos desejos e nossas vontades contra a vontade de Deus, formamos assim uma cruz. Desse modo, a cruz se torna o símbolo da dor e do sofrimento.

Todavia, se a cruz é o símbolo perfeito do problema da dor, o Crucifixo então é a sua solução. A diferença entre a cruz e o Crucifixo é Cristo. Uma vez que Nosso Senhor, que é por si só o Amor, sobe na cruz, Ele nos revela como o amor pode ser transformado pelo amor num alegre sacrifício, como aqueles que semeiam em lágrimas podem colher com alegria, como aqueles que choram podem ser confortados, como aqueles que sofrem com Ele podem também reinar com Ele e como aqueles que carregam suas cruzes por uma breve Sexta Feira da Paixão possuirão a felicidade por um eterno Domingo de Ressurreição. O Amor é o ponto de interseção onde a barra horizontal da morte e a barra vertical da vida reconciliam-se na doutrina de que toda a vida vem através da morte.

É aqui que a solução de Nosso Senhor se diferencia de todas as outras soluções para o problema da dor… até mesmo daquelas pseudo-soluções que se mascaram sob o nome de “cristãs”. O mundo tenta resolver o problema da dor de duas maneiras: ou negando-o ou tentanto torná-lo insolúvel. O problema da dor é negado por um peculiar processo de auto-hipnotismo que costuma inculcar nas pessoas a ideia de que a dor é imaginária. Tenta-se torná-lo insolúvel através de uma tentativa de fuga e, por essa razão, o homem moderno sente que é melhor pecar do que sofrer. Nosso Senhor, ao contrário, não nega a dor e nem tenta escapar dela. Ele a encara e ao agir assim Ele nos prova que o sofrimento não é alheio nem mesmo ao Deus que se fez homem.

Vemos assim que a dor desempenha um papel definitivo na vida. É sem dúvida um fato marcante que nossas sensibilidades são mais desenvolvidas para a dor do que para o prazer e nossa capacidade de sofrer excede nossa capacidade de alegrarmo-nos. O prazer cresce até chegar a um ponto de saciedade e nós sentimos que se passasse daquele ponto se tornaria uma verdadeira tortura. A dor, ao contrário, continua crescendo e crescendo mesmo quando já choramos “o bastante”. Ela atinge um ponto em que nós sentimos que não poderíamos mais suportar e ela vai se descarregando até matar.

Eu penso que o motivo pelo qual nós possuímos mais capacidade para a dor do que para o prazer é porque talvez Deus pretendia que aqueles que levam uma vida moral correta deveriam beber até a última gota do cálice da amargura aqui nesse mundo porque no Céu não existe mais amargor. Por outro lado, aqueles que são moralmente bons nunca gozam o máximo do prazer aqui embaixo porque sabem que uma felicidade muito maior os aguarda no Céu. Mas deixando de lado as conjecturas, seja lá qual for a razão, a verdade que permanece é que na cruz Nosso Senhor demonstra um tipo de Amor que não pode tomar outra forma quando é contraposto ao mal, senão a forma de dor.

Para vencer o mal com o bem, uma pessoa deve sofrer injustamente. A lição do Crucifixo então é que a dor nunca pode ser separada ou isolada do amor. O Crucifixo não significa dor; significa sacrifício. Em outras palavras, ele nos diz em primeiro lugar que dor é sacrifício sem amor e em segundo, que sacrifício é dor com amor.

Primeiro, dor é sacrifício sem amor. A Crucifixão não é a glorificação da dor pela dor. A atitude cristã da mortificação algumas vezes é mal interpretada como sendo uma idealização da dor… como se nos tornássemos mais agradáveis a Deus quando sofremos do que quando nos alegramos.

Não! A dor em si mesma não possui nenhuma influência santificante! O efeito natural da dor é nos individualizar, centralizar nossos pensamentos em nós mesmos e fazer de nossa enfermidade o pretexto para tudo quanto é conforto e atenção. Todas as aflições do corpo, tais como penitências e mortificações em si mesmo não tendem tornar o homem melhor. Aliás, frequentemente tornam o homem pior. Quando a dor é divorciada do amor ela leva o homem a desejar que os outros estejam como ele está, ela o torna cruel, cheio de ódio, amargura. Quando a dor não é santificada, ela deixa cicatrizes, queima todas as mais finas sensibilidades da alma deixando-a brutalmente desfigurada. Dor como simples dor então não é um ideal: torna-se uma maldição quando é separada do amor, pois ao invés de tornar uma alma melhor a torna pior.

Agora contemplemos o outro lado da figura. A dor não é para ser negada e nem pra fugirmos dela. É para ser encarada com amor e vivida como sacrifício. Analise sua própria experiência e verá que muitas vezes seu coração e mente lhe dizem que o amor é capaz de superar de algum modo seus sentimentos naturais acerca da dor, que algumas coisas que poderiam parecer dolorosas tornam-se alegria quando você percebe que podem beneficiar o próximo.

Em outras palavras, o amor pode transformar a dor em sacrifício agradável, o que é sempre uma alegria. Se você perde por exemplo, uma certa quantidade de dinheiro, tal perda não poderia ser aliviada pela compreensão de que talvez aquele dinheiro foi encontrado por uma pobre alma que tinha mais necessidade do que você? Se sua cabeça está latejando de dor e seu corpo extenuado por uma noite de vigília ao lado da cama de seu filho doente, não seria essa dor aliviada pelo pensamento de que foi através desse amor e devoção que aquela criança conseguiu superar a enfermidade? Você jamais poderia ter sentido aquela alegria e nem ter tido a mínima idéia do tamanho do seu amor se você tivesse se negado a fazer aquele sacrifício. E se o seu amor não estivesse presente, então aquele sacrifício teria sido apenas dor, incômodo e aborrecimento.

A verdade gradualmente emerge quando percebemos que a nossa profunda felicidade consiste no sentimento de que o bem ou benefício do próximo foi conquistado através do nosso sacrifício. O motivo por que a dor é amarga é porque não temos ninguém para amar e por quem nós deveríamos sofrer. O amor é a única força do mundo que pode tornar a dor suportável e a faz mais do que suportável ao transformá-la na alegria do sacrifício.

Agora, se a escória da dor pode ser transformada no ouro do sacrifício pela alquimia do amor, então daí se segue que nosso amor se torna mais profundo, a sensação de dor diminui e cresce nossa alegria no sacrifício. Mas não podemos esquecer que não existe amor maior do que o amor Daquele que entregou Sua própria vida por Seus amigos. Portanto, quanto mais intensamente nós amarmos os Seus santos propósitos, quanto mais zelosos formos por Seu Reino, quanto mais devotados formos pela maior Glória de Nosso Senhor e Salvador, mais nos alegraremos em qualquer sacrifício que possa trazer uma só alma para seu Sacratíssimo Coração. Tal é o motivo pelo qual São Paulo se gloriava em suas enfermidades e alegrias e que os Apóstolos se alegravam quando podiam sofrer por Jesus por quem eles tanto amavam.

Não é de se admirar que os maiores santos sempre disseram que a melhor e maior das graças que Deus havia concedido-lhes era o mesmo privilégio concedido ao seu Divino Filho: ser usado e sacrificado por uma causa mais elevada. Nada poderia dar-lhes maior satisfação do que renovar a vida de Cristo em suas próprias vidas, cobrir seus corpos com os mesmos sofrimentos sofridos por Cristo em Sua dolorosa Paixão. O mundo tenta eliminar a dor. O Crucifixo a transforma através do amor recordando-nos que a dor vem do pecado enquanto o sacrifício vem do amor e que não há nada mais nobre do que o sacrifício.

O Mundo não pode dispensar o Cristo em Sua Cruz. Eis o motivo porque o mundo é triste: por que se esqueceram de Cristo e da Sua Paixão. E quanto desperdício de dor há neste mundo! Quantas cabeças que padecem dos mais diversos tipos de dor sem jamais terem se unido à Cabeça coroada de espinhos pela Redenção do mundo; quantos pés latejam de dor sem jamais terem se aliviado pelo amor Daquele cujos pés subiram descalços a colina do Calvário; quantos corpos feridos existem que não conhecem o amor de Cristo por eles. Esses não conhecem o amor que pode aliviar suas dores. Quantos corações que sofrem e padecem porque não possuem aquele amor do Sacratíssimo Coração; quantas almas que só conseguem enxergar a cruz ao invés do Crucifixo! Almas que possuem dor sem sacrifício, almas que nunca aprendem que é pela falta de amor que a dor cresce, almas que perdem a alegria do sacrifício porque não sabem o que é amar. Oh! Quão doce é o sacrifício daqueles que sofrem porque amam o Amor que sacrificou-se por eles numa cruz. Apenas para essas almas é possível compreender os santos propósitos de Deus, apenas aqueles que caminham pela noite escura são capazes de contemplar as estrelas.

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Há 2 anos e meio, no dia 16 de março de 2020, o governador do Rio de Janeiro decretava medidas restritidas para o enfrentamento da COVID-19 no Estado. Começava ali um período de muitas provações, incertezas, perdas e inseguranças, não apenas para o Rio de Janeiro, mas para todo o Brasil.

Lembro do horror das primeiras semanas de lockdown. Pouco antes desse acontecimento, muitos moradores da cidade do Rio de Janeiro começaram a estocar água mineral em casa, diante do caso de geosmina nos reservatórios da CEDAE. Parecia um ensaio para o pandemônio. Depois do anúncio do Governo, muitas pessoas foram às compras de suprimentos diversos para uma temporada de reclusão dentro de casa.

Era assustador ver as ruas vazias, as pessoas trancafiadas dentro de casa. Os poucos que iam às ruas, saíam de máscaras e frascos de ácool gel, seguindo todas as recomendações dadas exaustivamente pelas emissoras de TV com especiais de exibição quase que de maneira ininterrupta em sua grade.

O medo tomou conta e um período tenebroso chegou efetivamente para a grande maioria das pessoas que não desfrutam de privilégios em maior ou menor grau. Muitos sofreram transtornos pelo isolamento, pela restrição do trabalho e a consequente falta de recursos para levar comida para casa e atender às necessidades da família; crianças perderam o convívio com os amigos; pais foram forçados a uma nova rotina de dedicação integral a seus filhos dentro de casa; salários foram reduzidos; empregos perdidos; relacionamentos desfeitos; transtornos emocionais e psíquicos decorrente do estado de medo, insegurança e incertezas do futuro; milhões de pessoas morreram, gente boa, gente má, rico, pobre, famoso ou desconhecido. Foram, e ainda são para muitos, dias de sofrimento.

E é sobre este tema que gostaria de meditar nas próximas linhas: o sofrimento. Vi muita gente lamentar vidas que se foram e que não pareciam merecer uma morte tão precoce; gente de bem que morreu enquanto tantas de caráter duvidoso permaneceram vivas; pessoas saudáveis ou de aparente saúde sofreram gravemente os sintomas dessa terrível doença enquanto tantos outros com comorbidades parecem ter pego apenas uma gripezinha.

E aí vem a questão que se aplica a toda situação de sofrimento que só quem está vivo sofre: por que os justos sofrem enquanto tantos ímpios vivem uma vida de conforto e fartura?

Essa é a grande reflexão do livro de Jó, no Antigo Testamento da Sagrada Escritura. Jó era um homem justo, próspero e de posses. Tinha uma família numerosa e um grande rebanho, sinais de prosperidade para os judeus de sua época. De repente, a tragédia se impõe sobre a sua vida e Jó perde seu rebanho, todos os seus bens, os seus filhos e a sua saúde.

Conta-nos o autor sagrado que em certa ocasião, depois de ouvir Deus elogiar o seu filho Jó, satanás afirma que Jó só é temente a Deus porque possui tudo o que necessita e goza de uma vida abastada. Bastaria que perdesse seus bens que Jó amaldiçoaria o seu Senhor.

Deus então permite que Satanás prove a fé de Jó, desde que nada fizesse contra a sua vida. E assim satanás o fez (Cf. Jo 1, 12).

Primeiro, foram levados os rebanhos de Jó; depois, a vida de seus filhos. Também sua saúde foi posta à prova, quando feridas acometeram seu corpo dos pés à cabeça. A dor o abateu e Jós rasgou suas roupas e raspou a cabeça em sinal de humilhação. Mas em nenhum momento Jó blasfemou Deus, pelo contrário, bendizia o nome do Senhor a todo momento: "Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor!" (Jo 1, 21).

No pensamento judeu daquela época, acreditava-se que, nesta vida, colhemos aquilo que plantamos. Se somos justos e retos, temos uma vida próspera; se somos ímpios, porém, sofremos as penas de nossos pecados. Se assim fosse, não testemunhariam tantas pessoas de bem, corretas e justas, que sofrem tragédias sem aviso prévio e, por outro lado, pessoas reconhecidamente más que desfrutam de uma vida repleta de bens, conforto e fartura.

Baseados nesse pensamento de que o justo prospera e o ímpio padece, surgem 3 amigos de Jó que o incentivaram a reconhecer suas culpas e seus pecados para redimir-se com Deus e ter a sua boa vida restabelecida. Jó, no entanto, insistia com firmeza de consciência de que nada fizera para merecer tanta desgraça.

Mesmo mantendo-se fiel a Deus e submisso à Sua vontade, a dor se impõe a Jó, que deseja comparecer parante Deus para questioná-lo, com toda a humildade, do porquê de tanto sofrimento se ele nada fizera para merecer. Mas de Deus Jó nada recebe além do silêncio.

Também em nossa vida muitas vezes nos sentimos como Jó. Nos esforçamos para viver uma vida correta e justa, mas parece que nada acontece de bom em nossa vida. Ao mesmo tempo, pessoas de muito pouco caráter conseguem viver os sonhos que nós desejaríamos viver. Somos acometidos por doenças, perdas irreparavéis de vidas, de bens ou de um emprego importante, provações de amigos, perseguições no trabalho, na vida acadêmica, na própria igreja. E, ao mesmo tempo, vemos pessoas levando uma vida desregrada gozando de felicidade e abundância.

E assim nos perguntamos: mas por quê? Por que comigo? Por que com aquela pessoa que eu amo e que faz tudo certinho?

O mesmo dilema que Jó viveu, também Jesus sofreu. O próprio Deus todo poderoso feito homem, que, para cumprir a promessa feita ao seu povo quanto à vinda do messias, tudo poderia fazer em seu favor, escolheu assumir a fragilidade da vida humana e escolheu, livremente, padecer as dores da flagelação e se submeter, livremente, à morte de Cruz. Jesus, que como o próprio Pilatos reconheceu, nenhum mal cometera para merecer tal condenação, mesmo sendo justo, sofreu imensamente mesmo sem merecer.

Depois de muito sofrer e permanecer sempre fiel e submisso a Deus, Jó tem todos os seus bens restituídos em dobro, seus bens e seus filhos. A conclusão de Jó é que nada nem ninguém pode perscrutar a sabedoria divina. Deus é mistério. Também o sofrimento o é. Deus permite que o sofrimento se precipite sobre nossas vidas, não para nos punir de nossos pecados, mas como remédio do próprio mal, para que o próprio sofrimento leve os seus filhos de volta à intimidade com Deus, aos Seus cuidados. O homem não sofre unicamente para pagar um tributo à justiça, mas para se purificar do pecado e para voltar ao Pai com Cristo, que é o Sumo Bem, a Suma Felicidade.

Compreender esse mistério não torna magicamente nossa vida mais fácil.

Como podemos, então, enfrentar o sofrimento com caridade, fé e esperança?

Bom, existe um caminho muito claro. Na verdade, "O" caminho. Jesus nos revela no capítulo 14 do Evangelho de São João:

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim".
Jo 14, 6

Jesus faz essa revelação na Última Ceia, momento de grande aflição entre seus amigos e discípulos, pois acabara de revelar que seria traído. Mas Jesus também os consola.

"Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim".
Jo 14, 1

Novamente, Jesus deixa o mesmo consolo no versículo 27 do mesmo capítulo:

"Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!".
Jo 14, 27

Jesus é quem dá paz ao nosso coração. Ainda que tudo ao nosso redor pareça desmoronar, ainda que, materialmente, nossa vida não seja como gostaríamos, podemos viver os nossos dias com o coração em plena paz. Você provavelmente já conheceu alguém, seja pessoalmente ou através de outras obras, que mesmo com uma vida cheia de obstáculos, provações e sofrimentos, era capaz de sorrir e dar amor a outros à sua volta.

Como nos diz o salmo 90:

"Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita: tu não serás atingido".
Sl 90(91), 7

Ou ainda o salmo 22:

"Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo".
Sl 22(23), 4

Esse deve ser o nosso caminho: Jesus. Ele nos recomenda: "permanecei em mim e eu permanecerei em vós" (Jo 15, 4). E ainda: "Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto" (Jo 15, 5). Esses frutos são espirituais, que nos garantirão a paz e a felicidade, independentemente de nossas circunstâncias nessa vida, e a vida eterna junto de Deus que é o Sumo Bem.

Um homem rico desejoso em alcançar a vida eterna, perguntou a Jesus o que deveria fazer, uma vez que já observava fielmente os mandamentos da Lei Mosaica. Jesus então diz:

"Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me".
Lc 18, 22

Incapaz de fazer o que Jesus lhe propôs, o jovem retirou-se com tristeza. Para obter as graças da eternidade, a paz e a felicidade que tanto desejamos, devemos nos desapegar dos bens materiais, aceitar os sofrimentos que nos são impostos e carregar a nossa cruz:

"Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, irá salvá-la".
Lc 9, 23-24

Alguém com o coração ainda endurecido poderia dizer: "na teoria isso é fácil, mas na vida real não é assim tão simples!"

Bom, propor alguns conselhos práticos tirados tanto da Sagrada Escritura como da própria Sagrada Tradição da Igreja que nos ajudam a carregar a nossa cruz, quem em nada se compara à Cruz que Cristo carregou por nós.


Primeiro conselho: sejamos fiéis!

Fiéis a Deus, fiéis aos nossos compromissos, às nossas responsabilidades, nas pequenas coisas do nosso dia-a-dia. Assim, se formos fiéis nas coisas mais ordinárias da vida, também seremos fiéis nas maiores provações, como Jó permaneceu fiel a Deus e teve toda a sua sorte restaurada.

"Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas o será também nas grandes".
Lc 16, 10


Segundo conselho: busquemos a pureza de coração

Procuremos manter a pureza dos pequeninos em nossos corações, para que nos afastemos dos vícios capitais (avareza, gula, inveja, luxúria, preguiça, ira e soberba) que trazem a desordem ao nosso espírito. Afinal, "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!" (Mt 5, 3).

"Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham".
Mt 19, 14


Terceiro conselho: amar ao próximo

Suportar nosso próximo em suas necessidades, viver a caridade, doar-se aos mais necessitados. Toda vez que agimos desse modo a outros que mais necessitam, é ao próprio Cristo que fazemos estes bens e, assim, seremos recompensados pelas graças de Deus.

"Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes".
Mt 25, 40

"Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo".
Jo 15, 12


Quarto conselho: vida sacramental

Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações) estabelecidos pelo próprio Cristo para a santificação da nossa alma. Recebendo os sacramentos, especialmente os da confissão e a Eucaristia, fortalecemos o nosso espírito para o enfrentamento de todas as provações que se impõem sobre nossa vida.

"Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e acções), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam, em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo".
CIC, 1084


Quinto conselho: vida de oração

Vemos no Novo Testamento diversos relatos de Jesus se retirando a sós para orar a Deus Pai. Não é preciso grande conhecimento da escritura ou palavras articuladas para elevar nossa oração a Deus. Apenas um coração aberto, sincero e fiel.

Na tradição da Igreja católica, desde os Apóstolos, Nossa Senhora é tida como nossa intercessora e medianeira de todas as graças. Aquela que é a bem aventurada e repleta de graças (Lc 1, 28-30), conduz todos os filhos de Deus ao seu Filho dado por Deus, que é o próprio Deus feito homem. Através da oração do Santo Rosário, meditamos toda a vida de Jesus. Ainda que seja a repetição de orações prontas, é impressionante como, de fato, Nossa Senhora transforma o nosso coração e nos leva para mais perto de Jesus.


Sexto conselho: ter um santo de devoção

Jesus é o Santo dos Santos e é Ele quem opera milagres na vida dos filhos de Deus. Sua vida é o grande exemplo que devemos seguir, mas, mesmo tendo-o como principal exemplo, o Deus feito homem habitou a Terra em um momento histórico específico e um contexto cultural próprio. Jesus assumiu em tudo nossa humanidade, exceto no pecado.

Eu e você somos pecadores e é, de fato, muito difícil imitar Jesus no nosso dia-a-dia, com contextos e desafios próprios do nosso tempo. Nem tudo o que vivemos hoje foi vivido por Jesus para que tivéssemos um modelo para saber como agir.

Nos santos encontramos exemplos de santidade que se assemelham a Cristo, pela sua fidelidade, obediência e devoção a Deus. Em contexto culturais e históricos mais próximos ao nosso e também com temperamentos e situações do quotidiano mais próximos aos nossos, encontramos na vida dos santos exemplos que podem nos inspirar e nos orientar e nos aproximarmos a Cristo. Também podemos contar com a intercessão dos santos, que vivem na eternidade junto de Deus e intercedem em nosso favor.


Para fechar essa reflexão, gostaria de propor aqui uma bela canção. Nela, Israel Salazar, cantor gospel, pede a Deus a fé inabalável de Jó, que tanto lutou, tanto sofreu e jamais murmurou contra o Deus todo poderoso. Desejo que a mesma fé de Jó, a mesma fé de Israel Salazar e de tantos cristãos espalhados pelo mundo possa habitar no seu coração e trazer a paz que Cristo nos promete e concede.

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