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Ele recapitulou também em si a obra modelada no princípio.

21,10. Como pela desobediência de um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, assim pela obediência de um só homem foi introduzida a justiça que traz como fruto a vida ao homem morto. E como a substância de Adão, o primeiro homem plasmado, foi tirada da terra simples e ainda virgem — “Deus ainda não fizera chover e o homem ainda não a trabalhara” (Gn 2, 5) — e foi modelado pela mão de Deus, isto é, pelo Verbo de Deus — com efeito, “todas as coisas foram feitas por ele”, e o “Senhor tomou do lodo da terra e modelou o homem” (Gn 2, 7) —, assim o Verbo que recapitula em si Adão, recebeu de Maria, ainda virgem, a geração da recapitulação de Adão. Se o primeiro Adão tivesse homem por pai e tivesse nascido de sêmen viril teriam razão em dizer que também o segundo Adão foi gerado por José. Mas se o primeiro Adão foi tirado da terra e modelado pelo Verbo de Deus, era necessário que este mesmo Verbo, efetuando em si a recapitulação de Adão, tivesse geração semelhante à dele. E, então, por que Deus não tomou outra vez do limo da terra, mas quis que esta modelagem fosse feita por Maria? Para que não houvesse segunda obra modelada e para que não fosse obra modelada diferente da que era salvada, mas, conservando a semelhança, fosse aquela primeira a ser recapitulada.

22,1. Erram, portanto, os que sustentam que o Cristo nada recebeu da Virgem, para poder rejeitar a herança da carne; mas rejeitam assim, ao mesmo tempo, a semelhança. Com efeito, se aquele primeiro recebeu a sua modelagem e substância da terra pela mão e arte de Deus e este não, então não conservou a semelhança com o homem que foi feito à imagem e semelhança de Deus, e o Artífice pareceria inconstante e sem nada que demonstre a sua sabedoria. Isto quer dizer que ele apareceu como homem sem sê-lo realmente e que se fez homem sem tomar nada do homem! Mas se não recebeu de nenhum ser humano a substância da sua carne, ele não se fez nem homem, nem Filho do homem. E se não se fez o que nós éramos, não tinha importância nem valor o que ele sofreu e padeceu. Ora, não há quem não admita que nós somos feitos de corpo tirado da terra e de alma que recebe de Deus o Espírito. E é isso que se tornou o Verbo de Deus ao recapitular em si mesmo a obra por ele plasmada, e é este o motivo pelo qual se declara Filho do homem e declara bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Por seu lado, o apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, disse abertamente: “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher”; e na carta aos romanos diz: “…acerca do seu Filho, que nasceu da posteridade de Davi, segundo a carne, declarado Filho de Deus, com poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso” (Gl 4,4; Rm 1,3-4).

22,2. De outra forma, a sua descida em Maria seria supérflua; pois para que desceria nela se não devia receber nada dela? Se não tivesse recebido nada de Maria então nunca teria tomado alimentos terrenos com os quais se alimenta um corpo tirado da terra; após o jejum de quarenta dias, como Moisés e Elias, seu corpo não teria experimentado a fome e não teria procurado alimento; João, seu discípulo, não teria escrito: “Jesus, cansado pela caminhada, estava sentado”; nem Davi teria dito dele: “E acrescentaram sofrimento à dor das minhas feridas”; não teria chorado sobre o túmulo de Lázaro; não suaria gotas de sangue, nem teria dito: “A minha alma está triste”; (Jo 4,6; Sl 69,27; Mt 26,38) e de seu lado transpassado não teriam saído sangue e água. Tudo isso são sinais da carne tirada da terra, que recapitulou em si, salvando a obra de suas mãos.

22,3. Por isso Lucas apresenta genealogia de setenta e duas gerações, que vai do nascimento do Senhor até Adão, unindo o fim ao princípio, para dar a entender que o Senhor é o que recapitulou em si mesmo todas as nações dispersas desde Adão, todas as línguas e gerações dos homens, inclusive Adão. Por isso Paulo chama Adão figura do que devia vir, porque o Verbo, Criador de todas as coisas, prefigurara nele a futura economia da humanidade de que se revestiria o Filho de Deus, pelo fato de Deus, formando o homem psíquico, ter dado a entender que seria salvo pelo homem espiritual. Por isso, visto que já existia como salvador, devia tornar-se quem devia ser salvo,249 para não ser o Salvador de nada.

22,4. Da mesma forma, encontramos Maria, a Virgem obediente, que diz: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, e, em contraste, Eva, que desobedeceu quando ainda era virgem. Como esta, ainda virgem se bem que casada — no paraíso estavam nus e não se envergonhavam, porque, criados há pouco tempo ainda não pensavam em gerar filhos, sendo necessário que, primeiro, se tornassem adultos antes de se multiplicar —, pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da salvação. É por isso que a Lei chama a que é noiva, se ainda virgem, de esposa daquele que a tomou por noiva, para indicar o influxo que se opera de Maria sobre Eva. Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois dos segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam os primeiros: acontece que o primeiro é desfeito pelo segundo e o segundo é desfeito em primeiro lugar.

Eis por que o Senhor dizia que os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros. E o profeta diz a mesma coisa: Em lugar dos pais nasceram filhos para ti. Com efeito, o Senhor, o primogênito dos mortos, reuniu no seu seio os patriarcas antigos e os regenerou para a vida de Deus, tornando-se ele próprio o primeiro dos viventes, ao passo que Adão fora o primeiro dos que morrem. Eis por que Lucas, iniciando a genealogia a partir do Senhor subiu até Adão, porque não foram aqueles antepassados que lhe deram a vida, e sim foi ele que os fez renascer no evange-lho da vida. Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé.250

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249: Devia tornar-se quem devia ser salvo”, isto é, devia tornar-se homem histórico. Aqui outra vez vem evidenciado que, para além do pecado, o Verbo haveria de se encarnar (ver, neste sentido, IV,14,1). Convém ter presente que para Ireneu “salvar” significa primariamente “unir o homem a Deus”, “dar-lhe a incorruptibilidade”, “elevá-lo à ordem sobrenatural”. A salvação forma parte do plano inicial do Criador, que quer a criatura participando de sua glória. O pe-cador será redimido, re/plasmado, refeito em Cristo em vista do plano salvífico de Deus. Assim — como diz José Ignácio Gonzales Faus — o Redentor não veio combater o Criador, mas levar a cumprimento sua obra (posta em perigo).

250: O paralelo entre Eva e Maria (análogo ao de Adão e Cristo, segundo S. Paulo) pertence, originariamente, a S. Justino. Ireneu o desenvolve, encontrando na redenção as etapas da redenção exatamente “sub specie contrario”. Outra afirmação teológica importante: a “recirculatio” (isto é: o percorrer outra vez um caminho, porém em sentido inverso). No caso: de Eva a Maria existe um caminho de degeneração e desobediência; de Maria a Eva, um caminho de obediência e regeneração. Esta “recirculatio” está forte e primariamente subordinada à “recirculatio” mais original presente em Cristo e Adão. Cristo, encarnado/ressuscitado, é a meta recapituladora de toda a criação, já prefigurada em Adão.

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"Primeiramente, devemos retornar à história e a caminhada da Igreja com os seus dois pulmões: Oriente e Ocidente. O Mês Mariano no Oriente mais antigo foi celebrado, desde o século XIII, em agosto, considerado o Mês Mariano por excelência para a tradição oriental, já que os bizantinos tinham a festa da Dormição de Maria (Assunção) como a maior festa mariana. Esta celebração, em 15 de agosto, era precedida por 14 dias de preparação como um tempo de penitência e jejum, também chamado de pequena Quaresma da Dormição. Ao longo deste tempo, todas as noites recitava-se o Ofício da Paraklísis em honra da Virgem; e os 15 últimos dias – chamados pós-festa methaeorté – se fazia comemorar até o fim do mês os ritos e as celebrações em honra da Mãe de Deus, Theotokos. Já para os coptas, que são os cristãos do Egito, o Mês Mariano, chamado kíahk, era estruturado em torno do Natal.

No Ocidente, a escolha do mês de maio tem muito a ver com o início da primavera no Hemisfério Norte, onde existiam muitas tradições populares nos vários povos da Europa. Neste mês, as flores florescem e já era uma tradição antiga no paganismo os “ludi floreales” ou “florealia”, festejos propiciatórios em honra a deusa da vegetação “Flora Mater”. Tais festejos consistiam em cantos, cortejos de jovens com ramos floridos e enfeites naturais, onde era comum se escolher a “rainha da primavera”. Com a expansão do cristianismo e a cristianização da Europa, já no começo da Idade Média até o Renascimento, as flores e o renascimento da vida foram identificados com a Mulher mais bendita e santa de todas as mulheres, a Mãe de Jesus. Assim os cristãos começavam a prestar louvores mais intensos no mês de maio. O primeiro cristão que associou o mês de maio à figura de Maria foi Afonso X, o Sábio, Rei de Castela e Leon + 1284, século XIII.

Depois, o Beato Henrique Suso de Constância (+1336), dominicano, compôs as famosas “saudações”, mediante as quais dedicava à Virgem a primavera.

Em Paris, no século XIV, a corporação dos ourives costumava levar à Catedral de Notre-Dame um “maio”, que é uma planta adornada com pedras preciosas.

Em 1549, o monge beneditino Wolfang Seidl (+1562) publicou em Munique (Alemanha), um esboço do Mês Mariano. Em Roma, o Mês Mariano começou a tomar corpo graças a ação pastoral de São Filipe Néri e a evangelização realizada por ele junto aos jovens e adolescentes nos oratórios, onde os ensinava a ornarem de flores as imagens da Virgem Maria e a cantarem músicas em sua honra. Ele os incentivava a orarem mais, a fazerem penitência e a imitarem suas santas virtudes.

O iniciador do mês de maio, no sentido mais moderno, vem dos jesuítas com o incentivo às práticas cotidianas de A. Dionisi S.J., educador e diretor de almas, com o seu mês de Maria, publicado em Verona, em 1725. Este foi um incentivo, também, às Congregações Marianas, e para que até nas casas se fizesse um altarzinho em honra à Mãe de Jesus, para que os devotos pudessem enfeitá-lo e rezar diante dele. O mês de maio foi também tendo o incentivo para se tornar mês de missões populares e o jesuíta, padre Lalomia, propunha leituras e considerações sobre a vida, privilégios e virtudes de Maria.

Os Papas Pio VII, em 1815, Gregório XVI, em 1833, e Beato Pio IX, em 1859, conferiram indulgências para este mês. Ligado a esta dimensão agrícola, ao renascimento da vida e dos vegetais, maio tornou-se, assim, o Mês Mariano por excelência. Também, desde Pio XII, São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI, até o atual Pontífice, Papa Francisco, sempre foi estimulado o amor dos cristãos católicos, manifestado de modo concreto neste mês de maio".

Resposta do Pe. Adilton Pinto Lopes, pároco e reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Arquidiocese de Salvador (BA), doutor em Mariologia e professor de outras disciplinas de Teologia Dogmática do Instituto de Teologia da Universidade Católica do Salvador, à pergunta feita pelo Setor Comunicação da Arquidiocese.

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